Segundo se pode ler no relatório da ANPC à ocorrência Sertã/Mação, a que a agência Lusa teve acesso, em resposta a uma solicitação da Secretaria de Estado da Administração Interna, a 23 de julho, além do incêndio que teve início nesse dia no concelho da Sertã e depois se propagou a Mação e Proença-a-Nova, houve 108 fogos, quase metade entre as 12:00 e as 18:00, 17 dos quais no distrito de Castelo Branco e adjacentes.
“Deste facto, resulta pelas necessidades de resposta operacional uma dificuldade maior no reforço das operações de combate por parte daqueles que se encontravam mais próximo do local, levando por isso a uma consequente dispersão de meios de socorro”, aponta o documento, salientando “a intensidade da linha de fogo e comprimento da linha de chama quase sempre acima da capacidade de extinção dos meios envolvidos”.
O relatório, que era exigido pelo presidente da Câmara de Mação (distrito de Santarém), Vasco Estrela, diz que, desde o início do fogo, “a sua propagação foi muito elevada, com desenvolvimento de grande intensidade das frentes de incêndio, potenciado pelo vento forte e pelo tipo de combustíveis existentes, o que motivou o surgimento de inúmeros focos secundários na fase inicial” e ameaças a povoações.
As alterações de rumo e velocidades elevadas do vento, quer de dia quer à noite, levaram a “redefinições/ajustamentos da estratégia e movimentação de meios, uma vez que a dinâmica do fogo era constantemente modificada”.
O quadro meteorológico é, de resto, descrito como “extremamente agressivo para o combate ao incêndio” e uma das principais dificuldades encontrada pelos bombeiros, a que se juntam “aglomerados populacionais confinantes com espaços florestais sem qualquer gestão de combustíveis, tendo em conta o risco de incêndio florestal existente nessa área”.
No relatório é também destacado que “a coordenação política e institucional terá sido feita caso a caso pelo presidente da Câmara Municipal de Mação, dado que o Plano Municipal de Emergência de Proteção Civil, por não existir, não podia ser ativado e por consequência, não existe Comissão Municipal de Proteção Civil”.
ANPC considera que, no incêndio, foi dada prioridade à segurança de pessoas e bens e que as ações nesse sentido foram “escrupulosamente cumpridas” e alinhadas com as opções estratégicas definidas no Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Florestais (DECIF), “como fica patente nos diversos registos em ‘Fita do Tempo da ocorrência” e que consta do relatório.
Lê-se no relatório que, “em função da evolução das condições meteorológicas era expectável tempo quente e seco, com vento moderado a forte, como permanência de condições favoráveis à eventual ocorrência e propagação de incêndios florestais”, tendo sido determinado operacionalmente a passagem a “Alerta Laranja” para alguns distritos do Portugal Continental, nomeadamente para Santarém e Castelo Branco.
Após o enquadramento da situação que se vivia no dia 23 de julho, ao nível de incêndios que estavam ativos em todo o país, no relatório é descrita a evolução do incêndio que atingiu Mação, bem como dos meios envolvidos.
“O incêndio teve início no concelho da Sertã, em Mosteiro de São Tiago, às 13:47, e deslocaram-se para o local 509 operacionais apoiados por 149 veículos e nove meios aéreos. O incêndio foi progredindo e, no fim da noite, às 23:30, o incêndio passou para Mesão Frio, uma localidade de Proença-a-Nova”, segundo se lê na “fita de tempo” do relatório.
No dia 24 de julho, às 00:53, continua o documento, “o incêndio cerca a localidade de Caniçal Fundeiro, chegando às 21:03 a Ladeira (Envendos, concelho de Mação)”. Neste dia estiveram empenhados 743 operacionais, apoiados por 228 veículos e 14 meios aéreos.
O documento refere ainda que os dias em que estiveram envolvidos mais meios em Mação foram 26 (com 839 operacionais e 240 veículos) e 27 (com 798 operacionais e 233 veículos).
Na resposta dada ao secretário de Estado, o documento refere também que “o empenhamento dos meios foi sendo balanceado em função da evolução do incêndio relativamente ao território que foi percorrendo e aos pontos sensíveis envolvidos”.
Quanto aos meios aéreos, o documento justifica que se respeitou “a prioridade de aplicação estratégica deste tipo de meios, ou seja, primeiro a defesa das povoações e edificado, e depois a quebra das frentes vivas para a entrada dos meios terrestres”.
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