“Recebemos o relatório dentro do prazo que havíamos estipulado, que terminava hoje, e agradeço ao secretário de Estado [da Administração Interna, Jorge Gomes] por ter cumprido com a sua palavra mas, efetivamente, é um documento insatisfatório”, disse à agência Lusa o presidente da Câmara de Mação (distrito de Santarém).
Vasco Estrela afirmou que o documento “é um conjunto muito incompleto, pouco detalhado, sem referência a quem tomou as decisões em cada momento relativamente às movimentações operacionais no terreno”, pelo que a assembleia municipal aprovou por unanimidade avançar com uma participação à IGAI, segundo o autarca, “para um apuramento cabal do que sucedeu e para apuramento de responsabilidades, se as houver”.
A ação refere-se ao incêndio que lavrou em Mação entre os dias 23 e 27 de julho, e que consumiu cerca de 18 mil hectares de floresta, atingiu 14 casas de primeira habitação, total ou parcialmente, e obrigou à evacuação de cerca de 30 aldeias, além de dez pessoas feridas e inúmeros bens destruídos, como barracões, palheiros, material agrícola e viaturas.
Na sequência do incêndio, o presidente da autarquia exigiu o acesso ao relatório da ocorrência da Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC) e estipulava um prazo que terminava hoje.
“Não podem arder 18 mil hectares sem que sejam apuradas todas as responsabilidades e este relatório não satisfaz, não indica quem tomou determinadas decisões sobre uma cada vez mais evidente retirada de meios de Mação, sobre quem os posicionou e porque motivos, e não nos dá acesso à fita do tempo”, critica Vasco Estrela, assinalando o pedido à IGAI com o objetivo de ser “uma entidade independente a explicar tudo o que se passou”.
No relatório, a que a Lusa teve acesso, a ANPC justifica as dificuldades no combate ao incêndio em Mação com a dispersão de meios por outras ocorrências na região e um quadro meteorológico “extremamente agressivo”.
Nesse dia, segundo o documento, houve 108 fogos, quase metade entre as 12:00 e as 18:00, 17 dos quais no distrito de Castelo Branco e adjacentes.
“Deste facto, resulta pelas necessidades de resposta operacional uma dificuldade maior no reforço das operações de combate por parte daqueles que se encontravam mais próximo do local, levando por isso a uma consequente dispersão de meios de socorro”, aponta o documento, salientando “a intensidade da linha de fogo e comprimento da linha de chama quase sempre acima da capacidade de extinção dos meios envolvidos”.
No relatório é também destacado que “a coordenação política e institucional terá sido feita caso a caso pelo presidente da Câmara Municipal de Mação, dado que o Plano Municipal de Emergência de Proteção Civil, por não existir, não podia ser ativado e por consequência, não existe Comissão Municipal de Proteção Civil”.
A este respeito, Vasco Estrela referiu apenas que existe um plano de emergência municipal mas que não está atualizado e que no incêndio o mesmo nunca foi pedido ao município “e tudo funcionou sem ele”.
O pedido de averiguações por parte da autarquia de Mação à IGAI dependia do conteúdo da exposição e do entendimento municipal sobre a análise da situação reportada no relatório sobre o incêndio, medida que hoje foi anunciada.
“Estamos a ser consequentes com o que sempre dissemos. Que iríamos apurar até ao fim as responsabilidades de todos, também da Câmara e dos intervenientes”, no terreno no sentido de serem “confrontados com as suas decisões”, observou Vasco Estrela.
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