Marcelo Rebelo de Sousa caminhou pelas instalações deste campo, que atualmente alberga 636 pessoas, durante mais de uma hora, grande parte do tempo de mão dada com uma rapariga curda, Sedra, de 13 anos, que o abordou para lhe dizer que tinha a mãe doente e que não o quis largar até ao fim da visita.
O chefe de Estado parou para falar mais longamente com Banaz Omer, de 39 anos, que era engenheira civil em Suleimânia, no Curdistão iraquiano, e está há oito meses neste campo de refugiados a cerca de 80 quilómetros de Atenas, com o marido e dois filhos pequenos.
"Nós queremos trabalhar", disse-lhe Banaz, realçando que só querem deslocar-se de forma legal, para algum país europeu onde possam viver de forma independente.
Segundo o Governo português, há disponibilidade para "receber mil refugiados no futuro próximo", referiu Marcelo Rebelo de Sousa, pedindo-lhe o seu currículo e outra documentação, para tentar averiguar se há a possibilidade de trabalhar em Portugal.
Com a documentação de Banaz nas mãos, declarou: "Vou levar isto comigo para Portugal. Não vou prometer nada, porque depende do comité de seleção, mas como nós estamos prontos a receber pessoas vindas de sete países, incluindo o Iraque, pode ser que preencha os critérios".
"Talvez nos possamos reencontrar em Portugal", acrescentou o Presidente da República.
Mais tarde, encontrou o marido de Banaz, engenheiro de planeamento urbano, tirou uma fotografia com toda a família e beijou as crianças no rosto, observando: "Em Portugal, nós beijamos muito".
Marcelo Rebelo de Sousa também se demorou à conversa com o jovem Rabah Berkel, de 23 anos, que fugiu à guerra da Síria e quer prosseguir os estudos universitários de direito. "Só quero continuar os meus estudos, onde quer que seja", afirmou Rabah.
O Presidente da República sugeriu-lhe que se candidatasse a uma bolsa ao abrigo da Plataforma Global de Assistência Académica de Emergência a Estudantes Sírios, criada e liderada pelo antigo Presidente da República Jorge Sampaio: "Se quiser candidatar-se, deixe-nos saber. A sua decisão é sua".
Rabah agradeceu-lhe e, mesmo antes do final da visita, reapareceu para tirar uma 'selfie' com o chefe de Estado.
Gerido pela Organização Internacional das Migrações, o campo de refugiados de Tebas foi criado em junho do ano passado e é composto por 67 apartamentos adaptados no edifício de uma antiga fábrica têxtil e 65 contentores no exterior do edifício.
Alberga neste momento 676 pessoas, sobretudo vindas da Síria, do Iraque, do Paquistão, da Palestina e do Afeganistão, das quais 250 têm até 18 anos. Presta apoio psicológico e psiquiátrico, tem uma clínica.
Marcelo Rebelo de Sousa conheceu os diferentes espaços, guiado por Claudia Samaris, coordenadora do campo, de 27 anos, que o informou que as 137 crianças em idade escolar vão à escola oficial em Tebas e têm aulas de apoio no campo, onde se pode aprender inglês e grego.
No interior do edifício principal, o chefe de Estado foi interpelado por uma mulher que repetia "por favor, Salónica", indicando que queria ir para essa cidade grega, mas sem conseguir explicar-se mais em inglês.
Já no exterior, acedeu a sucessivos pedidos de fotografias, atrasando a sua saída.
Nesta visita também estiveram os deputados que acompanham a visita de Estado do Presidente da República à Grécia e o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva.
Logo à chegada, Marcelo Rebelo de Sousa comentou que o maior problema de quem está nestes campos "é a dúvida que têm sobre o seu futuro, não sabem por quanto tempo vão ficar aqui".
Segundo Claudia Samaris, as pessoas "em geral, ficam quatro, cinco meses" e, quando conseguem autorização de residência na Grécia, ao abrigo do direito de asilo, "precisam de encontrar um emprego, por isso precisam de aprender a língua, de ter as ferramentas para ser integrados na sociedade".
"Ouvi que muitos querem ir para a Alemanha", prosseguiu Marcelo. "Sim, esse é o sonho, mas neste momento aqueles que vão para a Alemanha vão através da reunificação familiar e são mesmo muito poucos", relatou a coordenadora do campo.
Em matéria de migrações e refugiados na União Europeia, "infelizmente, há países que criam dificuldades", lamentou o Presidente da República, em declarações à comunicação social grega.
"É preciso continuar a lutar para que seja possível, e rapidamente, um consenso quanto às migrações e refugiados", defendeu.
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