Com este estudo, designado "Bambino - Saúde Perinatal em Imigrantes: Barreiras, Incentivos e Resultados", pretende-se "compreender de que forma os serviços de saúde são utilizados pelas mulheres imigrantes, em comparação com a população portuguesa", disse à Lusa o coordenador do projeto, Henrique Barros.
Para obtenção dos dados vão ser inquiridas sete mil mulheres (3.500 imigrantes e 3.500 portuguesas nativas), durante o período de dez meses a um ano, sendo o recrutamento das participantes realizado por profissionais de 38 centros hospitalares com maternidade (todos os que se localizam em Portugal Continental).
As imigrações para a Europa "têm vindo a aumentar", indicou o responsável pela Unidade de Investigação em Epidemiologia Perinatal e Pediátrica daquele instituto da Universidade do Porto, para quem "é fundamental" compreender as respostas que existem para esse fenómeno, principalmente nos locais onde, por tradição, "a diversidade cultural não é a regra".
Para este estudo, Henrique Barros acredita ser importante verificar como os fatores socioeconómicos, as diferenças culturais, a língua e a organização dos serviços de saúde podem influenciar a saúde das mulheres imigrantes e dos recém-nascidos.
Apesar de a legislação portuguesa prever que os imigrantes residentes em Portugal tenham as mesmas condições de acesso aos serviços de saúde que os portugueses (independentemente da sua situação jurídica), o coordenador alerta para a existência de estudos que descrevem algumas barreiras e indicadores desfavoráveis nessa área.
A equipa envolvida no projeto pretende, assim, perceber se os dispositivos legais - como o direito a cuidados sem restrição - funcionam de forma efetiva, o que lhes vai permitir analisar "as desigualdades que as imigrantes enfrentam" nesses casos.
Os resultados deste estudo vão servir de base para apoiar decisões no âmbito da implementação de programas de saúde relacionados com a gravidez e da integração das imigrantes no Sistema Nacional de Saúde, referiu Henrique Barros.
Segundo o coordenador, esses dados podem também ser utilizados para melhorar a eficácia dos programas de acompanhamento desta população, que considera "vulnerável", a curto e a longo prazo.
A investigação vai permitir ainda comparar as práticas portuguesas com as realizadas em países como o Canadá, a Austrália, o Reino Unido e a Noruega, nos quais se aplicam questionários semelhantes aos utilizados em território nacional.
Participam neste estudo cerca de 14 investigadores, epidemiologistas, sociólogos e médicos de saúde pública e de obstetrícia do ISPUP, bem como 80 investigadores clínicos pertencentes aos Serviços de Obstetrícia dos hospitais públicos portugueses.
O projeto conta igualmente com o apoio técnico do Alto-Comissariado para as Migrações nas, traduções necessárias.
O "Bambino", cujos resultados serão tratados até finais de 2018 e divulgados no início de 2019, é financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT).
O projeto que vai ser apresentado hoje, a partir das 12:00, no auditório do Museu Soares dos Reis, no Porto.
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