Diana Andringa, jornalista da RTP, regressou ao ano de 2005 quando foi noticiado um suposto arrastão de cerca de 500 negros na praia de Carcavelos, em Cascais (Lisboa), com fotografias que “o comprovavam”.
“Veio a provar-se mais tarde que não era verdade e que que as fotografias foram tiradas pela mesma pessoa que ligou à PSP, mas as imagens foram divulgadas em todo o lado. Os jornalistas por vezes esquecem-se de pensar e hoje em dia cada vez menos o fazem, porque é preciso, porque não há tempo”, referiu.
O debate “como se (des)constrói o racismo nos média” decorreu no auditório da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Setúbal, onde se exemplificou com notícias antigas como o preconceito está presente na nossa sociedade e nos meios de comunicação.
Para Diana Andringa a solução passa por “parar para pensar duas vezes, se possível ver com os pés, ir aos locais”, além de lembrar que é preciso acabar com a precariedade.
“Há uma doença na comunicação social que é a precariedade, enquanto os jornalistas forem precários não têm a liberdade para dizer que não”, sublinhou.
Joana Gorjão Henriques, do jornal Público, lembrou uma situação em que um grupo de jovens se dirigiu a uma esquadra em Alfragide para saber o que se passava com um amigo, mas foram impedidos e “o que saiu cá para fora foi que houve uma tentativa de invadir a esquadra, mas está provado que a invasão não aconteceu”.
Para a jornalista, este é um problema de “facilitismo, preconceito e preguiça dos jornalistas que não questionam a polícia e escrevem tal como está no comunicado”.
Face aos incidentes que ocorreram há uma semana no bairro da Jamaica, Joana Gorlão Henriques considerou que o jornalismo “regrediu”, quando saiu a notícia de que um homem foi detido por agredir um polícia.
“Independentemente das responsabilidades apuradas, uma coisa é clara no vídeo: um senhor que não está a fazer nada é agredido pela polícia. É seguro dizer isto, mas o que me espanta é haver em toda a comunicação social uma espécie de medo de se referir como tal. O que não aconteceu, por exemplo, quando um polícia agrediu um adepto do Benfica”, frisou.
Já José Rosando, da Antena 1, considerou que “os média estão doentes” e a culpa é de todos os jornalistas, acionistas e até do público, a quem a comunicação social se dirige, por “não exigirem meios de qualidade, por não comprarem jornais e pensarem que estão informados na internet”.
Além disso, alertou que as redações atualmente são insuficientes e que, sobretudo as televisões, “não deviam aceitar todas as imagens que lhes fazem chegar”, por serem inconclusivas, sem contexto e por estarem sujeitas “a todas as interpretações”.
“Uma forma simples de desconstruir é apenas olhar para as pessoas como pessoas. Não olhar como eleitores, consumidores, contribuintes, pela cor da pele. Um professor uma vez disse-me que cada um de nós é mais que um cidadão. Nós temos alma, sentimentos, família, um passado. Se nós jornalistas pensarmos nisto, estamos logo a desconstruir uma narrativa”, explicou.
O Roteiro para uma Educação Antirracista foi criado por uma equipa de docentes da Escola Superior de Educação e vai promover, uma vez por mês, até junho, conferências inseridas nesta temática, em diversos locais do concelho de Setúbal, como a biblioteca municipal, o cinema Charlot e a Escola de Hotelaria e Turismo.
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