“Estamos prontos a juntar-nos a um esforço que possa efetivamente contribuir para um pronto cessar-fogo e uma paz justa e duradoura”, disse Luiz Inácio Lula da Silva, durante a sessão plenária da 15ª cimeira dos BRICS, que decorre em Joanesburgo, África do Sul, até quinta-feira.
Lula da Silva sublinhou que “todos sofrem as consequências da guerra”, salientando que as populações mais vulneráveis nos países em desenvolvimento são atingidas “desproporcionalmente”.
“A guerra na Ucrânia evidencia as limitações do Conselho de Segurança”, vincou.
Lula da Silva recordou que os países do grupo BRICS representam atualmente 41% da população e são responsáveis por 31% do produto interno bruto (PIB) global em paridade do poder de compra, mas, alertou: “Enfrentamos um cenário mais complexo do que quando nos reunimos pela primeira vez”.
“Em poucos anos, retrocedemos de uma conjuntura de multipolaridade benigna para uma que retoma a mentalidade obsoleta da guerra fria e da competição geopolítica”, salientou Lula da Silva, para quem isso representa “uma insensatez que gera grandes incertezas e corrói o multilateralismo”.
Na ótica do chefe de Estado brasileiro, “o mundo precisa de compreender que os riscos envolvidos são inaceitáveis para a humanidade”.
“Não podemos furtar-nos a tratar o principal conflito da atualidade, que ocorre na Ucrânia e tem efeitos globais”, frisou.
O líder sul-americano disse que o Brasil tem uma posição “histórica” de defesa da “soberania”, da “integridade territorial” e dos “propósitos” e “princípios” preconizados pelas Nações Unidas, sublinhando que um número crescente de países, entre eles os países do BRICS, também esteja empenhado em contactos diretos com Moscovo e Kiev.
“Não subestimamos as dificuldades para alcançar a paz, tampouco podemos ficar indiferentes às mortes e à destruição que aumentam a cada dia”, declarou Lula da Silva.
Nesse sentido, defendeu que os países dos BRICS devem atuar como uma força pelo “entendimento” e pela “cooperação”.
“A vossa disposição está expressa nas contribuições da China, da África do Sul e de meu próprio país para os esforços de solução do conflito na Ucrânia”, afirmou, sublinhando, todavia, que “muitos outros conflitos e crises não recebem atenção devida mesmo causando vasto sofrimento para as suas populações”.
“Haitianos, iemenitas, sírios, líbios, sudaneses e palestinianos, todos merecem viver em paz”, exemplificou.
Lula da Silva sustentou ser “inaceitável” que “os gastos militares globais num único ano ultrapassem dois triliões de dólares [1,2 biliões de euros], enquanto a FAO [Organização da ONU para a Alimentação e Agricultura] diz que 735 milhões de pessoas passam fome no mundo.
“A busca pela paz é um dever coletivo e um imperativo para o desenvolvimento justo e sustentável”, frisou.
Na sua intervenção, Lula da Silva aludiu também ao “esfacelamento” da governança global, afirmando que “também está patente nas agendas do desenvolvimento, do financiamento e do enfrentamento à mudança do clima”, defendendo a valorização do Acordo de Paris e a Convenção do Clima “em vez de terceirizar as responsabilidades climáticas para o Sul Global”.
“Precisamos de um sistema financeiro internacional que, ao invés de alimentar as desigualdades, ajude os países de baixa e média renda [rendimento] a implementarem mudanças estruturais”, sustentou.
Nesse sentido, defendeu a criação de uma moeda para as transações comerciais e de investimento entre os membros do BRICS por forma a “aumentar as opções de pagamento e reduzir as vulnerabilidades” no grupo, formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
Lula da Silva afirmou que a inclusão da África do Sul nos BRICS, em 2010, fez com o bloco “passasse a refletir melhor a nova configuração de poder mundial”.
“Saímos fortalecidos”, concluiu.
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