Segundo o professor de Políticas Públicas e Economia Política da Universidade de Wisconsin-Milwaukee, os sindicatos de polícias vão ser “bloqueios” para as reformas que têm sido pedidas pelos legisladores e pela população durante os protestos que começou nos Estados Unidos desde a morte do afro-americano George Floyd, estrangulado por um polícia branco com um joelho sobre o pescoço, em 25 de maio.
As uniões policiais são muito conservadoras, “apertadas e têm uma forte lealdade dos membros” que tentam “proteger a própria cultura e interesses”, considerou à Lusa.
“Costumam ver-se como uma comunidade cercada pelo caos e desordem”, declarou.
Jeffrey Sommers refletiu que muitos agentes tiveram formação e experiência militar antes de se tornarem polícias, vindos de um contexto “em que são treinados a ver as pessoas com que se envolvem como um inimigo ou uma força para controlar e conquistar”.
Os agentes “tendem a ver-se como pessoas que estão a ser atacadas” e estão a ser “muito defensivos e a rejeitar categoricamente qualquer mudança”, já que o trabalho os coloca em “situações muito tensas”, disse ainda.
Para Jeffrey Sommers, as “desigualdades significativas” económicas e sociais que existem em muitas partes do país fomentam um “ambiente muito perigoso” em que a polícia não é capaz de garantir a segurança.
O professor acredita que “a maior parte dos polícias nas áreas urbanas têm pouca ou nenhuma experiência em interagir com as populações da sua jurisdição”.
“Definitivamente, terá de haver uma mudança na cultura das forças policiais”, disse Jeffrey Sommers, acrescentando que “a questão é que tipo de reestruturação” vai ser imposta aos departamentos policiais.
Questionado sobre a notícia de que nove membros do Conselho da Cidade de Minneapolis apoiavam a dissolução do departamento de polícia da cidade, o professor respondeu: “Não acredito que cheguemos a ver nos Estados Unidos o desmantelamento total de um departamento policial e a razão é que temos demasiadas desigualdades e desemprego, e, consequentemente, problemas sociais e crime”.
Jeffrey Sommers defendeu que as reformas na polícia são necessárias, mas não vão ser suficientes para resolver os problemas sociais nos Estados Unidos, acrescentando que algumas mudanças têm a ver com desenvolvimento económico, programas de emprego e o controlo de armas para uso dos cidadãos.
“Ninguém quer comprometer-se com soluções reais, porque são caras e porque têm de responder a desigualdades e redistribuição de recursos”, criticou o professor universitário.
“Há 40 anos que os EUA não têm sido capazes de fazer isso, com a exceção de redistribuir recursos para os que estão no topo”, disse Jeffrey Sommers.
“Até estarmos dispostos a reverter esta tendência, vamos continuar a ver estes problemas em áreas urbanas, agrícolas ou industriais”, defendeu.
Desde 25 de maio (dia da morte de George Floyd), os Estados Unidos enfrentaram ondas de protestos para denunciar a violência policial, passando pelas exigências de reformas da polícia e culminando, esta semana, com a reivindicação “defund the police” (cortar o financiamento à polícia).
O último ‘slogan’ pretende que os orçamentos dos departamentos de polícia sejam reduzidos e que o dinheiro retirado seja empregue noutras áreas da sociedade, para o bem geral da população.
Uma proposta de lei foi apresentada na segunda-feira por cerca de 200 congressistas democratas na Câmara dos Representantes, em convergência com as reivindicações dos manifestantes, para reformas na polícia.
George Floyd, um afro-americano de 46 anos, morreu em 25 de maio, em Minneapolis (Minnesota), depois de um polícia branco lhe ter pressionado o pescoço com um joelho durante cerca de oito minutos numa operação de detenção, apesar de Floyd dizer que não conseguia respirar.
Desde a divulgação das imagens nas redes sociais, têm-se sucedido os protestos contra a violência policial e o racismo em dezenas de cidades norte-americanas, algumas das quais foram palco de atos de pilhagem.
Pelo menos 10 mil pessoas foram detidas desde o início dos protestos, e as autoridades impuseram recolher obrigatório em várias cidades.
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