Os investigadores Jorge Durán, da Universidade de Coimbra (UC), e Manuel Delgado-Baquerizo, da Universidad Pablo de Olavide, em Sevilha, avaliaram, “pela primeira vez, de que forma e por que razão a variabilidade espacial da biodiversidade do solo muda em ecossistemas terrestres a uma escala global”, informa a UC numa nota hoje divulgada.

A variabilidade espacial (“distribuição desigual das propriedades do solo”), destaca a UC, desempenha “um papel essencial no controlo das principais características e serviços dos ecossistemas, como o desempenho das plantas, a produtividade dos ecossistemas, as interações tróficas ou a ciclagem de nutrientes do solo”.

Os resultados deste estudo, publicado na revista científica Scientific Reports, do grupo Nature, são essenciais para “melhorar a capacidade de se compreender e prever os complexos efeitos das alterações climáticas na biodiversidade do solo, bem como para projetar medidas de deteção e mitigação precoces mais eficazes”, realça Jorge Durán.

“Sabemos que a variabilidade espacial das propriedades e funções do solo é controlada pela interação de vários atributos biológicos, químicos e físicos”, mas, alerta o investigador do Centro de Ecologia Funcional da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC, “pouco se sabe acerca dos fatores que controlam a variabilidade espacial dos organismos subterrâneos”.

Isso não deixa, no entanto, de ser “surpreendente, porque a biodiversidade do solo é um fator essencial em múltiplas funções do ecossistema”, acrescenta.

“Embora a investigação na última década tenha sido capaz de identificar os fatores ambientais mais importantes que controlam a biodiversidade dos organismos do solo, um aspeto que tem sido negligenciado nesses estudos é a sua variabilidade espacial”, explica Jorge Durán.

O estudo visou precisamente colmatar estas lacunas no conhecimento. Os investigadores analisaram uma grande base de dados, de solo e vegetação, de 87 locais diferentes de todos os continentes (exceto Antártica), atingindo uma ampla gama de condições climáticas, tipos de vegetação, idades e origens do solo.

Os resultados obtidos, afirmam Jorge Durán e Manuel Delgado-Baquerizo, “mostram que a variabilidade espacial dos principais grupos de organismos do solo (bactérias, fungos, protistas e invertebrados) está altamente correlacionada nos diferentes ecossistemas, sugerindo fortes ligações entre os diferentes grupos, e que qualquer fator ou distúrbio que afete um grupo afeta provavelmente o resto dos grupos de organismos do solo de maneira semelhante”.

Observou-se também que a variabilidade espacial dos organismos do solo “é controlada principalmente pela estrutura da vegetação, que, por sua vez, é influenciada pela aridez e por diferentes atributos do solo”, referem os investigadores.

Assim, “áreas com baixa cobertura vegetal, mas alta heterogeneidade espacial das plantas, estão consistentemente associadas a altos níveis de variabilidade espacial da biodiversidade do solo”.

Além disso, assinalam, o estudo sugere “a existência de vínculos significativos e não descritos entre a variabilidade espacial da biodiversidade do solo e importantes funções do ecossistema, como o sequestro de carbono, a ciclagem de nutrientes ou produtividade vegetal”.

As implicações destes resultados, segundo os autores, são amplas num contexto de alterações climáticas, “pois indicam que as reduções no coberto vegetal (por exemplo, via desertificação, aumentos na aridez ou desmatamento) são suscetíveis de aumentar a variabilidade espacial dos organismos do solo, o que poderia comprometer a capacidade dos diferentes ecossistemas de realizar funções importantes e manter serviços ecossistémicos chave”.