É um jogo divertido, é uma prova de destreza, é uma humilhação pública, é uma metáfora para a vida adulta.
Todos jogámos à dança das cadeiras quando éramos mais novos. Rodopiando em torno dos tronos que permitem passar à ronda seguinte, olhávamos nervosamente uns para os outros à espera que a música parasse para procedermos a uma desenfreada corrida a um lugar vago.
Com as devidas distâncias, as eleições legislativas são uma espécie de jogo das cadeiras, onde os candidatos rodopiam à conquista dos votos que lhes podem garantir uma cadeira na Assembleia da República.
Findado o jogo ficámos hoje a saber onde é que a maioria dos vencedores se vai sentar — e nem todos ficaram contentes com o seu lugar —, faltando atribuir os quatro lugares dos círculos de emigração que ainda vão ser contados esta noite.
Mas há outras cadeiras vagas a precisar de preenchimento. Uma delas é a da presidência do CDS-PP, já que, perante os penosos resultados neste último ato eleitoral, Assunção Cristas convocou um conselho nacional para agendar o congresso que elegerá o sucessor e anunciou que não se recanditaria. Ou seja, por outras palavras, demitiu-se.
É amanhã à noite que decorre esse esta reunião, mas este é um jogo de cadeiras que ninguém parece querer ganhar. Ninguém, atenção, à exceção de Abel Matos Santos, da Tendência em Movimento (TEM), o único candidato assumido. De resto, apenas João Almeida, deputado e porta-voz do partido, e Filipe Lobo D’Ávila, um crítico da anterior direção, do grupo "Juntos pelo Futuro" do CDS, se perfilam como possíveis concorrentes, mas ainda “em reflexão”.
Resta então aguardar por este debate preliminar e pelos seus efeitos — tendo em conta que o 28.º congresso do CDS-PP ocorrerá no final do ano, é bem possível que haja eleições à presidência do partido por essa altura.
Em matéria de reuniões, existe outra potencialmente fundamental, desta feita para o futuro da Europa, a ocorrer amanhã. Até dia 18, o Conselho Europeu vai reunir os Chefes de Estado ou de Governo dos Estados-membros da União Europeia para discutir de novo o Brexit — António Costa, naturalmente, estará presente.
Tudo isto tendo em conta que os últimos dias foram dominados por negociações entre Londres e Bruxelas a fim de se acordar finalmente um processo de saída que agrade todas as partes. Da parte europeia, Donald Tusk disse que “as bases de um acordo estão prontas".
Levando a dança de cadeiras para o plano cultural, se ainda não escolheu o seu lugar no Doclisboa, recomendo que o faça rapidamente. É já amanhã que começa o certame de cinema documental na capital, sendo que a sessão de abertura vai ocorrer no Grande Auditório da Culturgest, presidida pela ministra da Cultura, Graça Fonseca, com o filme “Endless Night”, de Eloy Enciso.
De resto, se é cinema que quer, mas não do género documental, amanhã é também dia de estreias. Um pouco por todo o país, estreiam filmes como Maléfica II: Mestre do Mal, Mutant Blast, Abominável, Equipa de Assalto e Asako I e II.
Mais a sul, para ouvir sentado, mas dar ao pé, o Seixal acolhe a 20.ª edição do Festival de Jazz, que decorre até dia 26. Os concertos amanhã ficam a cargo de Kenny Barron Trio (no Auditório Municipal do Fórum Cultural do Seixal) e de Fragoso Quinteto (no SeixalJazz Clube).
Se quer evitar a dança das cadeiras, mas mesmo assim enriquecer a sua vida cultural, no Porto há duas experiências para se ter de pé, ambas sendo exposições de fotografia. No Centro Português de Fotografia é inaugurada a mostra “Este mundo maravilhoso, inquieto e espantoso", do fotojornalista russo Alexey Belyanchev, ao passo que o Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto acolhe a exposição dos 130 anos da revista National Geographic.
Seja de que forma for, viva ou assista a estes jogos de cadeiras que decorrerão amanhã, não faz sentido dançar sem música. Fique então com uma compilação dos Nocturnos de Chopin, compositor polaco cuja morte faz amanhã 170 anos, mas cuja mestria ao piano é eterna.
O meu nome é António Moura dos Santos e hoje o dia foi assim.
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