Estas considerações de António Costa constam de um artigo de opinião hoje publicado no Diário de Notícias, intitulado "Sempre livre, como um pássaro" e inspirado numa frase dita aos jornalistas pelo antigo líder socialista Mário Soares quando caiu um dos seus governos.
"Ninguém contribuiu tanto como Mário Soares para a construção do Portugal pós-25 de Abril. Muitas vezes não o acompanhei, mas há que reconhecer que, no essencial, era ele quem tinha razão", diz Costa, acrescentando que Soares foi também "seguramente quem melhor interpretou o papel de Presidente no sistema semipresidencialista [português]", afirmando-se como verdadeiro "Presidente de todos os portugueses".
Na opinião do atual primeiro-ministro, que se encontra em viagem à Índia, o legado de Soares na chefia dos três curtos governos tem sido "muito subestimado", pois as traves mestras do moderno Estado social de direito em Portugal "foram então lançadas".
"O poder local democrático, a independência do poder judicial, o serviço Nacional de Saúde, a universalização da Segurança Social, a revisão do Código Civil, que revolucionou o direito de família, bem podem ombrear com a reconstrução do tecido económico pós revolução, o clima de concórdia nacional e a integração europeia como grandes contributos dos governos de Mário Soares", indicou António Costa.
No mesmo artigo, Costa evocou Soares como alguém que "nunca resignou, nem desistiu" e que, em nome da liberdade, combateu a ditadura quando a hipótese de aceder ao poder era mais ténue do que uma miragem.
"Enfrentou a ditadura e defendeu a revolução da sua deriva totalitária, bateu-se contra o colonialismo e revoltou-se contra a conversão dos movimentos de libertação em partidos únicos", recordou o primeiro-ministro, que viu Soares pela primeira vez, ao longe, quando este chegou do exílio, a 28 de abril de 1974, sendo aclamado à varanda da estação de Santa Apolónia, Lisboa.
"A última vez que o vi foi no passado dia 23 de julho, quando nos jardins de São Bento, o homenageámos por ocasião do 40.º aniversário da sua primeira posse como primeiro-ministro", lembra António Costa.
O primeiro-ministro termina com a certeza de que "ninguém substitui Mário Soares no lugar que é seu na história do Portugal democrático".
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