Barnier enfrenta duas moções de censura na Assembleia Nacional (câmara baixa) que serão debatidas a partir das 16h00 (hora local) e que, para prosperar, precisam do apoio de pelo menos 288 deputados. Os grupos de oposição somam quase 330 cadeiras.

O primeiro-ministro conservador, de 73 anos, fez um apelo à "responsabilidade" dos deputados para que não derrubem o governo, num momento económico tenso, o risco da dívida francesa quase igual ao da Grécia.

Além disso, a instabilidade na França e a crise de governo na Alemanha, que precisou antecipar as eleições legislativas para 23 de fevereiro, podem afetar a UE, a poucas semanas do regresso de Donald Trump ao poder nos Estados Unidos.

"O interesse do país é mais importante que o interesse dos partidos", enfatizou o presidente francês, Emmanuel Macron, durante uma visita oficial à Arábia Saudita, ao mesmo tempo que tentou acalmar os mercados ao afirmar que a "França tem uma economia forte".

Se o governo cair, Macron, que não é afetado pela moção de censura, poderia nomear Barnier novamente ou outro primeiro-ministro, mas o equilíbrio no Parlamento será o mesmo, já que não pode convocar eleições legislativas antecipadas até meados de 2025.

Barnier, o governante relâmpago

A aprovação da moção de censura tornaria o governo de Barnier o mais curto da Quinta República francesa, que nasceu em 1958, e o segundo a cair, depois da administração de Georges Pompidou em 1962, quando Charles de Gaulle era presidente.

Além disso, e ainda mais importante, aprofundaria a crise política que o país enfrenta desde junho, quando o presidente surpreendeu o país e antecipou as eleições, que estavam previstas para 2027, após a vitória da extrema-direita nas eleições para o Parlamento Europeu.

Embora o presidente de centro-direita já tivesse perdido a maioria absoluta depois da sua reeleição em 2022, as novas eleições resultaram numa Assembleia sem maioria clara e dividida em três blocos irreconciliáveis: esquerda, centro-direita e extrema-direita.

A Nova Frente Popular (NFP) - coligação de socialistas, comunistas, ambientalistas e integrantes da esquerda radical - venceu as eleições, mas, quase dois meses depois, Macron nomeou Barnier, ex-negociador europeu para o Brexit, como primeiro-ministro, em nome da "estabilidade".

Barnier só conseguiu o apoio da aliança de centro-direita de Macron e do seu próprio partido conservador, Os Republicanos (LR), o que significa que a sobrevivência do seu governo dependia da líder de extrema-direita Marine Le Pen, que finalmente decidiu pela queda.

A negociação dos orçamentos para 2025 foi o gatilho da moção de censura. Apesar de várias concessões obtidas, Le Pen estabeleceu como limite que o governo recuasse e adiasse parte da reavaliação das pensões de janeiro para julho, em vão.

"Ficção política"

Com um orçamento baseado na redução do gasto público e no aumento temporário dos impostos para grandes empresas, o governo pretendia reduzir o défice público (projetado para 6,1% do PIB em 2024) e a dívida pública (112% do PIB no final de junho).

"Ao incluir o seu orçamento na desastrosa continuidade de Emmanuel Macron, o primeiro-ministro só poderia fracassar", escreveu a líder do partido de extrema-direita Reagrupamento Nacional (RN) na rede social X.

Numa entrevista aos canais TF1 e France 2, Barnier defendeu-se e afirmou que mudanças foram feitas no plano inicial, depois do governo "ouvir todos". Acusou ainda Le Pen de entrar numa "uma espécie de disputa", com reivindicações sem fim.

Além do orçamento, os partidos jogam as suas cartas para 2027, quando os franceses terão que votar para escolher o sucessor de Macron, que chegou ao poder em 2017 e não pode ser reeleito após completar o seu segundo mandato.

No momento em que maioria dos franceses considera Macron o responsável pela situação atual e com a popularidade em baixa, cada vez mais vozes pedem a renúncia do chefe de Estado para superar a crise, uma opção que o presidente chamou na terça-feira de "ficção política".