Em declarações à Lusa, João Queirós, primeiro autor do artigo e investigador do CIBIO-InBIO da Universidade do Porto, contou que o estudo, publicado esta segunda-feira na revista internacional PLOS ONE, teve como principal objetivo “perceber o panorama evolutivo e demográfico” das populações de veados da Península Ibérica.
Assim, através da recolha de mais de 900 amostras de indivíduos da espécie, a equipa de investigadores analisou vários marcadores (desde o ADN mitocondrial ao ADN nuclear), simulou modelos ecológicos de distribuição da espécie no passado, tendo em conta variáveis bioclimáticas, e compilou os registos fósseis disponíveis desde os últimos 50 mil anos.
“Existe uma clara diferenciação genética entre as populações de veado ibérico e da restante Europa. Essa diferenciação genética terá ocorrido há cerca de 27 a 19 mil anos atrás, durante o último máximo glacial [período correspondente à maior extensão de mantos de gelo]”, esclareceu.
Segundo o investigador, para além do estudo, desenvolvido desde 2009, ter permitido concluir que na Península Ibérica existe uma população de veados “claramente distinta da restante”, desconstruiu a ideia de que “as populações de veado na Europa derivavam de populações ibéricas”.
“Os dados recolhidos apontam que as populações atuais de veado no Centro e Norte da Europa não derivam, como antes se pensava, de expansões da Península Ibérica, mas sim de populações que se refugiaram a norte dos Pirenéus”, explicou.
O estudo, que contou com a colaboração de sete instituições nacionais e internacionais, levanta ainda “três hipóteses de novos refúgios” desta população procedente.
“O refúgio que abrigou a população de veados que deu origem à população na restante Europa, pode estar localizado no Sul de França, no Sul do Reino Unido ou numa região entre o Reino Unido e o Sul de França, isto porque durante o último máximo glacial, havia uma ligação continental entre a Europa e o Reino Unido”, disse.
Para João Queirós, os resultados obtidos assumem um papel importante quanto às “implicações na conservação da espécie” e valorização do “património genético” que habita na Península Ibérica e que está “adaptado ao nosso clima e aos nossos ecossistemas”.
De acordo com o autor do estudo, denominado “Red deer in Iberia: molecular ecological studies in a southern refugium and inferences on European postglacial colonization history”, é fundamental assegurar o património genético de modo a que, no futuro, seja possível “ter populações viáveis e com capacidades adaptativas suficientes para suportar as alterações climáticas”.
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