Sete anos depois da devastação e morte causada pelos incêndios florestais em Pedrógão Grande, e passada a consternação nacional, a data é uma efeméride de desfile de políticas, tal como tem vindo a ser nos últimos anos. Se no ano passado havia a polémica acerca de quem tinha sido ou não convidado para a inauguração do memorial, - uma fonte gigante - hoje e já sem os holofotes mediáticos, o dia foi cinzento, até frio mas sempre triste.
Os bombeiros juntaram-se hoje em Figueiró dos Vinhos para debater o seu futuro. Mas o cenário que traçaram é o da desertificação e abandono do território. Não há habitantes, não há quem cuide da floresta e, muito mais significativamente, não há pessoas que queiram ser "soldados da paz", pois acabam por todos os anos ir à "guerra" sem condições nem reconhecimento. Poucos são os que ainda se aventuram no combate aos fogos rurais como bombeiro voluntário e nestes três municípios do norte da Região de Leiria, não existem corporações de bombeiros profissionais. Nas conclusões do encontro, retirou-se essa necessidade e ouviu-se a promessa governamental da profissionalização e da criação de uma carreira de bombeiro profissional reconhecida.
Sem a presença do primeiro-ministro, que assinalou a data com um breve texto de duas frases nas redes sociais, o dia manteve a solenidade das cerimónias religiosas e civis, com representação governamental pela Ministra da Juventude e do Secretário de Estado da Proteção Civil.
Condições raras que poderão repetir-se?
Já a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, representada pelo diretor, Duarte Costa, voltou a lembrar que ninguém pode prever se as condições de 2017 se irão repetir, mas assegurou mais uma vez que as comunicações nos dias de hoje já têm capacidade de redundância para não falharem, nomeadamente, o SIRESP - sistema que foi "reestruturado".
Sete anos depois, sabemos que a falha nas comunicações foi uma das principais preocupações dos bombeiros, entidades oficiais e autoridades envolvidas no combate às chamas. Ao início da madrugada começavam a chegar as notícias da morte de uma pessoa, depois três...mais tarde, falava-se em "pelo menos" seis vítimas mortais. No dia seguinte, as cinzas enlutavam cidades a muitos quilómetros. Portugal estava em choque. No fim do verão do mesmo ano, a 15 de outubro, e de uma forma que já todos consideravam improvável, a tragédia repetiu-se.
Naquela mesma "noite" juntaram-se muito calor, baixa humidade e risco máximo de incêndio em Portugal, mas nada faria prever o fenómeno raro que iria provocar a morte a 66 pessoas e ferimentos a centenas. Vidas consumidas, a maior parte numa estrada secundária, num interior que "só é notícia quando arde".
O trauma dos fogos florestais em Portugal tomou, como as próprias chamas daquela noite, dimensões imensuráveis. Transformou-se em assunto nacional, mudou a forma de olharmos as alterações climáticas, obrigou à reestruturação de meios, processos e medidas de prevenção e de combate pela proteção civil. Mudou também protagonistas políticos, comoveu o país e o mundo e obrigou à criação de leis e pela primeira vez, mas infelizmente não pela última, colocou Portugal em Estado de Emergência.
Na estrada da morte, estudos para o fim do verão
Ao fim da tarde daquele dia 17 de junho, o IC8 estava cortado e a circulação fazia-se por estradas secundárias. De uma dessas estradas, a EN-236-1 já nos concelhos de Figueiró dos Vinhos e Castanheira de Pera, chegaram relatos do horror que em poucos minutos destruiu o que encontrou, deixando cinzas.
Esta via, que é extensa e continua a ser a principal ligação do litoral centro à Beira Interior, nomeadamente, entre a Figueira da Foz e Castelo Branco, já carregava uma pesada história de morte e luto, pelos inúmeros acidentes rodoviários, desde a sua construção na década de 1990. A partir de 2017 fica indelevelmente ligada à tragédia maior e é precisamente sete anos depois, que na visita do Governo atual, é anunciado um estudo para a requalificação da estrada, a apresentar depois do verão, em setembro deste 2024.
Por antecipação, o Presidente da República, que em 2017 marcou presença junto aos governantes da altura e muitas vezes apareceu a abraçar familiares das vítimas, decidiu este ano sofrer por antecipação e comemorar o Dia de Portugal nestes territórios, antes de partir para a Suiça para o mesmo propósito na primeira deslocação de Estado com o primeiro ministro da AD.
Da solidariedade para com as vítimas e na reconstrução de habitações, muita tinta correu, desde polémicas mediáticas a processos judiciais. Hoje, o anúncio govermanental prometeu reafetar as verbas do Fundo Revita, com cerca de um milhão de euros, ao território dos concelhos afetados naquele junho.
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