“Em Cabo Delgado está a ocorrer um conflito difícil e assimétrico, em que de um lado estão forças que representam o Estado moçambicano e, do outro, estão insurgentes que não seguem qualquer regra de conduta, não respeitam os mais básicos valores do Direito Internacional, humanitário e praticam as maiores barbaridades”, declarou o major-general João Gonçalves, o português que deixa o comando da missão de treino da UE em Moçambique.
João Gonçalves falava, em Maputo, durante a cerimónia de transferência de comando da missão de treino da UE, que passou a designar-se Missão de Assistência Militar da União Europeia em Moçambique e é agora comandada pelo brigadeiro-general Luís Barroso, também português.
Segundo o antigo comandante da missão, que formou em quase dois anos mais de 1.700 militares que combatem a insurgência em Cabo Delgado, os rebeldes naquela província estão a recrutar até crianças.
“É um combate extremamente difícil contra pessoas que recrutam crianças”, frisou João Gonçalves, acrescentando que o treino da missão da UE aos militares que hoje estão no terreno teve de ser atualizado continuamente aos desafios da guerra em Cabo Delgado.
“O impacto [do treino] é positivo, porque preparámos melhor os soldados moçambicanos para enfrentar essa dura realidade: enfrentar alguém que não segue qualquer tipo de regras e não tem qualquer tipo de escrúpulos (…), os soldados que nós treinamos vão para lá levando regras e autoridade do Estado e o cumprimento dos mais elementares direitos dos cidadãos”, declarou João Gonçalves.
O chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas de Moçambique, Joaquim Mangrasse, reiterou que a situação no terreno está controlada, destacando a importância do apoio na formação e em material não letal prestado pelos países europeus.
“A missão da UE(…) permitiu treinamento e também o fornecimento de equipamento não letal. Este equipamento está connosco e estamos a usar de forma sustentável para garantir o seu ciclo de vida”, declarou, à comunicação social, Joaquim Mangrasse.
A missão de treino da UE em Moçambique, liderada por Portugal, integrou 119 militares de 13 Estados-membros, mais de metade portugueses, mas tem a particularidade de integrar outros dois países, fora da União Europeia, que contribuem com um militar cada, casos da Sérvia e de Cabo Verde.
A União Europeia anunciou a adaptação dos objetivos estratégicos da missão, que transita de um modelo de treino para um de assistência, passando, assim, a designar-se Missão de Assistência Militar da UE em Moçambique (EUMAM Mozambique), com efeito a partir de 01 de setembro deste ano.
Os comandos e fuzileiros moçambicanos formados já estão no terreno, numa altura de retirada das forças militares dos países da África Austral que apoiavam Moçambique no combate ao terrorismo, estando atualmente o Ruanda a apoiar o exército moçambicano.
Desde outubro de 2017, a província de Cabo Delgado, rica em gás, enfrenta uma rebelião armada com ataques reclamados por movimentos associados ao grupo extremista Estado Islâmico.
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