
O argumento sobre “a mais longa dispersão transoceânica conhecida de qualquer vertebrado terrestre” é apresentado num novo estudo realizado por biólogos da Universidade da Califórnia (UC), em Berkeley, e da Universidade de São Francisco (USF), indica um comunicado da primeira destas universidades.
Sabe-se que a dispersão pela água é a principal forma de ocupação de ilhas recém-formadas por plantas e animais, incluindo os humanos, originando muitas vezes a evolução de novas espécies e o aparecimento de novos ecossistemas.
A nova análise, publicada na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences, sugere que a chegada dos antepassados das iguanas das ilhas Fiji coincidiu com a formação destas ilhas vulcânicas, com a chegada estimada para ter acontecido há 34 milhões de anos ou mais recentemente, resultando na divergência genética destas, o género 'Brachylophus', dos seus parentes mais próximos, as iguanas do deserto da América do Norte, do género 'Dipsosaurus'.
"Descobrimos que as iguanas das ilhas Fiji estão mais profundamente relacionadas com as iguanas do deserto da América do Norte, algo que se desconhecia, e que a linhagem das iguanas das ilhas Fiji se separou da sua linhagem irmã há relativamente pouco tempo, há perto de 30 milhões de anos, depois ou quase na mesma altura em que houve atividade vulcânica que poderia ter produzido terra", disse o autor principal do estudo Simon Scarpetta, citado no comunicado.
"Parece uma loucura que tenham chegado às ilhas Fiji diretamente da América do Norte", referiu o coautor do estudo Jimmy McGuire, professor de biologia integrativa na UC Berkeley e conservador de herpetologia (estud dos répteis) no Museu de Zoologia de Vertebrados da universidade.
"Os modelos alternativos que envolvem a colonização de áreas terrestres adjacentes não funcionam para o período de tempo, uma vez que sabemos que chegaram às Fiji nos últimos 34 milhões de anos. Isto sugere que, assim que a terra apareceu onde as Fiji agora existem, estas iguanas podem tê-la colonizado. Independentemente do momento real da dispersão, o evento em si foi incrível".
Hoje é possível, aproveitando os ventos favoráveis, chegar às ilhas Fiji a partir da Califórnia (Estados Unidos) em cerca de um mês, mas uma iguana, ou mais provavelmente um grupo de iguanas, terá levado muito mais tempo, segundo os cientistas, que assinalam que estes répteis estão habituados a longos períodos sem comida e água e são herbívoros, pelo que se viajaram em cima de restos de árvores à deriva estas podiam ter servido de alimento.
"Pode-se imaginar algum tipo de ciclone a derrubar árvores, onde estava um grupo de iguanas e talvez os seus ovos, que depois foram levadas pelas correntes oceânicas", disse Scarpetta.
De acordo com o comunicado, o que a maioria das pessoas considera iguanas são os lagartos da família 'Iguanidae', da qual existem 45 espécies nas Caraíbas e nas áreas tropicais, subtropicais e desérticas da América do Norte, Central e do Sul. As iguanas das ilhas Fiji são uma exceção, vivendo sozinhas no meio do Pacífico.
As quatro espécies de Fiji e Tonga fazem parte da lista dos animais em risco de extinção, principalmente devido à perda de ‘habitat’, à predação por ratos invasores e ao contrabando que alimenta o comércio de animais de estimação exóticos.
Dado que as análises genéticas anteriores de alguns genes de lagartos iguanídeos não tinham sido conclusivas sobre a relação das iguanas das ilhas Fiji com as outras, Scarpetta iniciou há alguns anos uma investigação abrangente de todos os géneros de Iguania para explicar a árvore genealógica do grupo.
O cientista recolheu sequências de ADN de todo o genoma, de mais de 4.000 genes, e de tecidos de mais de 200 espécimes de coleções de museus de todo o mundo e, quando começou a comparar os dados, um resultado destacou-se claramente: as iguanas das ilhas Fiji são as mais próximas das iguanas do género 'Dipsosaurus'.
"As iguanas e as iguanas do deserto, em particular, são resistentes à fome e à desidratação, por isso o meu raciocínio é que, se houvesse algum grupo de vertebrados ou qualquer grupo de lagartos que pudesse realmente fazer uma viagem de 8.000 quilómetros pelo Pacífico num pedaço de vegetação, seria um antepassado semelhante a uma iguana do deserto", referiu Scarpetta.
O cientista continua a analisar os dados do genoma dos lagartos iguanídeos para saber mais sobre as suas relações evolutivas e perceber os seus movimentos e interações através do tempo e do espaço.
Participaram também no estudo Robert Fisher, do Serviço Geológico dos Estados Unidos em San Diego, Benjamin Karin e Ammon Corl, da UC Berkeley, Jone Niukula, da NatureFiji-MareqetiViti, organização não-governamental das Fiji, e Todd Jackman, da Universidade de Villanova, na Pensilvânia, Estados Unidos.
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