
Um estudo divulgado esta semana na revista Royal Society Open Science revelou que as capas “peludas” de vários livros medievais do século XII e XIII são, afinal, feitas de peles de foca — e não de javali ou veado, como se pensava anteriormente.
Os livros analisados pertencem à Abadia de Clairvaux, um mosteiro cisterciense no interior de França, bem como a outros mosteiros associados.
Segundo o The Guardian, esta descoberta inesperada oferece uma nova perspectiva sobre as redes de comércio da Idade Média, muito mais vastas e interligadas do que se supunha.
Os investigadores identificaram um total de 43 volumes com capas feitas de pele de foca, incluindo exemplares de foca-comum, foca-da-Gronelândia e até foca-barbuda. Estes animais não habitavam a costa francesa na época medieval, o que torna a descoberta ainda mais surpreendente, tendo em conta a localização interior dos mosteiros.
"Pensei logo: isto não pode ser. Deve haver algum erro. Reenviei as amostras para análise, e claro, o resultado voltou a indicar pele de foca", disse a investigadora Élodie Lévêque, da Universidade Panthéon-Sorbonne, em Paris.
Inicialmente, acreditava-se que as capas — conhecidas como “chemises” — eram feitas com peles de animais terrestres, dada a presença visível de pêlos. No entanto, ao observar mais atentamente a disposição dos folículos capilares, através de análises proteicas e de ADN, confirmaram-se as origens marinhas.
A utilização de peles de foca para encadernações era comum na Escandinávia e na Irlanda, mas nunca tinha sido documentada em território francês.
Esta descoberta vem reforçar a ideia de que os cistercienses estavam longe de ser uma ordem isolada e auto-suficiente, como tradicionalmente se pensa. Pelo contrário, estariam integrados numa rede de comércio internacional, que incluía o intercâmbio de peles e marfim com povos nórdicos, nomeadamente escandinavos e colonos da Gronelândia.
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