“Vejo uma tendência preocupante, da parte das autoridades russas, que parecem estar a escolher aprofundar, deliberadamente, o confronto com o Ocidente, connosco. (…) Devemos, portanto, definir um ‘modus vivendi’ que nos permita evitar a confrontação permanente com um vizinho que parece ter decidido agir enquanto adversário”, afirmou Borrell.
O alto representante da União Europeia (UE) para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança falava durante uma sessão plenária do Parlamento Europeu dedicada às relações da UE com Moscovo, abordou a situação que se presenciou na fronteira entre a Ucrânia e a Rússia, o tratamento do opositor russo, Alexei Navalny, e o incidente diplomático entre o Kremlin e Praga.
Reiterando, à semelhança do que tem feito desde que regressou de uma deslocação a Moscovo em fevereiro, que as relações entre a UE e a Rússia estão “num ponto baixo”, Borrell destacou que o bloco não pode “descartar” a hipótese de que a “tendência negativa possa continuar” e atingir “níveis ainda mais perigosos de deterioração”.
“Sem querer alimentar ainda mais uma dinâmica de escalada — não há nada que esteja mais distante do meu intuito –, estamos, ainda assim, a mostrar que não iremos aceitar táticas intimidatórias e que temos de responder caso elas aconteçam”, realçou.
Abordando assim os três assuntos que estavam agendados para a sessão plenária, o chefe da diplomacia europeia referiu que a mobilização de tropas russas na península da Crimeia e junto da fronteira da Ucrânia — que, no seu ponto mais alto, chegou a contar com mais de 100 mil soldados em ambas as regiões, mas que começaram, na sexta-feira passada, a ser retirados — “afetou gravemente a situação securitária da região”.
“Até agora, a Rússia não mostrou qualquer vontade em terminar o conflito em termos que permitissem garantir a soberania, a integridade territorial e a independência da Ucrânia”, frisou.
Argumentando que uma “Ucrânia próspera e independente” é um “elemento indispensável” para resolver o conflito entre Kiev e Moscovo, Borrell disse que é por isso que a UE continua a “instar a Ucrânia” a manter as reformas.
“Não há nada melhor para enfrentar a Rússia do que ser um país com um sistema completamente democrático, liberto da corrupção, e que utilize os nossos recursos (…) para melhorar a qualidade da governação do país”, apontou.
Sobre o opositor russo, Alexei Navalny, detido em janeiro, e que se encontra numa colónia penal a leste de Moscovo, Borrel reiterou que as autoridades russas são responsáveis pela sua “segurança e saúde” e frisou que, apesar de este ter anunciado o fim da greve de fome na semana passada, a UE mantém o “forte apelo em garantir as condições apropriadas para Navalny e a sua recuperação rápida”.
No que se refere à explosão num depósito de armas na República Checa em 2014 — que as autoridades checas dizem ter sido perpetrado por agentes do serviço de informações militar russo (GRU) –, o alto representante sustentou que “o facto de ter ocorrido há sete anos, não diminui a gravidade” do incidente.
“Não se trata de inteligência militar, trata-se de uma ofensa grave e criminosa, que é contrária às obrigações internacionais da Rússia. Este tipo de comportamento não pode ser aceite”, asseverou.
Nesse sentido, o chefe da diplomacia disse que a política da UE relativamente à Rússia deve assentar em três eixos: “conter, empurrar para trás e colaborar”.
“Impedir que a Rússia ultrapasse linhas vermelhas sobretudo quando a soberania de Estados europeus é posta em causa. (…) Para conter, precisamos de apoiar todos aqueles que são alvo da pressão da Rússia, em particular os países da Parceria Oriental. Isso não significa que não devemos colaborar, (…) porque a Rússia existe e há dossiês em que temos de trabalhar juntos: o Irão e as alterações climáticas”, destacou.
No entanto, para que os três eixos funcionem, Borrell referiu que duas condições têm que ser satisfeitas, começando pela união dos Estados-membros da UE no que se refere a uma política comum perante a Rússia.
“Se os Estados-membros assumem uma posição firme em Bruxelas e depois voltam para as capitais e esquecem-se dos seus compromissos sobre a Rússia, (…) é muito difícil ter uma política comum”, afirmou.
A segunda condição, segundo Borrell, é a “reforma imperativa” dos países da Parceria Oriental (Arménia, Azerbaijão, Bielorrússia, Geórgia, Moldávia e Ucrânia), através da utilização dos fundos europeus que lhes são disponibilizados enquanto “um instrumento para mais reformas internas”.
“É por isso que devemos condicionar o nosso apoio — não acho que não o mereçam — mas, como sempre, esse apoio tem de dar resultados”, sublinhou.
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