O Conselho Nacional das Igrejas (NCC, na sigla em inglês), nos Estados Unidos, e também a maior comunidade mundial de Igrejas protestantes e ortodoxas – o Conselho Mundial de Igrejas (CMI) – pediram a anulação da medida anunciada, que, temem, poderá “provocar um desastre”.
“Apelo ao Presidente para reconsiderar as suas palavras e não cortar o nosso financiamento à OMS”, afirmou o reverendo John Dorhauer, presidente do conselho de administração do NCC, em comunicado divulgado no site da organização. “Devemos mais do que isso ao mundo e as nossas contribuições para a saúde mundial são uma obrigação moral; não nos podemos descartar”, defendeu.
O padre Ioan Sauca, representante do CMI, expressou por seu lado uma “profunda consternação” perante a ideia de os EUA falharem para com a OMS, que considera “o melhor instrumento disponível atualmente para uma resposta mundial coordenada e coerente a esta crise comum”. O caminho, segundo este padre ortodoxo, deverá ser no sentido contrário. “Alarma-nos que, neste estado crítico, numa altura em que este instrumento deveria ser reforçado e tornado mais eficaz face a uma ameaça sem precedentes, ele seja deliberadamente minado”, alertou.
Também António Calaim, presidente da Aliança Evangélica Portuguesa, afirmou, em declarações ao 7MARGENS, que esta federação “de maneira nenhuma se identificam com a postura de Donald Trump”, considerando que a mesma revela “uma enorme falta de senso comum”.
“Há tendência para associar os evangélicos com estes líderes [referindo-se a Donald Trump e Jair Bolsonaro], mas é importante que as pessoas percebam que, dentro da mesma Igreja, nem todos temos as mesmas opiniões. Uma das coisas mais importantes que a Reforma [de Lutero] nos trouxe foi a liberdade, até mesmo na interpretação das próprias escrituras”, salientou.
O Presidente dos Estados Unidos anunciou no dia 14 de abril que iria cortar o financiamento à OMS, acusando aquela organização de falta de transparência no combate à pandemia de covid-19, e sugerindo que a mesma teria colaborado com a China no encobrimento da transmissão do novo coronavírus.
“Se a OMS tivesse feito o trabalho de enviar especialistas à China para, objetivamente, avaliar a situação no terreno e denunciar a falta de transparência da China, a pandemia teria sido contida na fonte com muito poucas mortes”, afirmou então Donald Trump.
“Na realidade, a OMS soou o alarme cedo e ofereceu kits de teste aos Estados Unidos, que foram recusados”, denuncia o comunicado do Conselho Nacional das Igrejas norte-americanas.
Esta segunda-feira, dia 20, o presidente da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, desmentiu as declarações de Trump, durante uma conferência de imprensa na sede da organização, em Genebra. “Nada foi escondido aos Estados Unidos. Lançámos o alerta, desde o primeiro dia. (…) Não há segredos na OMS”, assegurou, deixando um pedido de “solidariedade global”.
Amnistia pede “medidas de saúde pública” em vez de “intolerância”
Nesse mesmo dia, Donald Trump fez um novo anúncio: irá “suspender a imigração” no país, uma medida que diz ser necessária para combater a pandemia e proteger os postos de trabalho dos cidadãos norte-americanos.
Esta é uma medida sem precedentes na história do país, não tendo sido decretada nem durante a pandemia de 1918, nem durante a Segunda Guerra Mundial. Já nesta terça, 21 de abril, ao final da tarde, o Presidente dos EUA anunciou que a medida estará em vigor durante 60 dias.
O primeiro anúncio foi feito através da conta de Twitter do Presidente. “Perante o ataque do Inimigo Invisível e a necessidade de proteger os postos de trabalho dos nossos grandes cidadãos americanos, vou assinar um decreto presidencial para suspender de forma temporária a imigração nos Estados Unidos”, escreveu Donald Trump, sem avançar pormenores sobre a medida.
Também na rede Twitter, uma das representantes da Amnistia Internacional nos Estados Unidos, Charanya Krishnaswami, já reagiu: “Quando se é xenófobo, a única solução repetida, falhada e odiosa em que se pode pensar é a proibição das migrações”, afirmou. “A suspensão da imigração não vai tornar os Estados Unidos – que lideram o número de casos [de covid-19] em todo o mundo – mais seguros. As nossas políticas têm de assentar em medidas de saúde pública e não em intolerância.”
Ainda não se conhecem os pormenores do decreto presidencial de Donald Trump, mas ele será certamente contestado nos tribunais pelos grupos de defesa dos direitos dos imigrantes e pode mesmo chegar ao Supremo Tribunal, como tem acontecido com outras ordens da Casa Branca relacionadas com a imigração.
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