Um desses exemplos podia ser visto na porta de entrada dos serviços de cardiologia, pneumonia, consulta externa e unidade de broncologia, que estava fechada e onde se podia ler, em papéis afixados, a palavra “Greve”.
Também à entrada do hospital o gabinete de colheita de sangue encontrava-se de portas fechadas e dezenas de utentes não sabiam se o mesmo ainda ia abrir, não havendo avisos por parte dos funcionários.
Um utente do hospital, Emanuel Santos, disse ter conhecimento da greve, mas “contava que, com serviços mínimos, houvesse pelo menos uma pessoa para marcar consultas para outro dia”.
“Eu tenho de fazer controlo de sangue, tenho que tomar conforme o que o médico manda, e agora o que vou tomar? Vou para casa sem saber que medicamento tomar”, explicou, acrescentando que viu chegaram “ambulâncias com doentes e foram-se embora outra vez”, tal como os utentes, “que vieram de longe”.
Tal como Emanuel Santos, Alírio Ferreira foi apanhado de surpresa quando ia fazer análises, porque, embora sabendo “que ia haver greve hoje”, desconhecia se havia alguém que o pudesse atender.
“O Hospital não deu indicação nenhuma, cheguei lá e a porta estava fechada. Eles [função pública] devem ter as suas razões, mas é claro que nós [utentes] não queremos ser prejudicados. Agora vou ver se consigo fazer um eletrocardiograma, porque também não sei se me atendem ou não”, contou.
Elsa Silva, técnica superiora de saúde, explicou à Lusa que não aderiu à greve, porque na próxima semana já vai haver uma “dedicada aos técnicos superiores de tecnologia, no Porto”, na qual vai participar, criticando o Governo anterior.
“O Governo anterior tirou-nos tudo, pôs-nos a trabalhar 20 horas de borla. Mas este [Governo] pelo menos está a negociar os escalões, e a fazer alguma coisa pela função pública. Só por isso – terem boa-fé – é que não fiz greve”, declarou.
Ainda assim, disse estar descontente com o atual executivo, apenas porque “comprometeram-se a pôr tudo por escrito a nível de profissão de carreira, e não cumpriram”, mas, “em relação à função pública, estão a fazer muito mais em pouco tempo”, do que o Governo anterior.
“Sinto o serviço afetado. Tudo o que eram exames marcados foram todos desmarcados, porque não temos assistentes operacionais, ou seja, tudo o que não forem doentes de urgência vão embora. O nosso trabalho hoje é apenas presencial e, se houver alguma urgência, temos de ir. De resto, tudo o que seja programado, não há como fazer o trabalho. Não se pode meter um doente numa sala toda suja”, finalizou.
A adesão à greve no segundo turno dos hospitais e nas escolas estava, às 10:00 de hoje, próxima dos 100%, segundo a coordenadora da Frente Comum de sindicatos da Função Pública, Ana Avoila.
Os professores também estão a cumprir uma greve, convocada pela Federação Nacional dos Professores (Fenprof) em defesa dos direitos, das carreiras, da estabilidade e dos salários.
Em causa na greve nacional está a falta de respostas às reivindicações da Frente Comum, como o aumento dos salários na função pública, o descongelamento "imediato" das progressões na carreira e as 35 horas semanais para todos os trabalhadores.
Esta é a terceira greve nacional dos trabalhadores da Administração Pública com o atual Governo e a primeira convocada pela Frente Comum de Sindicatos, segundo a listagem cedida pela estrutura sindical.
A primeira greve com o executivo de António Costa ocorreu em 29 de janeiro de 2016 e foi convocada pela Federação Nacional dos Sindicatos da Administração Pública, assim como a de 26 de maio deste ano, que teve como objetivo reivindicar aumentos salariais, o descongelamento das carreiras, o pagamento de horas extraordinárias e a redução do horário de trabalho para 35 horas em todos os serviços do Estado.
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