De todo o mundo para este lugar,
Partimos, voámos, chegámos aqui.
Com Maria, ensaiamos o sim.
Queremos servir, fazer a vontade
Do Pai, nosso Pai.
No início da celebração de 12 de maio, o coro do Santuário cantou o hino oficial da Jornada Mundial da Juventude, enquanto os símbolos desciam o recinto em procissão, carregados por jovens. À chegada à Capelinha das Aparições, fez-se silêncio. Depois, de forma espontânea, um grupo continuou a cantar o hino no meio da multidão. Ouviram-se palmas quando a cruz peregrina foi colocada de pé.
Todos vão ouvir a nossa voz,
Levantemos os braços, há pressa no ar.
Jesus vive e não nos deixa sós:
Não mais deixaremos de amar.
Mas ao início da noite eram poucos os jovens que se viam no recinto do Santuário. Aqui e ali, uma camisola com o logótipo da JMJ, alguns escuteiros e algumas caras mais novas inseridas em grandes grupos de peregrinos.
Um dos jovens com camisola da Jornada segurava o telemóvel em modo selfie, junto à Basílica da Santíssima Trindade. Junto dele, outro elemento do grupo apressou-se a explicar o que estava a acontecer, antes de ocupar o seu lugar no ecrã do aparelho. "Vamos entrar em direto em minutos", referiu o padre Igor Oliveira, que se apresentou como um dos responsável pelos Dehonianos (Congregação dos Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus) na JMJ e do encontro mundial dos Dehonianos.
"Viemos a Fátima [acompanhar as celebrações], mas estamos sobretudo a transmitir em direto o terço que vamos fazer em línguas, a partir das 20h", dizia na altura ao SAPO24.
Quanto aos jovens da congregação no local, estavam presentes cerca de "20 ou 30 jovens, alguns com os seus grupos e outros a título pessoal". Mas na Jornada Mundial da Juventude vão ser muitos mais. "Estamos com uma boa adesão a nível de mobilização internacional. Praticamente já fechámos os números. Estamos com 350 participantes a nível mundial, o que é um número recorde face às outras jornadas realizadas até agora", adianta.
"Temos 20 países representados, sendo que alguns terão apenas um elemento a representá-los. Mas temos praticamente todos os continentes", completou.
"Hoje vimos com esta particularidade de prepararmos a JMJ e o encontro mundial de jovens Dehonianos", disse ainda.
Mais acima no recinto, um grupo de peregrinos descansava. Saíram de Lisboa no dia 8 de maio e chegaram a Fátima a 12. Acompanha-os Frei Pedro Perdigão. "Somos da Paróquia de S. Maximiliano, cerca de 50. Eles vêm sempre todos anos, há mais de 15. É a primeira vez que venho com eles, fui para lá há dois anos. Estive em Viseu e em Coimbra", conta ao SAPO24.
Sobre o caminho, resume: "Correu tudo bem. Havia algum calor, algumas bolhas, algum cansaço. Havia união: o peregrino ajuda-se — e cá chegámos".
Quanto à Jornada Mundial da Juventude, não tem dúvidas: "Vai ser uma invasão em Lisboa", diz entre risos. "Estamos a preparar-nos. A nossa zona é mesmo central, vamos ver. Os jovens estão a aderir, mas acho que nos vamos aperceber mesmo quando estiver a chegar a hora".
No grupo de peregrinos que chegou a pé há apenas um jovem. Leonor tem 19 anos e é a primeira vez que fez o caminho até Fátima. "Foi bom, um bocadinho duro, mas foi muito bom. Foi uma experiência muito boa", frisa.
"Vim para acompanhar a minha mãe, mas também porque já queria fazer esta peregrinação há muito tempo, só que nunca tive oportunidade e nunca pensei que fosse capaz. Então, como a minha mãe vinha, pensei 'é desta, e vou conseguir chegar até ao fim'", justifica.
Além disso, os quilómetros que fez foram também "uma forma de preparar a JMJ". Como? "Para nos encontrarmos com Maria e ver o caminho que ela também fez, toda a jornada que ela também passou".
