Para que as alterações no clima não levem a humanidade para um beco sem saída, Luís Carriço defende, em entrevista à agência Lusa, um grande investimento de toda a sociedade, de governos mas também de empresas, que financie a investigação.
“E tem de ser uma investigação consequente. Não temos 100 anos. Tem de ser a curto prazo” como aconteceu com as vacinas contra a covid-19, “e os resultados têm de acontecer já, nesta década”, considera.
A propósito do Dia Internacional contra as Alterações Climáticas, criado pela Organização das Nações Unidas (ONU) e que se assinala na terça-feira, a Lusa questionou Luís Carriço sobre o papel da ciência no combate, adaptação e mitigação das alterações climáticas, com o responsável a destacar a importância da transição energética e a inteligência artificial (IA).
Salientando desde logo o papel da Universidade na luta contra as alterações climáticas, sem ter nunca um discurso pessimista, Luís Carriço diz que a mudança do clima já existe e é inquestionável, e aponta a aposta nas energias limpas.
“A transição energética é das áreas que pode ajudar a evitar uma situação de não retorno”, afiança.
Professor do Departamento de Informática e investigador, Luís Carriço não considera que seja possível acabar de imediato com os combustíveis fósseis.
Considera que é preciso cautela para não criar uma disrupção completa da economia e da sociedade, e defende antes uma aceleração do uso das energias renováveis, as que existem e as que a ciência vai descobrir no futuro, e acredita que quer Portugal quer a União Europeia vão cumprir as metas já anunciadas.
Portugal comprometeu-se em atingir em 2026 80% de energias renováveis na produção de eletricidade, e em 2030 atingir os 100%.
Luís Carriço não tem dúvidas de que haverá cada vez mais procura de energia mas também não duvida que essa energia tem de ser renovável.
“Há grande evolução da ciência nessa área, novas ideias”, observa, explicando que uma das hipóteses no futuro é aproveitar as baterias dos carros elétricos, cada vez em maior quantidade, para armazenar a energia solar produzida durante o dia.
É, refere, uma questão de gestão de redes. E nesse caso a IA pode ajudar, como pode também ajudar na criação de modelos climáticos mais precisos, ou mesmo intervir na criação de novos tipos de combustíveis, de encontrar alternativas na energia.
“Há muita investigação nesta área”, afirma, afiançando que a neutralidade carbónica passa pela energia, mas a União Europeia não pode ficar satisfeita se só ela cumprir metas.
E que mais pode fazer a ciência? Luís Carriço responde que desde logo ajudar a perceber, porque nada se consegue fazer se não se perceber e ainda há muito por entender na questão das alterações do clima.
“Temos hoje modelos que nos permitem perceber e predizer o que está a acontecer e o que nos vai acontecer nos próximos anos. Em perceber e em criar modelos a ciência tem um papel fundamental”, afirma.
E depois também o papel de participar na adaptação a um fenómeno que está a acontecer, e depois evitar situações de rotura no clima, que se tornem irreversíveis.
“Na adaptação também tem de ser a ciência a dar respostas, e dá”, afiança, exemplificando que é preciso perceber como vão funcionar os ecossistemas num contexto de mudança climática, como é que se restauram, se o fazem ou se precisam de intervenção humana.
A verdade, conclui, é que as alterações climáticas são “um tema crucial para a humanidade” e a luta tem de ser unida e global, e a mobilização tem de ser grande e urgente, como aconteceu com a covid-19.
A Faculdade de Ciências organiza na terça-feira um debate sobre este e outros temas, numa iniciativa para assinalar e divulgar a investigação que se faz, incluindo na área do clima.
Segundo o diretor o Dia da Ciência desta terça-feira vai este ano prolongar-se pela semana toda. E todos os alunos são incentivados a participar.
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