“Esta decisão prejudica tudo. Esta decisão destrói todas as esperanças que construímos. Não sei se é impossível mudar, mas acho que a decisão de hoje faz danos muito, muito graves. Todas as pontes de paz que foram construídas foram destruídas”, afirmou Nabil Abuznaid, em declarações à Lusa, por telefone.
O Presidente norte-americano, Donald Trump, deverá anunciar hoje que os Estados Unidos vão reconhecer Jerusalém como capital de Israel, e transferir a sua embaixada de Telavive para Jerusalém, contrariando a posição da ONU e dos países europeus, árabes e muçulmanos, assim como a linha diplomática seguida pelos Estados Unidos até agora.
Os países com representação diplomática em Israel têm as embaixadas em Telavive, em conformidade com o princípio, consagrado em resoluções das Nações Unidas, de que o estatuto de Jerusalém deve ser definido em negociações entre israelitas e palestinianos.
“É uma decisão irresponsável e perigosa que vai contra a lei internacional, contra acordos, contra a vontade internacional, contra a vontade da comunidade internacional que está a tentar trazer a paz entre palestinianos e israelitas”, prosseguiu o representante diplomático da Palestina em Portugal.
A par das implicações “muito negativas” em todo o processo de paz, nos esforços internacionais de alcançar um consenso com base na solução dos dois Estados e na região do Médio Oriente, o embaixador frisou o peso religioso da cidade de Jerusalém e advertiu para futuras consequências.
“A cidade de Jerusalém é uma cidade de todas as religiões e não deve ser dada a uma única religião. A decisão de Trump causa graves danos e abre a possibilidade de uma guerra religiosa”, alertou o representante.
Nabil Abuznaid recordou que esta decisão de Trump, “feita infelizmente à custa dos palestinianos”, está relacionada com uma promessa que o chefe de Estado norte-americano fez a um eleitorado específico (eleitores judeus) e que está empenhado em cumprir.
“Assumiu este compromisso durante a sua campanha (…). Mas, Jerusalém não é a sua cidade. Devia concentrar-se nos seus assuntos internos nos Estados Unidos (…). Devia apoiar a paz e não a divisão de terras e dar terras de pessoas onde ele não tem autoridade”, prosseguiu.
O embaixador palestiniano defendeu, no entanto, que Trump está enganado quando pensa que está a fazer um favor a Israel ao avançar com esta decisão.
“Para ser sincero, acho que ele não está a fazer nenhum favor a Israel. Criou mais problemas. Se está interessado em ver os israelitas a viverem em paz devia avançar com o processo de paz e não mudar a embaixada”, concluiu.
A questão de Jerusalém é uma das mais complicadas e delicadas do conflito israelo-palestiniano, um dos mais antigos do mundo.
Israel ocupa Jerusalém leste desde 1967 e declarou, em 1980, toda a cidade de Jerusalém como a sua capital indivisa. Os palestinianos querem fazer de Jerusalém leste a capital de um desejado Estado palestiniano, coexistente em paz com Israel.
Jerusalém é considerada uma cidade santa para cristãos, judeus e muçulmanos.
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