Olena, de 40 anos, os seus pais e os filhos Mark, de 17 anos, e Matvii, de 12 anos, fugiram da capital ucraniana em carro próprio para Chernivtsi, mas, poucos dias depois, seguiram para a Moldávia, onde permaneceram um mês em casa de amigos.
A evolução da guerra e o medo fizeram com que decidissem rumar até Portugal, onde, há cinco anos, gozaram duas semanas de férias.
“Visitamos várias zonas, como Lisboa, Porto ou Guimarães. Sei que Portugal tem uma grande comunidade ucraniana. Gostei tanto de Portugal que pensei: um dia, quando me reformar, gostava de viver cá”, contou Olena, que nunca imaginaria que, cinco anos mais tarde, viria para Portugal, mas pelas piores razões.
Os pais, por já terem uma certa idade, e o filho mais velho, que a acompanha na entrevista, seguiram de avião para Portugal.
“Eu e o [filho] mais novo fomos de carro desde a Moldávia até Portugal. Foram cinco dias de viagem”, conta Olena, através da tradutora.
Quando chegou a Guimarães assume que se sentiu “um pouco perdida”, razão pela qual foi pedir ajuda à Câmara de Guimarães, que, a partir daí, sempre a acompanhou e a ajudou, sobretudo com todo o processo burocrático e com a obtenção de documentos.
“Têm sido maravilhosos. Sentimos muito apoio. Cada pessoa quer ajudar. Estamos muito gratos a toda esta gente que nos ajudou, nos apoiou. À Câmara de Guimarães, às escolas onde estão os meus filhos e à Associação Amigos de Urgeses, onde o Matvii joga futebol”, salientou a gestora, de sorriso fácil, apesar da tristeza pela guerra.
O regresso à Ucrânia é um objetivo e um desejo permanente, mas sem data marcada.
“Claro que queremos regressar a casa. Mas não sabemos quando, nem quando é que a guerra acaba. Vim para Portugal para poder dar um futuro aos meus filhos. Foi por isso que vim”, refere Olena Besedina.
De chapéu na cabeça e auscultadores ao pescoço, Mark, o filho mais velho de Olena, junta-se à conversa, que decorre num banco de pedra, em frente ao edifício da Câmara de Guimarães.
O jovem conta que tem aulas ‘online’ três vezes por semana a partir da Ucrânia, para poder acabar o equivalente ao ensino secundário em Portugal.
O plano passa, depois, por concorrer a uma universidade e formar-se em tecnologias de informação e comunicação.
A música é outra das paixões de Mark, que, em breve, vai começar a ter aulas de guitarra eletrónica numa instituição de Guimarães.
Contudo, o semblante de Mark muda radicalmente quando questionado sobre a guerra no seu país. Faz-se silêncio, tira o chapéu e baixa o olhar para o chão. Conta que os seus amigos, com quem em 24 de fevereiro (dia do início da invasão russa) conviveu, também estão espalhados por vários países da Europa. As saudades, essas, são muitas e vão sendo encurtadas pelos telemóveis.
Para já, o futuro segue em Guimarães, cidade na qual gosta de passear e de conviver com os amigos que vai fazendo, apesar de ser um pouco introvertido.
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