“Temos estas duas necessidades em paralelo: de nos prepararmos para a próxima crise, fortalecendo a nossa moeda comum, e a necessidade de fomentar o investimento e as reformas estruturais nos países que necessitam”, como Portugal, para se aproximarem da média europeia, sustentou hoje Augusto Santos Silva, intervindo num debate sobre o futuro da Europa com o seu homólogo holandês, Bert Koenders, na Universidade de Lisboa.
Na opinião do ministro português, a Europa vive agora “momentos de alguma recuperação e prosperidade”, pelo que “esta é a altura” de “preparar os instrumentos para responder aos choques externos”.
A agenda social e económica foi um dos fatores essenciais para “definir o futuro da Europa” que Santos Silva destacou, a par da “defesa dos valores europeus” e a “segurança e defesa comuns”.
O chefe da diplomacia portuguesa sustentou que “qualquer ideia de que possa existir na Europa uma chamada democracia iliberal não é aceitável”, recordando a posição do presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, de que “o Estado de direito não é uma opção, mas uma obrigação para qualquer governo ou Estado europeu”.
A Europa, defendeu, deve rejeitar o nacionalismo.
“A ideia de uma Europa que não possa ser uma Europa de nações não é concebível”, considerou, recordando que “uma das forças da Europa é a sua composição plural, por diferentes nações, culturas, tradições, religiões e visões do mundo”.
“O nacionalismo é uma força que contraria a integração europeia. Temos de reforçar a nossa condição de uma Europa de nações diferentes, mas não podemos aceitar o crescimento de nacionalismos”, argumentou.
Uma posição também defendida pelo ministro dos Negócios Estrangeiros holandês.
“Para muitos, valores liberais, como fronteiras abertas, tornaram-se equivalentes a desigualdade e injustiça social. Há o risco de o racismo e a xenofobia se tornarem parte da resposta, mas nunca podem sê-lo”, considerou Bert Koenders.
Para o governante holandês, “a única resposta é um novo contrato europeu, que inclua todos os europeus, novos e velhos, do norte, sul, este e oeste, e a perceção de que a abertura ao resto do mundo também implica um contrato social que funcione, dentro de portas”.
O mundo vive “tempos de confusão e de notícias falsas, de quem nega mudanças climáticas e de ‘tweets’ péssimos”, alertou.
“A ordem iliberal parece estar a crescer e há partidos que não hesitam em explorar medos, pintando quadros de um glorioso futuro nacionalista baseado num passado que já terminou há muito”, disse, e mesmo na União Europeia, há países que “percorrem o perigoso caminho de controlar juízes, limitar organizações não-governamentais e enfraquecer a liberdade de imprensa”.
Além disso, a Europa precisa de “uma nova narrativa” para as gerações mais novas, apresentando “soluções concretas para os grandes problemas”, porque “o lema europeu de que não haverá mais guerra já não é persuasivo”.
Após o debate dos dois ministros, os reis dos Países Baixos, Willem-Alexander e Máxima, chegaram à Reitoria da Universidade de Lisboa, onde foram recebidos pela tuna da Faculdade de Direito, que lançou um desafio aos monarcas: “Bem-vindos, aproveitem o sol e o bom tempo. Lamentamos que a Holanda tenha sido eliminada [do apuramento para o campeonato mundial de futebol de 2018], mas agora podem torcer por Portugal”.
De seguida, os reis trocaram impressões com estudantes universitários, antes de tirarem uma grande fotografia de grupo.
A visita oficial dos reis holandeses, de três dias, prossegue hoje com um almoço com empresários no Centro Cultural de Belém e uma visita ao Museu Nacional de Arte Antiga para inaugurar uma exposição de obras de artistas holandeses e de coleções de casas reais intitulada “Rembrandt – Elos perdidos”.
Ainda hoje, são recebidos pelo primeiro-ministro, António Costa, na residência oficial.
O último dia é passado em Alverca, onde os reis da Holanda visitam a indústria aeronáutica OGMA e a Escola Nacional de Bombeiros, e na vila de Sintra.
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