“É o momento de a comunidade internacional estar com eles”, sublinhou Guterres, indicando que mesmo antes de os talibãs retomarem o poder no Afeganistão, o país já experimentava “uma das piores crises humanitárias do mundo”.
A reunião ministerial internacional pretende recolher da comunidade internacional 606 milhões de dólares (cerca de 513 milhões de euros) – numa altura em que um em cada três afegãos “não sabe quando será a sua próxima refeição”, frisou Guterres, e centenas de milhares de pessoas tiveram que abandonar as suas casas — mas também reafirmar os direitos dos afegãos, ameaçados pelos talibãs, sobretudo os das mulheres.
“Os afegãos precisam de uma boia de salvação” para enfrentar aquelas que são talvez as suas “horas mais difíceis”, afirmou António Guterres.
O responsável deslocou-se à sede da ONU em Genebra, onde várias dezenas de ministros de países doadores — de forma presencial e virtual — deverão comprometer-se a ajudar o país da Ásia central, agora novamente liderado pelos talibãs, após uma longa guerra de reconquista contra um regime apoiado durante 20 anos pela comunidade internacional.
A uma economia em processo de colapso, soma-se uma seca severa e a pandemia de covid-19, recordou Guterres, sublinhando que as organizações humanitárias precisam de 606 milhões de dólares até ao fim do ano para suprir as necessidades de 11 milhões de afegãos, de um total de 38 milhões de habitantes.
A própria ONU, anunciou o secretário-geral, vai levantar 20 milhões de dólares de um fundo de ajuda de emergência para apoiar imediatamente a ação das agências humanitárias.
Guterres exigiu acesso garantido ao país para encaminhar a ajuda e o pessoal, mas também um acesso seguro às zonas com maiores necessidades.
No seu breve discurso de abertura, Guterres insistiu também na “necessidade de salvaguardar os direitos das mulheres e das meninas no Afeganistão — incluindo pelo acesso à educação e a outros serviços essenciais”.
“Um dos pontos positivos no Afeganistão atualmente é uma nova geração de mulheres dirigentes e empresárias educadas, que se multiplicaram nas últimas duas décadas”, insistiu, num momento em que os talibãs já começaram a impor restrições às atividades das mulheres, depois de tomarem o poder a 15 de agosto.
“As mulheres e as meninas afegãs querem assegurar-se de que o progresso não será apagado, de que as portas não vão fechar-se e de que a esperança não se extinguirá”, declarou Guterres.
Esta conferência “não é só sobre o que vamos dar aos afegãos, é também sobre o que lhes devemos”, sustentou.
O secretário-geral adjunto da ONU para os Assuntos Humanitários, Martin Griffiths, que esteve em Cabul na semana passada, disse que os talibãs se comprometeram por escrito a facultar o acesso da ajuda e a proteger os trabalhadores humanitários.
Griffiths leu excertos de uma carta em que eles se comprometem “a levantar todos os obstáculos que estão a travar a ajuda e todos os projetos sob a supervisão da ONU e de outras organizações internacionais”, a proteger “a vida, a propriedade e a honra dos trabalhadores humanitários” e a não penetrar nas bases da ONU e de organizações não-governamentais (ONG).
Segundo o responsável, os talibãs reiteraram igualmente os seus compromissos em relação aos direitos das mulheres, das minorias e à liberdade de expressão, “no respeito da cultura e da religião”.
Nessa carta, os talibãs pedem a ajuda da comunidade internacional para a reconstrução do país e o combate ao tráfico de droga.
Por seu lado, Filippo Grandi, o alto comissário da ONU para os Refugiados (ACNUR), falando por videoconferência de Cabul, pediu aos países doadores para desembolsarem os fundos incondicionalmente, para que possam ser utilizados de acordo com as necessidades identificadas no terreno.
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