Na paróquia, conta, "tem sido uma preparação muito grande". "Eu vou ser voluntária, temos feito muitas coisas para angariar dinheiro, para juntarmos os jovens das várias paróquias, e temos ido a encontros diocesanos. A minha paróquia juntou-se a outra, para conseguirmos acolher o máximo de peregrinos que conseguirmos, cerca de 1500. Tem sido muito interessante, muito divertido", conclui Leonor.
Rezar o terço — e refletir sobre a atualidade
Esta tarde, na conferência de imprensa, o secretário de Estado do Vaticano disse que o Papa Francisco vai ter, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude em Lisboa, um gesto para com as vítimas de abusos sexuais por membros da Igreja Católica.
“O Santo Padre não deixará de manifestar a sua proximidade e a sua preocupação para com as vítimas deste trágico fenómeno também aqui em Portugal”, afirmou o cardeal Pietro Parolin
“Algum gesto que aconteça, será feito sempre, também, de acordo com os bispos de Portugal”, assegurou.
Questionado sobre o relatório da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais Contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa, o cardeal salientou que “este é um caminho que tem de ser marcado pela verdade e pela transparência”.
“A resposta sobre esta questão dos abusos é uma resposta da Igreja local e, portanto, neste caso da Igreja portuguesa que fez as suas escolhas, que fez o seu caminho”, referiu, observando que “a responsabilidade acaba por ser da Igreja portuguesa”, referiu.
À noite, já durante o terço, o quinto mistério rezado refletiu também esta mesma realidade da Igreja. "Por intercessão de tua Mãe, Nossa Senhora do Rosário de Fátima, pedimos pela Igreja, teu corpo, neste momento duro da história, em que a descobrimos ofendida pelos crimes de alguns dos seus membros, o seu pecado, abusos e violência sobre pequeninos e falta de verdade, para que se volte a ti com confiança e se converta, sinceramente peça perdão e procure justiça, cuide de todas as vítimas e dos agressores, e repare todo o mal cometido", foi comentado.
Na homilia, o Cardeal Pietro Parolini, Secretário de Estado do Vaticano, evidenciou que Cristo Ressuscitado "continua a caminhar pelo campo imenso das dores humanas, procurando construir a nova Jerusalém, a cidade do Céu, a cidade da vida, do amor e da paz".
"Sem Cristo morto e ressuscitado, a realidade imensa do sofrimento humano fica prisioneira no sem-sentido e no desespero. De facto, quando não se encontra uma alternativa à violência, à guerra, ao ódio fratricida, à exclusão, à marginalização, então a esperança de uma mudança radical e de um futuro diverso e bom é simplesmente impossível", salientou, com palavras que parecem apropriadas para retratar o conflito entre a Rússia e a Ucrânia.
Olhando para as várias dificuldades que vão surgindo, Pietro Parolini lembrou que "como Maria e com Maria, a Igreja aprende a permanecer junto dos crucificados da história" e que "constrói pacientemente a cultura do encontro, do diálogo, da reconciliação e da fraternidade sem muros".
De recordar que, esta tarde, o Secretário de Estado do Vaticano garantiu que o Papa Francisco está em linha com toda a tradição diplomática da Santa Sé nas duas guerras mundiais, oferecendo a mediação no conflito.
Peregrinos em força no Santuário
As palavras ouvidas no Santuário chegaram a milhares de peregrinos. Depois do terço, por volta das 22h30, enquanto a Imagem de Nossa Senhora e os símbolos da JMJ seguiam em procissão para o altar do recinto, o Santuário anunciou que foram fechados os túneis e as escadas de acesso, devido ao número de peregrinos.
O encerramento deve-se à necessidade de evitar uma concentração excessiva de pessoas no mesmo espaço.
Assim, prevê-se que estejam presentes 230 mil pessoas — mais do que em 2019, antes da pandemia. Neste momento, o acesso faz-se apenas pelo topo norte, ou seja, pela Basílica da Santíssima Trindade.
O último balanço antes do início das celebrações dá conta da presença de 151 grupos organizados inscritos, 82 deles oriundos de Portugal.
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