O arcebispo D. Edgar Peña Parra, substituto da Secretaria de Estado do Vaticano, começou a sua homilia por lembrar o simbolismo da procissão de velas.
"Como peregrinos na noite, aqui chegados de tantos caminhos diferentes, esta noite caminhamos sob o olhar amoroso da Bem-aventurada Virgem Maria para encontramos paz e nova luz nos nossos corações. É uma peregrinação que simboliza as noites da nossa vida e do mundo, daquelas escuridões que, alguma vez, nos surpreendem e com as quais, frequentemente, somos chamados a lutar, na esperança de que uma estrela do alto nos indique o caminho", apontou. Para o arcebispo, "a frágil chama das nossas velas exprime a oração humilde e confiante".
Após referir que é feito um caminho para "levar a Maria os nossos sonhos, as pessoas e as situações que trazemos no coração, as esperanças mais profundas que vivem dentro de nós", D. Edgar Peña Parra referiu-se brevemente ao conflito na Ucrânia.
"Na intimidade desta noite, a Nossa Senhora de Fátima, além da constante oração a pedir o dom da paz na Ucrânia e no mundo inteiro, pedimos-Lhe que vele sobre a vida de cada sacerdote e consagrado, assim como sobre a de cada religiosa, de modo a que brilhe sempre o primeiro amor da sua vocação; sobre cada jovem e adolescente de modo a que não tenha medo de sonhar com os sonhos de Deus e tenha a força e a coragem de dizer com Maria o próprio “sim”; sobre cada ancião e doente, para que, oferecendo os sacrifícios da própria vida, continue a bendizer Deus com os frutos benévolos da sabedoria, colorada pelos anos e enriquecida pelos sofrimentos; sobre cada família, de modo a que se redescubra, cada dia, como o berço do amor do Senhor, e na qual tem continuidade a obra criadora e redentora do Omnipotente", afirmou.
Dirigindo-se aos peregrinos, que chegam de "diversos lugares", frisou que cada um traz, "no próprio coração, o pedido de uma graça que deseja apresentar à Mãe do Senhor, rogando-Lhe que desfaça alguns nós na sua vida".
Remetendo para o episódio narrado no Evangelho, as Bodas de Caná, em que Maria alerta Jesus sobre o vinho que está prestes a terminar, o substituto da Secretaria de Estado do Vaticano recorda "a atenção e o carinho" de Nossa Senhora. "O Cardeal Carlo Maria Martini, que foi Arcebispo de Milão, em Itália, afirma que, neste Evangelho, a figura de Nossa Senhora é extraordinária porque nos faz ver como, durante o banquete de Caná, cada um dos servos e dos participantes ocupa-se do próprio serviço específico ou, simplesmente, desfruta a festa, enquanto 'Maria vê o conjunto, tem agudez de vista e percebe o essencial do que está a acontecer e o essencial do que está em falta'", cita.
"Por vezes, também a nós, que temos tudo, falta o essencial: sobre a mesa da nossa vida, com frequência, faltam motivações profundas, o significado das coisas que vivemos, a confiança para continuar em frente", atirou o arcebispo, trazendo a história para o dia a dia. "Com frequência, falta-nos o vinho da alegria e da partilha".
Segundo D. Edgar Peña Parra, "falta-nos, algumas vezes, o vinho da fé, quando nas experiências da vida experimentamos o fracasso e o cansaço; falta-nos o vinho da esperança, quando os nossos projetos chegam ao fim e os nossos sonhos se despedaçam; pode também faltar-nos o vinho do amor, quando as nossas relações se rompem e nos assalta a amargura dos conflitos ou da solidão".
Nesta aproximação à atualidade, o arcebispo voltou a remeter para as situações de guerra e sofrimento no mundo. "Também as talhas do nosso coração, como aquelas das bodas de Caná, frequentemente se transformam em pedra: experimentamos a dureza do nosso coração, a fadiga de levar por diante as coisas do dia-a-dia, as dificuldades causadas pelo sofrimento que nos surpreende", notou.
"E, em cima da mesa do nosso mundo, no banquete da humanidade, falta o vinho da fraternidade e falta o vinho da paz, enquanto os egoísmos e os rancores explodem com frequência, como, neste nosso tempo, na violência atroz e bárbara, desumana, da guerra, onde não há nem vencedores, nem vencidos, mas apenas lágrimas como as da Mãe de Deus, que, como nos recordou o Papa Francisco, 'são também sinal do pranto de Deus pelas vítimas da guerra que destrói não apenas a Ucrânia; (...) destrói todos os povos envolvidos na guerra. Todos! Pois a guerra não destrói só o povo derrotado, não, destrói também o vencedor; destrói inclusive aqueles que a observam, com notícias superficiais, para ver quem é o vencedor, quem é o vencido'".
No final da sua intervenção, o arcebispo pediu que "Maria Santíssima, Rainha da paz e da vida", possa ser "porta-voz do grito dos nossos corações junto do Seu Filho".
"A Ela dirigimos as nossas orações, não porque a nossa prece possa, simplesmente, obter alguma coisa do alto, mas para que esta nossa oração possa transformar o coração, mudar os nossos pensamentos, iluminar as nossas escolhas, e tornar-nos capazes de viver o Evangelho todos os dias. Peçamos-Lhe que mude, também, o nosso olhar e, solícitos e atentos como Ela, saibamos, também nós, agir por antecipação, de modo a que, quando venha a faltar o vinho da esperança na vida de quem está perto de nós, de quem sofre ou passa necessidade, o nosso olhar nunca seja indiferente, mas que o nosso olhar esteja cheio de compaixão", rematou.
Milhares de velas voltaram a iluminar o Santuário de Fátima
O Santuário de Fátima apresentou, esta noite, o recinto repleto de peregrinos de velas acesas, num cenário que já não era visto na Cova da Iria desde outubro de 2019.
Mais de dois anos depois, muitos milhares de fiéis de todas as idades participaram na recitação do terço, que deu início à peregrinação de maio ao santuário da Cova da Iria e onde, no primeiro mistério, se lembrou a situação na Ucrânia, com o padre Jorge Guarda, que conduziu a oração, a pedir que se reze “para que se busque a paz, pelo diálogo”.
Nos acessos ao santuário, eram ainda milhares os peregrinos que procuravam entrar no recinto de oração, no início das celebrações, levando alguns voluntários, que trabalham no apoio aos fiéis, a reconhecerem um afluxo de pessoas superior ao que esperavam.
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