A advogada das vítimas, Liesbeth Zegveld, disse à agência noticiosa EFE que a Holanda "está cada vez mais próxima de reconhecer" a escravização destas jovens em lavandarias e ‘ateliers’ de costura daquela congregação religiosa.
"No início diziam que não queriam falar do assunto porque iam tratar os abusos sexuais na Igreja Católica, e este caso era totalmente diferente, só se referia a trabalhos forçados, e era normal, na época", recordou a advogada.
Mas houve alterações de posição oficial, e o Estado afirma estar aberto a investigar, sendo que o mais certo é que venha a ser feita uma compensação das vítimas.
Com uma larga experiência de defesa de vítimas de violação de direitos humanos na Holanda e noutros países, Zegveld lamenta que estes delitos "só possam ser investigados com ajuda da congregação", que já abriu os seus arquivos a uma comissão estatal.
Assegurou que está preparada para levar o Estado a tribunal, um passo que será "mais do que provável", devido à lentidão da reação oficial em solucionar o caso, mas espera do Governo do liberal Mark Rutte "coopere", porque "não está no interesse de ninguém" que a situação se converta numa batalha judicial.
Milhares de adolescentes estigmatizadas como "prostitutas" ou provenientes de "famílias desestruturadas" foram encerradas na congregação de Nossa Senhora do Bom Pastor, na Holanda, entre 1860 e 1978, onde foram obrigadas a trabalhar durante 60 horas por semana, sem pagamento pelos seus serviços.
Eram, na sua maioria, meninas órfãs, vítimas de abusos sexuais ou de violência de género, classificadas como adolescentes rebeldes ou hiperativas "incontroláveis".
Foram obrigadas a coser ou limpar camisas para o Exército, lençóis e toalhas para hospitais, e vestuário para empresas.
A congregação é acusada de maus tratos a estas meninas, que foram forçadas a trabalhar sem parar durante anos, sem receberem qualquer pagamento ou escolarização, tendo sido obrigadas a fazer trabalhos que não eram adequados à sua idade.
Considera ainda que houve "benefício económico" com este trabalho escravo, e, por essa razão, a congregação deve ser obrigada a pagar o trabalho às vítimas e a compensá-las também pelos danos imateriais.
A advogada indicou que a congregação já veio recusar qualquer responsabilidade no caso, pois diz que não teve iniciativa no internamento, que era normalmente acionado pelo Estado, ou por tribunais.
Acrescenta que o tratamento feito às meninas "era normal naquela época, quando as crianças eram criadas em orfanatos", e, por outro lado, sustentam que o destino destas crianças "poderia ter sido pior".
A defesa considera que o caso tem sido esquecido por envolver meninas, considerando esta uma atitude social "machista", mas aponta que a postura oficial está a mudar desde que o parlamento e o executivo holandês abriram conversações sobre a matéria.
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