"Passport Bros: Guia para conseguir uma latina em Medellín", promove uma publicação no TikTok de Austin Abeyta que, com meio milhão de seguidores, sorriso largo e boné dá dicas sobre encontros com mulheres e vida de um nómada digital.

Assistir a eventos para pessoas que queiram aprender inglês ou convidar raparigas bonitas para almoçar ou jantar, segundo Abeyta, são alguns passos estratégicos para conseguir um encontro romântico na segunda maior cidade da Colômbia.

Com membros originários dos Estados Unidos e da Europa, esta comunidade garante que as mulheres em seu redor são influenciadas por um feminismo "hostil".

"Nos Estados Unidos as mulheres são altivas, egoístas e exigentes", escreve um utilizador num fórum na rede Reddit com 32.000 membros.

Partilham em diversas plataformas as suas experiências sobre países menos desenvolvidos, como Colômbia, México, Brasil, Tailândia e Filipinas, onde dizem ter sucesso, segundo menções frequentes.

Embora a prostituição seja legal na Colômbia, "qualquer tema de proxenetismo é um delito", explica o secretário de Segurança de Medellín, Manuel Villa.

Segundo o próprio, as autoridades já monitorizam "grupos digitais onde se evidencia o fomento" do turismo sexual. Por enquanto, o município não associou a chegada recente dos Passport Bros a abusos ou ao tráfico de pessoas.

Risco de tráfico de pessoas

A vida noturna, o clima primaveril e os preços baixos fazem de Medellín um dos principais destinos para nómadas digitais, pessoas que trabalham enquanto viajam.

"Vim a Medellín para o que todos vimos a Medellín e sobre o que ninguém quer falar. Ele é o homem para a sua viagem", diz em inglês um jovem na icónica Praça Botero, ao lado do americano Wilkens Fervil, conhecido como "Passport Dog".

Fervil, autoproclamado Passport Bro, oferece "tours" a homens na Colômbia. "Excursão pelo clube de striptease. Levo-os da periferia aos terraços, para arranjar raparigas", diz noutra publicação.

Os seus conteúdos mostram festas em apartamentos e descrições explícitas de encontros com prostitutas.

A AFP tentou, sem sucesso, entrar em contacto com Fervil.

A narrativa que descreve as mulheres latinas como "mais dóceis, mais femininas" baseia-se em "estereótipos" e representa um risco potencial, pois "permite que o tráfico de pessoas e a exploração sexual continue a crescer", assegura Danitza Marentes, diretora da Valientes Colombia, uma organização que ajuda vítimas de tráfico de pessoas em Medellín.

Também "aumenta a vulnerabilidade" das mulheres locais, acrescenta.

"Educadas para ser femininas" versus "antifeminismo"

Os Passport Bros interessam-se por encontros casuais e alguns procuram uma "boa mulher".

"O feminismo moderno produziu uma geração inteira (...) de feminidade tóxica que transformou os homens em inimigos", explica Chase P. Taylor, fundador do portal The Official Passport Bros, em entrevista ao podcast da AFP "Sur le fil".

"Isto literalmente levou os homens a renunciarem a encontros" nos seus países e preferirem as mulheres da América Latina e da Ásia, onde "são educadas para ser femininas", continua Taylor.

Trata-se de uma comunidade heterogénea, mas os Passport Bros como Taylor dizem interessar-se por relações românticas nas quais o casal possa "construir" uma vida em "equipa".

Para especialistas como Francis Dupuis-Déri, professor especialista em movimentos masculinistas na Universidade de Québec, em Montreal, trata-se de uma "corrente de antifeminismo que diz que os homens sofrem por causa das mulheres e das feministas".

Alguns Passport Bros são associados aos 'incels' (celibatários involuntários) - homens que se consideram rejeitados pelo sexo oposto - e que "sentem ressentimento, raiva" pela sua condição e "culpam as mulheres" por isso, assinala Karen Holt, professora da Universidade Estatal de Michigan, que investiga comunidades misóginas online.

Também estão vinculados politicamente ao conceito "red pill" (comprimido vermelha), corrente ideológica radical, nostálgica do passado, que repudia os valores progressistas.

Cultura narco

Em abril, Medellín restringiu a prostituição num punhado de ruas turísticas após a detenção do americano Timothy Livingston por entrar num hotel com duas meninas de 12 e 13 anos. Pouco depois, foi liberado num questionado inquérito policial.

Associações de apoio especializado à vítima de violência sexual:

Quebrar o Silêncio (apoio para homens e rapazes vítimas de abusos sexuais)
910 846 589
apoio@quebrarosilencio.pt

Associação de Mulheres Contra a Violência - AMCV
213 802 165
ca@amcv.org.pt

Emancipação, Igualdade e Recuperação - EIR UMAR
914 736 078
eir.centro@gmail.com

Catorze estrangeiros foram detidos em 2024 em Medellín por abusos sexuais contra menores, segundo a polícia.

Berço do falecido barão da droga Pablo Escobar, a cidade de 2,6 milhões de habitantes hoje sofre com o flagelo das máfias de exploração sexual.

Os casos tocam em pontos sensíveis nesta metrópole com um longo histórico ligado à "cultura narco", segundo Paula Valencia, professora da Universidade de Medellín que investiga o tráfico de pessoas.

Dentro do temido cartel de Medellín "era uma prática habitual o tráfico de meninas virgens (...), quase como um prémio", acrescenta.

Uma dezena de organizações herdeiras deste grupo hoje controlam o mercado da prostituição.

"Bem-vindo o turista, bem-vindo seu investimento, mas não nos interessam os dólares manchados de sangue", adverte o secretário Manuel Villa.