“Vai haver mais empenho [por parte do Governo], no sentido de dar andamento às medidas estipuladas na resolução aprovada em 2017”, disse aos jornalistas, em Portalegre, a dirigente do PEV, Manuela Cunha, após uma reunião com a ministra da Cultura, Graça Fonseca.
A reunião entre os ecologistas e a ministra da Cultura surgiu na sequência da denuncia que o PEV efetuou, na sexta-feira, sobre a demolição de um dos edifícios da antiga fábrica Robinson, património industrial de Portalegre, pelo atual conselho de administração da sociedade gestora.
“A senhora ministra está também atenta à violação que foi cometida, porque é tutela e foi destruído património”, disse.
Manuela Cunha garantiu ainda que, no decorrer da reunião, ficou estabelecido que a resolução “não caia num saco roto”, ficando também estipulado que o PEV e a Direção Regional de Cultura do Alentejo vão “voltar a sentar-se à mesa”, no sentido de poderem ser concretizadas medidas de valorização daquele património.
O Conselho de Administração da Fundação Robinson já refutou as acusações de Os Verdes, que acusam aquela entidade de ter praticado um crime contra o património, ao demolir um dos edifícios classificados de interesse público.
“Não corresponde minimamente à verdade a demolição de um edifício. É uma palavra extremamente agressiva e revela um desconhecimento da realidade”, disse o presidente do Conselho de Administração da Fundação Robinson, José Faria Paixão, em declarações à agência Lusa.
Na sequência desta situação, o município de Portalegre, em comunicado, explica que o plano de requalificação do espaço Robinson, com projeto do arquiteto Souto de Moura, “foi aprovado” em 2008, e nele “estava previsto” a demolição de três edifícios, sendo um deles o edifício em causa.
“Esta demolição, integrada no plano de requalificação do espaço Robinson, teve o parecer favorável do [antigo] Instituto de Gestão do Património Arquitetónico e Arqueológico [Igespar]”, lê-se no documento.
O município relembra ainda que, em março de 2018, na sequência da “derrocada” da cobertura e paredes do referido pavilhão, o acesso ao edifício “foi vedado” por “questões de segurança”.
“O que nos preocupa ainda é que estava lá património [no interior do edifício], estavam lá as máquinas, e derruba-se tudo assim. É um desrespeito pela memória desta terra [Portalegre]”, lamenta por sua vez a dirigente ecologista, Manuela Cunha.
O PEV anunciou ainda que vai desenvolver, nos dias 01 e 02 de fevereiro, uma iniciativa subordinada ao tema “Uma rolha pela fábrica da rolha”, cujo objetivo passa por desafiar a população de Portalegre a escrever os seus respetivos nomes numa rolha.
No decorrer desta ação vão ser distribuídos, por vários pontos da cidade, garrafões para que as pessoas possam entregar as respetivas rolhas, sendo depois recolhidas pelo PEV que as promete entregar à presidente do município, Adelaide Teixeira, para que “perceba” que a população “quer ver preservada” a antiga fábrica.
Em 2017, um grupo de cidadãos, entre os quais dirigentes do PEV, entregaram na Assembleia da República a petição “Salvem a Robinson - Património Industrial Corticeiro”, em Portalegre.
A petição, que reuniu mais de quatro mil assinaturas, tinha por objetivo “salvar e valorizar” o património cultural e material da antiga Fábrica Robinson, situada naquela cidade alentejana e envolvida num processo de insolvência, após ter cessado atividade em 2009.
Ainda em 2017, a petição foi discutida na Assembleia da República, tendo sido aprovada por unanimidade uma recomendação ao Governo no sentido de salvaguardar e valorizar o património industrial corticeira da antiga fábrica.
De acordo com o texto da petição a fábrica foi “instalada em Portalegre desde 1837, por iniciativa de um grupo de industriais ingleses que se dedicavam ao trabalho da cortiça em bruto”.
“Ocupando cerca de sete hectares em pleno centro histórico da cidade de Portalegre, a Fábrica Robinson cessou a sua atividade industrial nos primeiros anos do século XXI, mais precisamente em 2009, na sequência da insolvência da Sociedade Corticeira Robinson”, refere o texto.
A petição sustenta que “as suas duas imponentes chaminés marcam o perfil da cidade, juntamente com a torre de menagem do Castelo e a frontaria e torres sineiras da Sé Catedral, construída em relação com a criação da Diocese de Portalegre e Castelo Branco e a elevação de Portalegre a cidade, por carta régia de D. João III, em 1550”.
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