Em declarações aos jornalistas, durante uma viagem de comboio de alta velocidade entre Roma e Bolonha, Marcelo Rebelo de Sousa não excluiu, no entanto, a hipótese de surgir "de repente um acontecimento" no plano global com "efeitos nos mercados ou na economia, imprevisíveis", advertindo que "há muita turbulência em todos os continentes".

Neste contexto, deixou um elogio à atuação europeia e portuguesa: "O que se pode dizer é que a União Europeia tem feito, até agora, tudo o que deve para esbater os efeitos negativos, e Portugal também, no que pode - não pode muito em termos internacionais, mas pode bilateralmente no caso, por exemplo, do Reino Unido".

"Mas fica sempre esta incógnita. Eu tendo a considerar que o ano de 2020 pode ser economicamente menos mau internacionalmente do que temia. Mas eu temia que fosse bastante mau. E quanto menos mau for, melhor para a economia portuguesa", afirmou.

No caso do 'Brexit', segundo Marcelo Rebelo de Sousa "o panorama melhorou nos últimos meses", com a perspetiva de uma saída com acordo, e "há que reconhecer que o anterior Governo trabalhou muito rapidamente" para atenuar consequências negativas.

"Tudo indica que, com o período de transição, nós vamos assistir, portanto, a efeitos muitos deles já não imediatos, mas no final de 2020, a partir de 2021, e alguns dos efeitos para Portugal podem vir a ser menos maus do que se temia", concluiu.

O Presidente da República, que hoje termina em Bolonha uma visita de Estado a Itália, assinalou, por outro lado, "o facto de, porventura, num ano eleitoral americano, a guerra entre Estados Unidos e a China não ser tão forte quanto se temia".

"Porque algumas medidas são adiadas, porque continuam negociações ou porque só são tomadas algumas medidas, é menos mau do que se temia", disse.

Marcelo Rebelo de Sousa realçou que a situação nacional "depende do ambiente mundial e do ambiente europeu" e em particular dos principais destinos de exportações portuguesas.

"Depende muito de como estiverem as economias para onde exportamos, mesmo diversificando, como estamos a diversificar. Eu acho que o investimento pode continuar a vir do estrangeiro, mas é uma incógnita a dimensão desse investimento. O consumo tem aguentado muito razoavelmente", apontou.

O Presidente da República acrescentou que "uma parte desse consumo é um efeito indireto das relações com o exterior, efeito do turismo que, esse, aguentou muito bem este ano, efeito daqueles novos residentes em Portugal", observando: "Não se fala neles, mas têm um poder de compra muito grande".

Ainda sobre a atuação do anterior Governo face ao 'Brexit' Marcelo Rebelo de Sousa referiu que, "quando se previa mesmo que pudesse não haver acordo, Portugal já estava a fechar tudo o que era preciso fechar de acordos bilaterais com o Reino Unido, até ao pormenor da situação dos nacionais de um Estado no outro Estado, direito de voto, saúde, Segurança Social".

"Portanto, foi tudo muito acautelado para o pior cenário. Se o cenário for um bocadinho menos mau, melhor", considerou.