A manifestação em frente da Assembleia da República decorreu em simultâneo com outras em 12 cidades de países da União Europeia (UE) sob o lema “No Business as Usual with Israel”, destinada a denunciar a “cumplicidade europeia com os crimes de guerra de Israel que tem de acabar”.

Em declarações à agência Lusa, Liad Hollender, da associação Israelitas pela Pressão Internacional, frisou que a manifestação é organizada “por israelitas e contra o atual governo de Benjamim Netanyahu” por cidadãos “muito preocupados, horrorizados, pelo que está a passar-se em Gaza”.

“Queremos dizer não, que não pode ser, que não apoiamos em absoluto”, afirmou Hollender, natural de Haifa, onde nasceu há 43 anos e que mora em Portugal há 14, acrescentando que Netanyahu é “um desastre”.

“Já foram várias as oportunidades de negociar, de conseguir acabar com o conflito, mas ele sempre negou, utilizando várias desculpas. Na realidade, em Israel há um consenso de que Netanyahu está a promover interesses pessoais e não está a pensar no seu país. E há muitas manifestações em Israel contra o governo, em que se apela ao fim da guerra. Mas ele não ouve”, argumentou.

“Estou de acordo que Benjamin Netanyahu é um bocadinho louco. Está a agarrar-se ao poder e tem ações que não têm nenhum sentido e que são loucas, tal como os israelitas que os apoiam”, sublinhou, criticando também a “hipocrisia da comunidade internacional”.

Hollender considerou “não haver palavras” para descrever o que Israel está a fazer na Faixa de Gaza, onde combate o movimento islamita Hamas, e na Cisjordânia ocupada, sem que a comunidade internacional tenha passado das palavras.

“Só estamos a ouvir palavras dos governos da Europa, dos Estados Unidos. São só palavras e nada fazem. Por cada semana, há centenas de pessoas a morrer, muitas delas crianças. Na realidade, não conseguimos explicar como isto se está a passar”, afirmou.

Outro manifestante, Alan Stoleroff, responsável da Jews for Peace and Justice, equipara o que Israel faz nos territórios palestinianos ao que a Rússia faz na Ucrânia, sustentando que Telavive tem em curso “uma operação especial militar” que já se constituiu “como um genocídio”.

“Uma palavra: neste momento, genocídio. Netanyahu não quer o fim daquilo que está a chamar uma guerra. Não é propriamente uma guerra. Neste momento, é uma operação militar especial, para citar [o Presidente russo, Vladimir] Putin. Netanyahu não pretende acabar com essa operação até, como dizem explicitamente os seus ministros dos dois ou três grupos de partidos da extrema, extrema, extrema, extrema-direita, haver a expulsão definitiva dos palestinianos da Faixa de Gaza”, declarou.

Stoleroff, 71 anos, natural de Brooklyn, nos Estados Unidos, e em Portugal há cerca de 45, afirmou à Lusa não entender porque continua a guerra, “até porque Gaza está arrasada e já não é habitável”.

“Estão a utilizar uma arma de fome para pressionar a população civil da Palestina, sejam simpatizantes do Hamas, ou não. É absolutamente ilegal, imoral, sem precedentes”, afirmou Stoleroff, defendendo que o movimento global de judeus em curso contra o governo de Netanyahu “mina a legitimidade do Estado de Israel ao pretender falar e atuar para todos os judeus e israelitas do mundo”.

A manifestação contou também com cartazes a denunciar a atuação do Governo israelita e com palavras de ordem como “parem o genocídio”, “judeus pela paz e pela justiça”, “igualdade para todos” ou “suspender o acordo de associação Israel/UE”.

A organização entregou uma carta aberta aos partidos representados no Parlamento a denunciar a postura israelita nos territórios ocupados.

Israel está em guerra com o Hamas desde o ataque dos islamitas de 07 de outubro de 2023, em que mataram cerca de 1.200 pessoas e raptaram mais de duas centenas. A retaliação israelita já fez mais de 54 mil mortos em Gaza, de acordo com as autoridades controladas pelo Hamas.