À rede Fox News, vários estrategas Democratas e Republicanos advogaram que o caso não desempenhará um papel importante nas aspirações de Biden para 2024, nem será tido em conta pelo eleitorado no momento de depositar os votos nas urnas.
“Neste estágio, não acho que esse escândalo por si só impedirá Biden de procurar um segundo mandato, mas enfraquece uma das suas principais linhas de ataque contra o ex-presidente Donald Trump, se ele for o candidato Republicano”, disse o Republicano Giancarlo Sopo.
Por outro lado, Joe Caiazzo, um estratega Democrata que trabalhou em várias campanhas presidenciais, afirmou que essa controvérsia já não estará na mente dos eleitores no final de 2024.
“Daqui a dois anos, quando as pessoas forem às urnas, aquilo em que os eleitores estarão focados é se o Presidente tomou medidas sobre os custos de medicamentos prescritos. Se tomou medidas sobre as mudanças climáticas…sobre a inflação. E a resposta a essa pergunta é, sim, ele fez isso”, disse Caiazzo.
Em declarações à rede norte-americana CNN, sob a condição de anonimato, membros do círculo íntimo de Biden disseram acreditar que toda a agitação em torno dos documentos é uma “obsessão passageira” por parte de uma “elite de Washington”, mas que não deverá refletir-se nas intenções do chefe de Estado em se recandidatar.
Um conselheiro de Biden disse acreditar que os norte-americanos valorizam mais os resultados que o Democrata tem apresentado ao país, como o combate à inflação, a criação de empregos, a luta pelos direitos reprodutivos e pela reforma das armas, do que a questão dos documentos confidenciais.
Antes da descoberta vir a público, Biden tencionava anunciar a sua recandidatura após o discurso sobre o Estado da União, agendado para 07 de fevereiro, segundo indicaram à CNN fontes próximas do Presidente, que garantem que os planos se mantêm.
Contudo, e apesar do otimismo dos aliados, é difícil negar que o caso gerou uma ‘dor de cabeça política’ para o Presidente e pôs fim aos seus “dois melhores meses desde que se tornou Presidente”, defendeu o analista político Matthew Continetti, referindo-se ao período em que os Democratas conseguiram evitar um colapso nas intercalares de novembro e os Republicanos se afundaram em divisões, patentes nas recentes dificuldades para eleger o líder da Câmara de Representantes.
Em 09 de Janeiro, o assessor jurídico de Biden, Richard Sauber, informou que os advogados do Presidente descobriram, em novembro último, um “pequeno número de documentos classificados” num “armário trancado” no Penn Biden Center, um ‘think tank’ ligado à Universidade da Pensilvânia e no qual o Democrata mantinha um escritório.
Sugundo Sauber, os advogados procederam à entrega dos mesmos ao Arquivo Nacional, responsável por preservar esse tipo de material.
Alguns dias mais tarde, o gabinete jurídico da Casa Branca anunciou a descoberta de mais documentos classificados na residência privada de Biden em Wilmington, Delaware.
A Comissão de Justiça da Câmara dos Representantes, agora controlada pelos Republicanos, abriu rapidamente uma investigação, enquanto o procurador-geral norte-americano, Merrick Garland, nomeou um procurador especial para investigar essa descoberta.
Também com recurso a um procurador especial nomeado por Garland, o Departamento de Justiça está já a investigar a retenção por parte do ex-presidente Donald Trump de mais de 300 documentos confidenciais, que foram encontrados na sua mansão em Mar-a-Lago, na Florida.
Quando saiu da Casa Branca, Trump levou consigo caixas inteiras de documentos, embora uma lei de datada de 1978 obrigue qualquer presidente norte-americano a entregar ao Arquivo Nacional todos os seus documentos de trabalho, em que se incluem cartas e mensagens de correio eletrónico.
Agentes do FBI realizaram uma vasta busca à mansão de Trump em 08 de agosto do ano passado, com base num mandado de “retenção de documentos confidenciais” e “obstrução a uma investigação federal”, e apreenderam cerca de trinta caixas. Em janeiro anterior, Trump já tinha entregado 15 caixas.
Na ocasião, Biden chegou a classificar de “irresponsável” a decisão de Trump de manter centenas de documentos da mesma natureza na sua residência.
Contudo, apesar das aparentes semelhanças entre os dois casos, vários especialistas têm apontado diferenças que podem ser significativas na avaliação do Departamento de Justiça.
Em primeiro lugar, não há indicação de que Joe Biden soubesse da existência destes registos antes de eles serem entregues.
A Casa Branca indicou ainda que os documentos foram entregues rapidamente ao Arquivo Nacional, sem qualquer intenção de ocultar a situação. Isso é relevante porque o Departamento de Justiça tentará perceber se existiu intenção de fazer um uso incorreto dos segredos do Governo, ao decidir se apresentará ou não acusações criminais.
Por outro lado, Donald Trump saberia da existência dos documentos que mantinha na sua mansão e enfrenta acusações de obstrução pela sua batalha prolongada para ficar com esses documentos.
Outra das diferenças que poderá pesar é o número de ficheiros encontrados: enquanto Biden teria em sua posse “um pequeno número de documentos com marcas classificadas”, Trump teria cerca de 300 documentos.
A par de Biden, que no ano passado afirmou ter intenções de concorrer a um novo mandato presidencial, também Trump pretende regressar à Casa Branca, tendo já feito o anúncio oficial em novembro, vários meses após ter tido a sua casa revistada pelo FBI.
Trump, aliás, planeia realizar já este mês o seu primeiro evento público de campanha no estado da Carolina do Sul.
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