A notícia está a ser avançada pela imprensa brasileira.
Segundo a Globo, Michel Temer foi detido esta quinta-feira e os agentes da operação Lava Jato tentam ainda cumprir um mandado contra Moreira Franco, ex-ministro de Minas e Energia. Ambos os mandados foram expedidos pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro.
Segundo a mesma publicação, os agentes procuravam saber a localização de Michel Temer desde ontem, sem sucesso, o que atrasou a operação prevista para as primeiras horas desta quinta-feira. Temer foi detido em São Paulo e será levado até ao Rio de Janeiro num avião da Polícia Federal.
A Folha de São Paulo acrescenta que o ex-ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) também é alvo da operação e detalha que a prisão de Temer tem por base uma delação de Lucio Funaro, obtida no âmbito de uma delação premiada. Segundo a mesma publicação, entre os documentos fornecidos por Funaro estão referências a dinheiro passado pela Odebrecht ao MBD, partido que liderou, em 2014.
Na sua longa trajetória política Michel Temer não evitou ver-se envolvido em denúncias de corrupção.
Investigações feitas pela Polícia Federal em 2009 encontraram o seu nome citado em documentos da empreiteira Camargo Corrêa como suposto favorecido de transferências irregulares. Em 2014, a Operação Lava Jato, que investiga esquemas de corrupção na petrolífera Petrobras, descobriu novos documentos que também apontavam para Temer como beneficiário de transferências de dinheiro cuja origem não foi esclarecida. O político também foi citado em delações premiadas (colaboração com a Justiça em troca de reduções de pena) de vários empreiteiros e do ex-senador Delcídio do Amaral. Isto não o impediu, no entanto, de assumir a Presidência do Brasil.
Michel Temer foi substituído na Presidência por Jair Bolsonaro, que tomou posse em janeiro deste ano.
Quem é Michel Temer?
O político conservador Michel Temer, de 78 anos, foi empossado como Presidente do Brasil a 31 de agosto de 2016, depois de Dilma Rousseff ter sido destituída do cargo.
Político de longa carreira, Michel Temer tornou-se o segundo Presidente a chegar ao poder sem ser eleito por voto popular após a redemocratização do Brasil na década de 1980.
A subida ao poder de Michel Temer, que era vice-presidente do governo de Dilma Rousseff, aconteceu após uma reviravolta política desencadeada por uma das maiores crises económicas e institucionais do Brasil, agravada com denúncias de corrupção contra empresários e políticos brasileiros, muitos destes membros do Governo anterior do Partido dos Trabalhadores (PT).
Michel Temer ocupava interinamente a Presidência do Brasil desde 12 de maio de 2016, quando Dilma Rousseff foi suspensa no decurso do processo de destituição que culminou com o seu afastamento. Em poucos mais de 100 dias de governo interino, Michel Temer anunciou que sua prioridade era recuperar a economia brasileira introduzindo reformas na regulação dos gastos públicos e no sistema de aposentações.
O ex-Presidente brasileiro era considerado um homem com orientações políticas conservadoras e hábil articulador político.
Eleito vice-presidente pela segunda vez na candidatura de Dilma Rousseff em 2014, Michel Temer sinalizou em 2015 a sua rutura com o programa da então Presidente quando enviou uma carta a Dilma Rousseff na qual se autodenominava um "vice decorativo" e dizia que nunca teve poder para atuar, nem a confiança dos membros do Governo.
O conteúdo da carta espalhou-se rapidamente e foi um passo decisivo para a rutura política que seria confirmada em março pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB).
Em poucos meses, Michel Temer ganhou visibilidade, conquistou o apoio a maioria os membros do PMDB, de políticos de outros partidos, de empresários e de parte da população que embora não o apoiasse diretamente, considerava-o uma alternativa credível ao PT.
Filho de libaneses que emigraram para o Brasil na década de 1920, Michel Temer foi criado na cidade de Tiete, interior do Estado de São Paulo. Terminou os estudos secundários em São Paulo, onde também se formou na Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Manifestou interesse na política ainda na faculdade, mas manteve-se afastado durante o governo militar adotando uma postura neutra e dedicando seu tempo aos trabalhos de advogado, professor universitário e escritor.
Filiou-se no PMDB em 1981 e entrou efetivamente para a vida pública quando se tornou chefe da Procuradoria-Geral do Estado de São Paulo em 1983, assumindo posteriormente a Secretaria de Segurança Pública do Estado. Disputou a primeira eleição em 1986, quando se candidatou ao cargo de deputado federal constituinte, ocupando a posição de suplente, mas ocupando o lugar durante os trabalhos que aprovaram a Constituição do Brasil em 1988, em vigor até hoje.
A sua ascensão consolidou-se em 1994, quando foi escolhido para líder do PMDB na Câmara dos Deputados, a câmara baixa do parlamento. Com o apoio do ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso, tornou-se também presidente da Câmara dos Deputados, cargo que ocupou por três vezes.
Em 2001, Michel Temer foi eleito Presidente Nacional do PMDB e levou o partido para a base de apoio do Governo PT no segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva.
Temer assumiu a Presidência em agosto de 2016, tendo sido substituído no cargo pelo atual Presidente, Jair Bolsonaro, que foi eleito numa segunda volta, a 28 de outubro de 2018, com 55,13% dos votos, derrotando o candidato do PT Fernando Haddad.
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