Nasceu na África do Sul, mas os pais são provenientes da China. Agora, quer mudar o mundo das notícias, ele que confidenciou, em entrevista ao britânico The Guardian, ser o "viciado número um em notícias". E deixa uma ressalva. O seu intuito “não tem nada a ver com [uma visão] analítica da área [dos media]. Tem a ver com a análise do que é importante para a humanidade”, afirmou.
Comecemos pelo início. Em meados de fevereiro era noticiado que o multimilionário da biotecnologia tinha comprado o jornal Los Angeles Times (LAT), por 500 milhões de dólares (408 milhões de euros). O acordo entre o empresário Patrick Soon-Shiong, de 65 anos, da área da medicina e de Los Angeles, e o grupo Tronc tornava-se assim a mais recente compra de um jornal a uma grande empresa por uma pessoa rica e com preocupações cívicas.
Soon-Shiong já era um acionista de referência do grupo Tronc, um dos homens mais ricos de Los Angeles e o médico mais rico dos EUA, pelos cálculos da revista Forbes, que lhe atribui ativos no valor de 7,8 mil milhões de dólares. O acordo de compra do LA Times incluiu a compra do The San Diego Union-Tribune e outros títulos, além da assunção de responsabilidades, no montante de 90 milhões de dólares, do fundo de pensões.
Soon-Shiong assumiu assim o controlo do LAT num período de turbulência no jornal. O título acabou de substituir o seu principal editor, a terceira mudança deste tipo em seis meses, e o editor Ross Levinsohn tem estado suspenso, sem vencimento, depois de se saber que estava a ser objeto de dois processos judiciais por assédio sexual. O grupo Tronc disse na última semana que ele tinha sido ilibado de qualquer má prática
Todavia, os jornalistas da histórica publicação, com cerca de 136 anos, estão confiantes que o "pesadelo" pertence a um calvário passado e celebraram o novo acordo com champanhe.
"Esperamos que Soon-Shiong leve a cabo as suas promessas em fazer crescer o alcance do jornal e no número de trabalhadores porque o estado [da Califórnia] e a cidade precisam de mais vigilantes, mais olhos e ouvidos nos lugares onde hoje não existem testemunhas para cobrir os dramas diários que vincam as nossas vidas. Vamos trabalhar no duro. Esperamos pelo melhor", escreveu na sua coluna de opinião o jornalista Steve Lopez, autor de vários livros, nos quais se incluem O Solista, que deu origem a um filme, com o mesmo nome, tendo como atores principais Robert Downey Jr. e Jamie Foxx.
Não quer ficar atrás do New York Times, nem do Washington Post
Foi também no cenário de uma indústria de media a enfrentar grandes problemas - em parte, pela revolução digital, mas não só - que o fundador da Amazon, Jeff Bezos, comprou o The Washington Post, em 2013, por 250 milhões. No mesmo ano, o proprietário da equipa de baseball de Boston, os Red Sox, John Henry, comprou o Boston Globe por 70 milhões. No início de fevereiro deste ano, foi a vez deste médico empreendedor entrar no ramo. Soon-Shiong, que também possui uma posição minoritária na equipa de basquetebol Los Angeles Lakers, não quer ficar atrás de publicações como o Washington Post ou The New York Times.
“Se podemos competir com eles? Não é se pudemos; é devemos. Nós devemos competir com eles”, disse. “Todos nós devemos de ser os bastiões da democracia neste país. Devemos de ser o quarto poder — instituições que vão contar as notícias”, concluiu.
Considera as notícias falsas como sendo “o cancro do nosso tempo”, mas também é crítico dos curtos períodos de atenção e do discurso hiper partidário. Muito por causa dos telemóveis inteligentes. “Por causa destes dispositivos móveis que temos, agora existe uma ausência daquilo a eu chamo de leitura lúdica”, disse. “Temos uma geração cujos cérebros foram programados para olhar para peças pequenas com poucos períodos longos de atenção — devido a uma alteração, literal, do cérebro”.
E explica o “como”, utilizando o exemplo do Twitter. “É um fenómeno viciante que fornece pequenos parágrafos, o Twitter, que torna impossível separar o que é informação verdadeira ou imparcial, daquilo que é considerado fake news”.
Não vai desistir do papel
“Hieróglifos começaram-no, não penso que vá acabar. Estou determinado que a versão impressa, que o papel, continue a existir”. E justifica: “os miúdos hoje em dia querem comprar discos de vinil. Daqui a pouco tempo terás jovens a querer comprar papel”, defende, meio a brincar, meio a sério.
Vê os jornalistas um pouco à semelhança dos cientistas — ambos adoram a descoberta e conseguir compreender o que se passa — e quer que sejam estrelas. Da mesma forma que não quer manobras de clickbait (formulações editoriais que apenas visam conseguir o clique dos leitores). Nem ser como o Buzzfeed ou Mashable. “Clickbait e a correria aos cliques não é (de todo) a visão daquilo que nós fazemos. Não quero globos oculares itinerantes de 10 segundos”, disse.
Em entrevista ao jornal inglês Guardian, explicou a diferença e o porquê da sua decisão: “A audiência [de meios como Buzzfedd ou Mashable] são os anunciantes. A minha audiência é o leitor. Leitores que consigo atrair, que reconhecem valor no que pagam e que vão voltar”, finalizou.
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