“Vamos desmobilizar, penso que a nível de todo o país, a nossa atuação”, afirmou José Eduardo Gonçalves, um dos porta-vozes dos agricultores em protesto junto à fronteira do Caia, em declarações aos jornalistas.
O agricultor revelou que os manifestantes decidiram dar por terminado o protesto depois de terem recebido uma comunicação do Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas (IFAP), na sequência de uma negociação “ao mais alto nível” com o Governo.
“O IFAP não é uma entidade política, é a entidade que paga aos agricultores” e a comunicação deste instituto “dá-nos uma certa tranquilidade, pela negociação que foi feita com personalidades deste Governo”, realçou.
Através da sua comunicação, segundo José Eduardo Gonçalves, o IFAP prometeu repor, até final do mês, os 60 milhões de euros que corresponde às ajudas à agricultura biológica e produção integrada que tinham sido retiradas em 25 de janeiro.
“O IFAP, que nos comunicou que iria retirar a verba, agora diz-nos que a vamos receber na totalidade e nós ficamos tranquilos, mas ficamos atentos”, sublinhou.
Assinalando que “este movimento cívico foi feito em 48 horas”, o porta-voz dos agricultores em protesto avisou que, no caso não se cumprirem as promessas de pagamento até final do mês, o setor voltará à rua para reivindicar os seus direitos.
“Vamos sair para a rua com as nossas reivindicações quando for preciso”, vincou.
Questionado pelos jornalistas sobre o membro do Governo que negociou com os agricultores, José Eduardo Gonçalves limitou-se a dizer que “a negociação foi ao mais alto nível”, do gabinete do primeiro-ministro, advertindo que as conversas não envolveram a ministra da Agricultura.
Pouco depois do anúncio do acordo, a circulação rodoviária na autoestrada 6 (A6) e noutras vias próximas foi retomada.
Manifestantes do Baixo Mondego vão manter-se em Coimbra até sexta-feira
Os agricultores que estão em hoje em manifestação em Coimbra vão manter-se em protesto até pelo menos sexta-feira, à espera de respostas positivas da tutela ao caderno reivindicativo apresentado à tarde na Direção Regional de Agricultura do Centro.
“O que veio [resposta] foi a resposta que a ministra da Agricultura disse na quarta-feira e hoje de manhã, que vamos recuperar o pagamento em falta dos 25% na produção integrada e 35% na produção biológica e mais nada, continuando sem respostas para o futuro”, salientou Carlos Plácido, do movimento organizador do protesto.
O produtor de milho, batata e carne pretende que sejam dadas respostas às outras questões apresentadas no caderno reivindicativo, como por exemplo o fim do nivelamento nacional, já que a região do Baixo Mondego “é uma das mais prejudicadas e tem características muito específicas”.
Os manifestantes exigem também o recomeço da construção da barragem de Girabolhos, “que protege toda a cidade [de Coimbra] das cheias”, descontos no gasóleo agrícola, “que está mais caro do que na época da pandemia da covid-19, o abaixamento dos fatores de produção das principais culturas: arroz e milho e apoios à perda de rendimentos.
“Não houve resposta às nossas reivindicações e, portanto, não vamos arredar pé”, frisou Carlos Plácido, referindo que os participantes estão disponíveis para continuar o protesto, “não prejudicando as pessoas e minimizando os danos”, dando um “passo de cada vez”.
Segundo este porta-voz, à medida que forem tendo respostas os agricultores “vão tomando as medidas necessárias”. Para já, vão pernoitar na avenida Fernão Magalhães, em Coimbra, e sexta-feira “será um novo dia”.
Salientando que o caderno reivindicativo é mais longo do que os outros movimentos de agricultores nacionais também em protesto, Carlos Plácido defendeu que os candidatos nas próximas eleições legislativas de 10 de março deviam dizer “o que vão fazer com a agricultura nacional”.
De acordo com fonte policial, mais de 400 tratores e máquinas agrícolas começaram a entrar na cidade de Coimbra às 14:00, no seguimento de uma marcha lenta pela Estrada Nacional (EN) 111 que começou em Montemor-o-Velho.
Às 18:15, os manifestantes deliberam cortar totalmente a avenida Fernão de Magalhães, naquela cidade, por não terem resposta ao caderno reivindicativo entregue à Direção-Geral de Agricultura do Centro, embora só metade daquela artéria tenha sido fechada, mas de forma a permitir a circulação dos veículos de emergência médica e de socorro.
O protesto
Os agricultores estiveram hoje na rua com os seus tratores, de norte a sul do país, reclamando a valorização do setor e condições justas, tal como tem acontecido em outros pontos da Europa.
O protesto, uma iniciativa do Movimento Civil de Agricultores de Portugal, decorreu um dia depois de o Governo ter anunciado um pacote de mais de 400 milhões de euros, destinado a mitigar o impacto provocado pela seca e a reforçar o Plano Estratégico da Política Agrícola Comum (PEPAC).
O pacote abrange entre outras, medidas à produção, no valor de 200 milhões de euros, assegurando a cobertura das quebras de produção e a criação de uma linha de crédito de 50 milhões de euros, com taxa de juro zero.
Segundo um comunicado divulgado na quarta-feira pelo movimento, os agricultores reclamam o direito à alimentação adequada, condições justas e a valorização da atividade.
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