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Em entrevista à Lusa, em Roma, onde reside, Pedro Louro elogiou a “conversão à fraternidade” que está no centro da gestão do pontificado de Francisco, mas admitiu que o discurso nem sempre é acompanhado por mudanças concretas imediatas.
“Tenho pena, porque o Papa Francisco, nas palavras, às vezes vai além daquilo que depois consegue fazer na prática. Quando se ouvem diversos discursos do Papa Francisco, perguntamos quando é que isto será verdade?” – questionou o sacerdote, natural de Cardigos, Mação.
No entanto, destaca o esforço de diálogo interno promovido pelo líder da Igreja Católica, com todos os quadrantes, conservadores ou progressistas.“O que é a fé? É um saco de tradições ou uma relação viva?”, reflete o missionário. De facto, acredita que “às vezes é mais importante o processo que se inicia do que a decisão que se toma” no final.
Em Roma desde 2016, Pedro Louro é o número dois deste instituto religioso, com pouco mais de 900 missionários espalhados por três dezenas de países. Em entrevista, nota ainda o esforço da abertura, através do projeto de Sinodalidade, que mostrou que o “Papa Francisco teve uma atitude muito especial, em relação aos Papas que existiam anteriormente”.
O discurso do Papa Francisco na promoção da mudança
“Todos ajudaram a Igreja num caminho de renovação em muitos aspetos”, mas “o Papa Francisco tem ajudado a Igreja, sobretudo, a fazer uma conversão à fraternidade, não olhando tanto para a fé católica como o conjunto dos ritos que se fazem”, mas como “uma Igreja que vive profundamente da fraternidade”, explicou.
Esta prática de abertura interna também responde às críticas feitas por vários setores e movimentos da Igreja que “procuram viver o Evangelho na humanidade do dia-a-dia” e criticam o discurso cristalizado perante o mundo que está sempre em mudança.
Desde o Concílio Vaticano II, na década de 1960, Predo Nuno lembra que este é o momento em que se sente mais este diálogo interno, e admite que todo “o processo é irreversível” e vai depender daquilo que os próprios protagonistas da Igreja quiserem.
O sacerdote considera ainda que as decisões do Papa, que está internado na clínica Agostinho Gemelli, desde o dia 14 de fevereiro, terão de ser depois confirmadas e reguladas em alterações ao código de direito canónico, refletindo grande parte destas propostas.
Uma Igreja focada na "direção, para onde a gente vai"
“Eu acho que é injusto que se fale de direita e esquerda [na Igreja], o que se deveria realmente falar é de direção, para onde a gente vai”.
Hoje, assiste-se à “fragmentação da sociedade em praticamente todas as instituições”, num sistema em que se “elogia o individualismo porque o indivíduo é muito mais fácil de controlar pelos grandes interesses” e uma “opinião fragmentada é mais fácil de manipular”.
Desde 6 de janeiro que o dicastério que regula os institutos religiosos é liderado por uma mulher, um sinal também de abertura ao papel das mulheres, que também ocupam mais dois postos importantes na Cúria, na estrutura que gere as finanças e no governo direto da Santa Sé.
A prefeita do Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica é Simona Brambilla, irmã da Consolata, que Pedro Louro conhece bem.
Para o secretário-geral, a questão não é tanto o género de quem está nas funções, mas a sua condição de origem: “Será que quem serve nos serviços da Igreja deve ser ordenado (sacerdote)?” – questiona.
Três mulheres ocupam os “únicos três lugares” que poderiam ser desempenhados por não ordenados “sem haver grande ‘bruá’”, salientou Pedro Louro. Mas “o serviço [à Igreja] é algo muito mais profundo” e a hierarquia deve discutir quais são as exigências prévias adequadas.
“As mulheres trazem à Igreja a ternura e a capacidade de cuidar” e “isso é muito importante no serviço que é necessário”, acrescentou.
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