Falhado o prazo para voluntariamente se apresentar à polícia - falhados os dois pedidos de habeas corpus apresentados - os media brasileiros adiantam que a Polícia Federal foi avisada por interlocutores de Lula da Silva que este não resistirá à prisão, mas não pretende sair do sindicato para ir à sede da polícia. O que significa, na prática, que a confirmar-se esta informação os polícias terão de o ir buscar.
Num país dividido, o ex-presidente tem sido pressionado pelos movimentos de esquerda para não se entregar e o local onde se encontra está cercado por militantes.
Adianta também a Folha de São Paulo que o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) interditou dois troços da estrada Francisco Alves Negrão, em Itaberá, na tarde desta sexta-feira com uma manifestação contra a prisão do ex-presidente Lula que paralisou o trânsito de veículos nos quilómetros 314 e 258.
Segundo João Paulo Rodrigues, do MST, 80 estradas foram bloqueadas pelo movimento em todas as capitais do país. Afirmou também que Lula da Silva está "super bem" e que os boatos da internet não são reais e gritou "ocupar e resistir".
A Folha de São Paulo adianta ainda que a família do ex-presidente quer que ele se entregue à Policia Federal. Segundo os familiares de Lula, a resistência pode prejudicar pedidos futuros.
Num clima de grande impasse e alguma tensão, mantém-se as negociações dos termos de prisão, sendo os cenários mais plausíveis a entrega no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, onde está desde a noite de quinta-feira, ou então a opção de Lula se dirigir ao seu apartamento, em São Bernardo do Campo, em São Paulo, e aguardar que os agentes da Polícia Federal o prendam nesse local.
Segundo a Folha,"a cúpula do PT e de partidos aliados, como PSOL e PC do B, são contrários às negociações. Pretendem que o ex-presidente ofereça uma espécie de "resistência pacífica"". O coordenador do MTST, Guilherme Boulos, afirmou a resistência pacífica junto do sindicato era a melhor resposta, considerando que o juiz Sergio Moro "será vencido pelo cansaço" face da resistência do povo.
À porta do sindicato, sucedem-se intervenções intervaladas por gritos de ordem e pela entoação de músicas populares.
Lula da Silva recebeu uma intimação judicial para se apresentar para ser detido hoje até às 17:00 horas locais (21:00 em Lisboa), mas, segundo fontes da assessoria, o ex-Presidente permanece dentro do prédio, em São Bernardo do Campo, violando o prazo de detenção decretado pelo juiz Sérgio Moro.
A sua assessoria tinha deixado implícito que Lula iria falar ainda hoje aos apoiantes, num palco já colocado no local, mas o discurso, há poucos minutos [pouco depois das 17 horas em São Paulo, e das 21h em Portugal Continental]da presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann - que entrou no palco afirmando que trazia um abraço de Lula a todos - foi entendido como uma mensagem que o ex-presidente não deve falar, apesar de a dirigente declarar que Lula continua no prédio do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo.
Nos últimos minutos [atualização cerca das 22 horas de Portugal] Lula surgiu na janela do edifício e acenou aos manifestantes, que gritam "Lula, cadê você? Eu vim aqui te defender", "Lula na veia, Moro na cadeia", "Não tem arrego: o Lula é do povo brasileiro" e "Lula, guerreiro do povo brasileiro".
A defesa do ex-presidente Luiz Inácio da Silva estará a negociar com a Polícia Federal para que o petista se apresente 2ªa feira. Todavia, dirigentes do PT já admitem que Lula deverá dormir mais uma noite no sindicato.
"O recado que nós damos é que daqui não saímos", disse o líder do PT no Senado, Lindbergh Farias, ao microfone do palco improvisado em frente ao sindicato."Se queriam matar Lula politicamente, estão transformando cada vez mais num gigante, num mito", afirmou o senador, que está desde o primeiro minuto com o ex-presidente no sindicato. Lindbergh Farias comparou o momento com o golpe militar de 1964 e o suicídio de Getúlio Vargas.
O senador subiu no carro de som para, a pedido de Lula, convidar os militantes a participar de uma missa neste sábado em homenagem à mulher de Lula, a ex-primeira-dama Marisa Letícia que morreu há um ano e que completaria 67 anos amanhã.
Os meios de comunicação brasileiros adiantaram que Lula poderia discursar às 19h30 (23h30 de Portugal) e que pretende participar na missa em homenagem a Marisa Letícia. A possibilidade do discurso não se confirmou, pelo menos no horário que tinha sido indicado.
No Rio de Janeiro, um protesto reúne manifestantes em frente à Igreja da Candelária, no centro da cidade. O protesto é organizado pelas Frente Brasil Popular e Povo sem Medo e os manifestantes vão em caminhada pela avenida Rio Branco até a Cinelândia, um percurso com pouco mais de 1 quilómetro onde está prevista manifestação conjunta com a seção da CUT no Rio de Janeiro.
A assessoria doSupremo Tribunal Federal confirmou, por seu lado, que um grupo de militantes do MST lançou tinta vermelha na fachada do prédio onde a presidente do tribunal, Cármen Lúcia, tem um apartamento em Belo Horizonte.
Defesa pede suspensão da prisão
Usando a prerrogativa da Constituição que estabelece que qualquer cidadão pode pedir habeas corpus a favor de outro que esteja a ser alvo de coação, advogados de vários estados do país entregaram hoje habeas corpus a favor do ex-presidente no STF (Supremo Tribunal Federal), avançam também os media brasileiros.
"Os autores dos pedidos apontam supostos abusos ou ilegalidades em decisões do juiz Sergio Moro, do TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região), do STJ (Superior Tribunal de Justiça) e do próprio Supremo", escreve a Folha de São Paulo.
No início da noite desta sexta-feira, a defesa do ex-presidente entrou com uma reclamação no Supremo Tribunal Federal, em que pede uma medida provisória para suspender a sua prisão. Os advogados argumentaram que a ordem de prisão não esperou que se esgotassem os recursos possíveis no TRF-4 (Tribunal Regional Federal).
Os advogados de Lula pedem assim a suspensão da execução da pena imposta até o julgamento de mérito de duas ADCs (ações declaratórias de constitucionalidade) que discutem no STF a constitucionalidade da prisão após condenação em segunda instância.
As duas ADCs ficaram sob tutela do ministro Marco Aurélio, a quem os advogados de Lula direcionaram o pedido. A reclamação terá, todavia, sido distribuída eletronicamente pelo Supremo e o ministro sorteado para ser o relator foi Edson Fachin, informou o tribunal.
Caso o primeiro pedido não seja acolhido, os advogados pedem uma medida provisória para suspender a prisão até que o TRF-4 examine a admissibilidade dos recursos extraordinários, que são direcionados ao STF.
Se os pedidos forem negados, a defesa de Lula pretende que ele aguarde em liberdade o julgamento dos embargos de declaração que serão apresentados ao próprio TRF-4 até a próxima terça-feira.
A prisão do ex-chefe de Estado — condenado a 12 anos e um mês de cadeia — está relacionada com um dos processos da Operação Lava Jato, o maior escândalo de corrupção do Brasil. Lula foi condenado por ter recebido um apartamento de luxo como suborno da construtora OAS em troca de favorecer contratos com a petrolífera estatal Petrobras.
A execução provisória da pena não deverá impedir juridicamente a candidatura presidencial de Lula da Silva, à frente nas sondagens para as eleições de outubro.
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