A Índia enviou três contratorpedeiros com mísseis guiados e aviões de reconhecimento em novembro, quando os rebeldes Huthis do Iémen começaram a atacar navios em solidariedade com o movimento islamita palestiniano Hamas, causando perturbações numa rota comercial que movimenta cerca de 12% do comércio mundial.
O destacamento mostrou o país como um “contribuinte proativo” para a estabilidade marítima internacional, disse o vice-almirante Anil Kumar Chawla, que se aposentou, em 2021, como chefe do comando naval do sul da Índia, citado pela agência de notícias Associated Press (AP).
“Não o estamos a fazer apenas por altruísmo. A menos que sejamos uma potência marítima, nunca poderemos aspirar a ser uma potência global”, disse Chawla.
A Índia, que já é uma potência regional, está a posicionar-se “como um ator global hoje e uma potência global futura”, disse.
Nova Deli está também a divulgar amplamente as suas operações, sinalizando o desejo de assumir uma responsabilidade mais ampla na segurança marítima internacional e a ambição de rivalizar com a China.
“É uma mensagem para a China de que podemos colocar aqui uma força tão grande. Este é o nosso quintal. Apesar de não sermos os seus proprietários, somos provavelmente a potência naval residente mais capaz e responsável”, afirmou Chawla.
A marinha indiana ajudou pelo menos quatro navios, três dos quais foram atacados por rebeldes Huthis e outro pelo Irão, segundo Washington.
A marinha indiana também efetuou várias missões antipirataria.
Os rebeldes Huthis, apoiados pelo Irão, atacaram dezenas de navios no Mar Vermelho, em solidariedade com o Hamas, que trava uma guerra com Israel na Faixa de Gaza.
Os Estados Unidos e os seus aliados responderam com várias rondas de bombardeamentos de posições rebeldes. A Índia não se juntou à força liderada pelos EUA que está a combater os Huthis.
Em 26 de janeiro, o contratorpedeiro indiano de mísseis guiados INS Visakhapatnam ajudou a tripulação de um navio-tanque com bandeira das Ilhas Marshall a combater um incêndio depois de ter sido atingido por um míssil no Golfo de Aden. Cerca de 10 dias antes, o Visakhapatnam respondeu a um pedido de socorro do navio mercante Genco Picardy, propriedade dos EUA, na sequência de um ataque de veículos aéreos não tripulados nas mesmas águas.
“A segurança marítima não tem sido um pilar forte dos compromissos de política externa da Índia ao nível que estamos a começar a ver agora”, disse Darshana M. Baruah, membro do Carnegie Endowment for International Peace, citado pela AP.
“A China é um fator a ter em conta”, afirmou.
As duas potências já se encontram num impasse militar ao longo da sua fronteira disputada nos Himalaias.
A China tem vindo a reforçar a sua presença no Oceano Índico, uma rota fundamental para o abastecimento energético. O país tem a maior marinha do mundo em número de navios, mais de três vezes superior à marinha indiana.
A China opera também uma poderosa frota de grandes navios da guarda costeira e aquilo a que se chama a sua milícia marítima, constituída por navios de pesca que cooperam com a guarda costeira na reivindicação de territórios no Mar do Sul da China.
Pequim tem aprofundado o envolvimento no Oceano Índico, principalmente através de acordos para construção de infraestruturas com os vizinhos da Índia, incluindo o Bangladesh, o Sri Lanka e, mais recentemente, as Maldivas.
“Os chineses estão a procurar cada vez mais bases navais no Oceano Índico alargado”, disse o tenente-general D. S. Hooda, um antigo oficial militar indiano e agora especialista em estratégia. “Perante isto, a Índia não tem outra opção senão continuar a construir as suas próprias bases”, defendeu.
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