Depois de 20 anos de negociações, a União Europeia e o Mercosul fecharam hoje um Acordo de Associação Estratégica que criará uma das maiores áreas de comércio livre do mundo, um anúncio feito pelo governo argentino, que detém a presidência do Mercosul.
“É uma grande vitória porque isto era um processo que já decorria há 20 anos. Era o processo negocial mais antigo que nós tínhamos na União Europeia”, explicou à agência Lusa o eurodeputado socialista, que integrou a delegação do Parlamento Europeu que participou nestas negociações.
Francisco Assis referiu que se tratou de um processo “muito moroso e difícil”, sobretudo nos últimos cinco anos: “Foram anos de avanços e recuos tremendos. Houve momentos em que parecia que tudo ia ficar resolvido e subitamente havia qualquer problema”, recordou o eurodeputado.
Relativamente às vantagens do acordo alcançado com os países que integram o Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai) o deputado europeu sublinhou que não se trata apenas de um tratado comercial, mas também de associação e colaboração política.
No entanto, na componente comercial, Francisco Assis reconhece que se abrem novas perspetivas e oportunidades, uma vez que se criam “novos mercados
“Aqueles países tradicionalmente têm taxas alfandegárias muito elevadas, o que dificulta muito a entrada de produtos de outros países. Nós europeus vamos poder ter uma maior presença naqueles mercados, o que significa 260 milhões de pessoas. Haverá também uma abertura dos mercados europeus a produtos provenientes de países sul americanos, com que lucrarão os consumidores europeus”, apontou
Do ponto de vista do interesse de Portugal, o deputado europeu sublinhou que o nosso país sempre foi “dos mais interessados na concretização deste acordo”, sobretudo pela relação com o Brasil.
“A intensificação das relações entre o Brasil e a União Europeia vai ter uma grande expressão em Portugal. Eu visitei o Brasil nos últimos anos e falei com empresários que diziam que podiam fazer de Portugal o seu entreposto para se lançarem no mercado europeu. Por outro lado, também vai abrir boas perspetivas para as empresas portuguesas”, destacou.
O eurodeputado socialista sublinhou, ainda, que a concretização deste acordo é também uma vitória política para a Europa, uma vez que evita que os países sul-americanos caiam na esfera de influência de outras regiões do mundo.
“Se não concretizássemos este acordo estávamos a entregar aqueles países à influência de outras regiões do mundo e é muito importante para a Europa ter uma boa presença na América do Sul”, atestou.
O acordo alcançado em Bruxelas integra um mercado de 780 milhões de habitantes com cerca de 100.000 milhões de euros em comércio bilateral de bens e de serviços.
O acordo foi fechado depois de 48 horas de intensas negociações entre diversos ministros dos países do Mercosul e a Comissão Europeia, reunidos em Bruxelas. Os representantes dos dois blocos mantinham estreitos contactos com os líderes europeus e sul-americanos reunidos na Cimeira do G20 em Osaka, Japão.
Desde 1999, o Mercosul e a União Europeia mantêm um acordo de comércio livre. As negociações foram interrompidas em 2004 e retomadas em 2010, mas ganharam velocidade a partir de 2016, quando o Mercosul começou a sair do seu confinamento comercial e à medida que os Estados Unidos consolidavam uma postura protecionista na relação com o mundo.
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