Especialista em Medicina Geral e Familiar, António Cruz trabalha há vários anos no serviço de Urgência do hospital de Santo André, do Centro Hospitalar de Leiria (CHL), onde é confrontado com os lamentos dos utentes, que relatam dificuldade em adquirir alimentos, vestuário e outras necessidades básicas.
O médico afirma que, por vezes, a fragilidade da doença é o resultado de "problemas financeiros ou familiares".
"Fui procurando ajudar e envolver as pessoas que estavam à minha volta, perguntando se tinham isto ou aquilo para doar", revelou António Cruz, que percebeu que só isso não chegava.
Mais tarde, lembrou-se de tirar partido do alcance das redes sociais e criou no Facebook a página Leiria Solidária, que já tem cerca de 6.700 membros.
António Cruz, que também faz serviço no Regimento de Artilharia n.º 4 (RA4), em Leiria, constatou que a página é uma forma de estabelecer ligação entre quem precisa e quem pode ajudar. "Não é necessário dar a cara. Pode ser outra pessoa a pedir apoio e depois é tudo tratado por mensagem privada", exemplificou.
Na maioria das vezes, os pedidos de ajuda são satisfeitos: "Não damos dinheiro, apenas bens".
O objetivo é ainda criar-se uma "entreajuda" entre todos. Ou seja, quem recebe apoio pode também contribuir para outros com pequenos serviços, como canalização ou pintura, ou até doar bens de que já não precisa, mas que podem servir outros.
Ao longo de cinco anos já foram ajudadas centenas de pessoas. "Os portugueses são muito solidários, mesmo sendo um pouco individualistas. Ninguém fica indiferente às desgraças e todos querem ajudar".
Aliás, a solidariedade deste grupo não ficou indiferente aos incêndios que afetaram Pedrógão Grande, em junho de 2017, e um paiol do RA4 foi pequeno para receber as ajudas que chegaram de todo o país.
António Cruz, 61 anos, nasceu no Rio de Janeiro, mas é filho de portugueses, com raízes em Mortágua. Aos 14 anos mudou-se com a família para Portugal, fixando-se em Coimbra.
Enveredou pela carreira de médico porque "queria ajudar os outros" e é o que hoje continua a procurar fazer. "Na urgência se passar e vir um idoso a sofrer procuro confortá-lo de alguma maneira”.
Também o avó era solidário. Todos os anos dava guarida e comida aos peregrinos de Fátima que passavam perto de Mortágua, acabando por apelidarem a localidade de ‘barracão' por ser o local onde pernoitavam.
O objetivo de António Cruz é estender o grupo para outras cidades, podendo criar-se as páginas de Coimbra Solidária ou Marinha Grande Solidária.
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