Esta posição do ex-eurodeputado e fundador do Livre consta de uma mensagem enviada pelo próprio a membros e apoiantes, à qual a agência Lusa teve acesso, informando-os da sua decisão.
“No momento em que estamos, quem quer que o país mude tem de avançar. E eu quero que o país mude. Quem tem as ideias de que o país precisa, tem a responsabilidade de as propor. E eu acredito ter algumas dessas ideias”, lê-se na mensagem.
Para o historiador, “o país precisa de uma nova cultura de diálogo e compromisso”.
“Andar a pôr todo o peso em negociações orçamentais, sem uma folha de rota para o país, não é vida. Dissemo-lo em 2019, depois da maior maioria eleitoral e parlamentar da esquerda desde o 25 de Abril: o que era preciso era que todos os partidos dessa maioria se sentassem à mesa para construírem em conjunto um programa de legislatura. Negociações à alemã, se quiserem chamar-lhe assim: multipartidárias, multilaterais, com um horizonte de vários anos com participação da sociedade civil e escrutínio cidadão”, escreve.
Rui Tavares considera que hoje todos dão razão ao Livre, “mas dar razão não basta”: “Só um voto no Livre passa a mensagem sobre a cultura de diálogo e compromisso, social, progressista e ecológica, de que o país precisa”.
O historiador questiona como é possível que “Portugal continue a viver numa armadilha de salários baixos e más condições de trabalho”, que faz com que os mais qualificados “estejam sempre sobre a pressão de emigrarem e já não conseguirem voltar”, interrogando também “como é possível que haja uma fratura entre uma geração que conseguiu comprar casa, em boa medida porque teve estabilidade profissional e uma geração que não tem dinheiro para ter casa própria e que porque não tem estabilidade de emprego, nem sequer consegue pedir emprestado para comprar casa”.
“A resposta está em construir para o nosso país uma economia do conhecimento, de alto valor acrescentado e maior produtividade que sustente salários mais altos, que por sua vez garantem uma Segurança Social mais forte e serviços públicos de maior qualidade, que não deixa ninguém para trás”, defende.
Tavares insiste ainda numa das principais bandeiras do Livre, o Novo Pacto Verde, defendendo a criação de dois programas: um que “reembolse todos os gastos na preparação dos edifícios para um conforto térmico ecológico e sustentável” – algo "caro agora, que sai barato no futuro" – e outro “de apoio à compra de primeira casa no qual o Estado comparticipa a entrada para o empréstimo e fica com a percentagem correspondente do imóvel até à devolução desse dinheiro no prazo de x anos”.
Para o historiador, “o país precisa de uma visão a longo prazo para si mesmo, na europa e no mundo”, defendendo a necessidade de um “grande debate nacional acerca de um novo modelo de desenvolvimento, a consensualizar entre todos e a ter início já nesta década”.
“No passado, a meta da convergência com a média da União Europeia era suficiente para alimentar os sonhos e as esperanças da geração dos meus pais e dos meus irmãos mais velhos. Aquilo que eu vejo com a geração das minhas sobrinhas e dos meus filhos é que isso já não chega. A convergência com a média da UE é jogar para o empate e acabar a perder”, sustenta.
Tavares argumenta que Portugal precisa de “um modelo de desenvolvimento que tire partido” das condições únicas do país, para que este se torne “numa sociedade e numa economia de alto desenvolvimento e até de uma certa vanguarda no plano europeu e global (…)”.
"Aproximamo-nos dos 50 anos do 25 de Abril, é hora de fazer os grandes debates de que o país precisa para preparar o futuro. (…) Nas próximas eleições, o Livre é o único voto à esquerda que não deixa tudo na mesma, mas que permite construir uma maioria social, progressista e ecológica para Portugal. E todos nós temos um papel a desempenhar”, remata.
O Livre abriu na segunda-feira (08) o processo de primárias para escolher os seus candidatos às eleições legislativas antecipadas. O prazo para pré-candidaturas e inscrições para o colégio eleitoral termina domingo, dia 14, sendo esta a primeira de várias fases de um processo que decorre até 29 de novembro.
O XI Congresso do partido está marcado para 11 e 12 de dezembro, no concelho de Oeiras, em Lisboa, no qual serão apresentados todos os candidatos às eleições legislativas e aprovado o programa eleitoral.
O partido da papoila utiliza o método das primárias na escolha dos seus representantes em cargos de eleição externa, no qual qualquer cidadão pode inscrever-se para concorrer ou para votar, desde que assine a carta de princípios deste partido.
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