Proveniente de Castelo Branco, Susana Esteves chegou cedo à cidade do Mondego, para uma consulta e realização de análises numa unidade do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC).
A viagem de autocarro demora geralmente mais de duas horas, ao longo de 225 quilómetros, só que desta vez a utente perdeu o tempo e o dinheiro do transporte sem resultados.
“Não estou contra a greve, mas nós não temos culpa. Nós é que sofremos”, afirma à agência Lusa Susana Esteves, auxiliar de ação educativo numa escola da sua terra.
No edifício São Jerónimo, que integra o polo principal do CHUC, junto ao bairro de Celas, foi informada de que “o médico em princípio vem”, do que pouco lhe serve, já que o serviço não terá hoje condições para efetuar o necessário exame complementar.
De vez em quando, uma viatura dos Serviços Municipalizados de Transportes Urbanos de Coimbra (SMTUC) cruza a entrada principal do complexo de hospitais públicos.
O trânsito flui com normalidade, num local que está calmo, mas onde costuma haver uma pequena multidão à espera de transporte.
Parado na praceta Carlos Alberto da Mota Pinto, o taxista Duarte Patrício conta, às 09:30, que já efetuou dois serviços, solicitados depois das 08:30.
“É o normal dos outros dias”, declara à Lusa, recordando que em anteriores paralisações de trabalhadores da Função Pública teve um significativo acréscimo de clientes, já que a escassez de transportes coletivos foi mais sentida pela população, incluindo os milhares de utentes dos serviços de saúde, públicos e privados, que diariamente afluem a Coimbra.
Duarte Patrício vive e trabalha numa cidade que conhece bem. A falta de autocarros e tróleis dos SMTUC é, na sua opinião, um importante indício de que uma greve da função pública “está ou não” a ter grande impacto na cidade.
“Os autocarros é que fazem a diferença. Mas não estou a ver diferença”, sublinha.
No entanto, admite, também a maior ou menor dificuldade com que os automobilistas podem arrumar as viaturas nos parques do próprio CHUC ou nas artérias em redor.
Às 09:00, nas ruas estreitas do bairro de Celas, onde a Câmara acomodou em meados do século XX as famílias desalojadas devido à demolição da Alta, para ali construir os novos edifícios da Universidade, havia ainda algures lugares de estacionamento, o que não se verifica normalmente a essa hora.
O bombeiro César Nunes Lopes também chegou cedo às instalações do CHUC, onde frequentemente transporta doentes de Cernache do Bonjardim, no concelho da Sertã.
“Parece que hoje há menos queixas das pessoas”, refere o profissional da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Cernache do Bonjardim.
Para César Nunes Lopes, quando são os médicos a fazer greve “é que para tudo” nos hospitais públicos de Coimbra.
Dois grupos de estudantes de Medicina dirigem-se para o edifício principal dos CHUC, onde têm habitualmente aulas práticas de diferentes cadeiras.
Não querem falar à Lusa. Alegam que estão “com muita pressa”. Mas admitem que as lições irão decorrer como habitualmente.
“Não quero falar sobre a greve”, explica-se um deles na sua marcha acelerada, olhando ainda para trás.
No muro de um alegrete de flores, um outro futuro médico dá uma derradeira revisão à sebenta antes de mais um exame.
Está concentrado no seu objetivo académico. Ainda assim, expressa a convicção de que a prova irá realizar-se.
Convocada pela Federação Nacional dos Sindicatos dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais (FNSTFPS), a greve nacional de hoje na Função Pública foi anunciada no início de abril para reivindicar aumentos salariais, pagamento de horas extraordinárias e as 35 horas de trabalho semanais para todos os funcionários do Estado.
O regime das 35 horas foi reposto em julho de 2016, deixando de fora os funcionários com contrato individual de trabalho, sobretudo os que prestam serviço nos hospitais EPE.
A FNSTFPS, afeta à CGTP, é composta pelos sindicatos do norte, centro, sul, regiões autónomas e consulares, e representa 330 mil funcionários.
A última greve geral convocada pela FNSTFPS com vista à reposição das 35 horas semanais realizou-se em janeiro de 2016, e teve, segundo a estrutura, uma adesão média entre 70% e 80%, incluindo os hospitais.
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