Sob liderança de Meloni, o partido Fratelli d’Italia (FDI, Irmãos de Itália), de extrema-direita (23% a 25% das intenções de votos nas últimas sondagens), tornou-se no elo mais forte do centro-direita do país, um lugar que tomou à Liga, de Matteo Salvini, e reclama por isso a chefia de um governo de coligação a três, se houver acordo com os outros partidos de direita.
Sílvio Berlusconi, líder da Força Itália (direita liberal, 7% a 10% das intenções de voto) e um dos parceiros da possível coligação, diz temer que Meloni e as suas posições extremas afastem os eleitores do seu partido.
Argumento usado também pelo mais perigoso rival de Meloni, Enrico Letta, líder do Partido Democrático italiano (PD, centro-esquerda, com 22% a 23% das intenções de voto), que alertou que nas eleições de 25 de setembro as opções serão quase certamente entre dois blocos: um progressista e centrista – onde se insere – e outro populista de direita.
“Ou ganha a Europa comunitária, do [programa] Next Generation EU, do Erasmus e da esperança, ou ganha a Europa [do Presidente húngaro, Viktor] Órban, do [partido espanhol] Vox e da [líder da extrema-direita francesa] Marine Le Pen”.
Para suavizar esta imagem de si e do partido, Giorgia Meloni, 45 anos, no meio dos preparativos para a próxima campanha eleitoral, terá instruído, segundo a imprensa italiana, as direções regionais do FdI a alertarem os membros para evitar declarações mais extremas, mencionar a ideologia fascista e para não fazerem em público a “saudação romana”, que consiste em estender o braço direito, num gesto semelhante à saudação nazi.
A jornalista, deputada e antiga eurodeputada, fundadora e presidente do Irmãos de Itália, tem tentado construir uma imagem mais respeitável na Europa Comunitária.
Em Bruxelas, quando foi presidente do partido Conservadores e Reformistas Europeus (ECR), Meloni tornou-se o rosto da extrema-direita europeia no exterior, ganhando legitimidade ao envolver-se com instituições da UE, em vez de rejeitar a integração da UE como um todo.
A líder do FDI continua a defender posições radicais em muitas questões, por exemplo ao declarar a sua oposição – como relembrou o jornal Politico numa análise esta semana – ao que chamou de “lobbies LGBT” e imigração, num evento de campanha em Espanha em apoio ao partido de extrema-direita Vox.
Mas, ao discursar no início deste ano na Conferência de Ação Política Conservadora, por exemplo, foi uma das vozes mais fortes a apelar à ação contra a Rússia.
O Irmãos da Itália é membro – com oito eurodeputados – do grupo parlamentar dos Conservadores e Reformistas Europeus (ECR) no Parlamento Europeu, a que presidiu e agora copreside com os polacos do Direito e Justiça (PiS) e que integra 19 partidos de 15 países, incluindo os espanhóis do Vox.
No início deste ano, o ECR de Meloni apoiou a eurodeputada centrista Roberta Metsola como líder do Parlamento Europeu, permitindo a este grupo nomear um vice-presidente.
Em dezembro, o festival anual de Atreju – um evento para a juventude italiana de direita fundado por Meloni em 1998 — convidou e conseguiu ter como oradores ministros e o Comissário Europeu Margaritis Schinas.
O primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, demitiu-se na passada quinta-feira, após perder o apoio do M5S, do Força Itália e a Liga, levando à antecipação das eleições.
Draghi presidiu a uma coligação de unidade nacional nos últimos 17 meses, desde fevereiro de 2021, que foi apoiada por praticamente todos os partidos, com exceção do FDI, que agora lidera as intenções de voto.
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