"Já batemos no fundo". Estas foram as primeiras palavras do ministro de Estado e das Finanças, João Leão, quando Vítor Gonçalves, no programa Grande Entrevista, da RTP3, onde o governante deu a primeira entrevista desde que sucedeu a Mário Centeno no cargo, o questionou sobre a fase da crise que estamos a atravessar. "Já batemos no fundo ou o pior ainda está para vir?", questionou o jornalista. João Leão foi perenptório.
Afinal de contas, quem o dizia eram os números e não ele. No segundo trimestre do ano, durante o qual aconteceu o período de confinamento e foi decretado o estado de emergência, a economia caiu 16%. Já no último trimestre, " houve sinais de recuperação um bocadinho acima do que estávamos à espera", confessou, dando como exemplo o número de pagamentos por multibanco, "o indicador mais avançado que temos" e que durante a pandemia chegou a cair 40% e que agora se tem mantido em valores estáveis.
João Leão disse que sobretudo em julho e agosto registou-se uma recuperação "ligeiramente acima do esperado", adiantando que a receita do IRS de agosto, após quedas acentuadas em meses anteriores, teve um aumento homólogo de 7%, uma subida que corrigida de efeitos extraordinários foi de 1%.
"O que nós entendemos é que o terceiro trimestre que ficou melhor do que nós tínhamos antecipado, a nossa previsão é que o quarto trimestre não seja tão bom como nós tínhamos antecipado. [...] Nós estimávamos que no quarto trimestre houvesse uma queda homóloga mais ligeira, mais perto dos 4%. Ainda é cedo para concluir, é muito incerta a situação", explicou.
No entanto, nada disto pode originar uma previsão concreta a curto prazo, uma vez que a " a economia vai depender da evolução da pandemia" e vivemos "momentos de grande incerteza", tendo o governante dado como exemplo "alguns países da Europa a pandemia está a evoluir até pior do que esperado".
Se a economia já bateu no fundo, sobre o desemprego o pior ainda está para vir, seguindo a dictomia proposta pelo entrevistador. "A nível do emprego e desemprego, o pior ainda não passou e vamos ter algum período de desemprego relativamente elevado que pode chegar a valores próximos dos 9/10% quer este ano, quer no próximo", disse o ministro.
Questionado, quanto "custou" a pandemia, João Leão revelou que, "se pensarmos nas medidas mais diretas em termos de despesa, neste momento já executámos, e agora estou a falar até ao mês de julho, mais 1.100 milhões de euros relacionados com a pandemia". A grande maioria dos gastos está ligada à Segurança Social, apoios à família e à Saúde.
"Acredito que o Orçamento vai ser aprovado"
Sobre o Orçamento de Estado para 2021, que se aproxima da reta final da fase de negociações, João Leão foge às polémicas para dizer "acredito que o Orçamento vai ser aprovado", assumindo no entanto as dificuldades que aí vêm. "É natural que estes orçamentos sejam uma negociação exigente até porque são partidos que todos têm as suas prioridades e querem que essas prioridades estejam refletidas no OE. É sempre uma negociação exigente, mas temos conseguido chegar a um compromisso nos últimos anos", disse.
Aumento do salário mínimo "com significado" em 2021
Sobre o próximo ano, o ministro defendeu ainda que no próximo ano deve haver margem para aumentar "com significado" o salário mínimo nacional, após uma negociação na Concertação Social.
"A nossa intenção é, no próximo ano prosseguir com o diálogo que tem de ser feito na Concertação Social, com o aumento do salário mínimo e que haja um aumento com significado", afirmou.
João Leão sublinhou que "houve setores muito afetados" pela crise da pandemia de covid-19 "e que há "muitos trabalhadores" a ganhar o salário mínimo, atualmente de 635 euros, mas o Governo entende que "deve haver margem" para aumentar a remuneração mínima.
Questionado sobre se o aumento em 2021 poderá ser ao nível do que foi aplicado este ano, de 35 euros, o ministro sublinhou, no entanto, que "o mundo mudou" com a pandemia e que por isso será necessário avaliar a situação das empresas.
Quanto aos salários da administração pública, João Leão afirmou que em 2021 haverá uma subida superior a 2% da massa salarial devido às progressões e à recuperação do tempo de serviço dos professores e das carreiras especiais.
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