O presidente da junta de freguesia, Alberto Fernandes, descreveu um ambiente diferente nesta vila de Montalegre, no distrito de Vila Real, que costuma ser “muito movimentada”. As pessoas, contou, “retraem-se, ficam mais em casa, as que saem andam com as devidas precauções”.
“Estamos todos tristes, mas aguardamos por melhores dias (…). Com este medo todo os pais não estão a deixar vir os filhos à escola. Nos últimos dias retraíram-se, vieram cinco, três e hoje (quinta-feira) apenas lá está um aluno”, afirmou à agência Lusa.
A viver perto da básica de Salto, uma idosa, que não se quis identificar, disse estranhar o silêncio que ocupou aquele estabelecimento de ensino frequentado por cerca de 70 crianças. A escola não fechou e os professores e funcionárias continuam a ir trabalhar.
“Os meninos não têm vindo. E, na vila, há uma semana as pessoas andavam abaixo e acima e agora não se vê ninguém”, contou, acrescentando que só sai à rua quando é “mesmo preciso”.
Também na escola secundária do Baixo Barroso, na Venda Nova, em cerca de 150 alunos, foram menos de 50 os que foram às aulas na quinta-feira. Alguns dos estudantes encontram-se em isolamento profilático.
Sem nenhum caso positivo até à semana passada, a freguesia ultrapassa agora os 50. Os primeiros foram detetados no Lar Nossa Senhora do Pranto, espalhando-se depois pela comunidade.
O Agrupamento de Escolas Doutor Bento da Cruz confirmou que foram confirmados três casos de covid-19 na escola básica e secundária do Baixo Barroso e dois na escola básica de Salto.
Ainda se veem pessoas pelas ruas, na sua maioria a usar máscara, pelos cafés e esplanadas, mas, segundo Alberto Fernandes, são muito menos do que é normal nesta localidade.
Ao longo da Estrada Nacional (EN) 311, que atravessa Salto, encontram-se cafés e pastelarias, restaurantes, bancos e os correios.
“A vila vive um pouco do comércio local, da passagem desta estrada que faz a ligação à autoestrada em Arco de Baúlhe. É a saída principal do concelho e tínhamos muito movimento nos cafés e restaurantes”, referiu o autarca.
Na pastelaria de Vitória Martins o “movimento foi descendo drasticamente” desde que se soube que havia casos em Salto. “A cada dia que passa há menos pessoas a parar aqui”, referiu.
Vitória Martins está preocupada, mas depois de dois meses de portas fechadas por causa do confinamento diz que não quer voltar a encerrar.
“Foi difícil as pessoas voltarem ao ritmo normal e agora já estava a acontecer. Aos pouquinhos foram vindo. Sempre fui muito exigente com o uso de máscaras e a alertar as pessoas para desinfetarem as mãos”, salientou.
José Oliveira tem uma carrinha de venda ambulante de peixe e passa duas vezes por semana em Salto onde disse que, ao contrário do que era normal, encontrou “pouquinhos clientes”.
“Que diferença. De 100% não se trabalha 20%. Está muito fraco”, apontou.
Desde o início da pandemia que os bombeiros de Salto assumiram novas tarefas e estão a apoiar a população, nomeadamente os mais idosos e doentes, com a distribuição de alimentação e de medicamentos.
Agora, segundo o comandante da corporação, Hernâni Carvalho, a ajuda é também dada aos que cumprem isolamento na localidade.
Com dois casos positivos e mais cinco operacionais em isolamento, embora tenham testado negativo à covid-19, a corporação tem 14 bombeiros em permanência para assegurar o socorro e o apoio à população.
Hernâni Carvalho referiu que, inclusive, uma equipa de bombeiros está preparada para entrar no Lar Nossa Senhora do Pranto, e, sempre que for necessário, ajudar as funcionárias em algumas tarefas.
São 36 os casos positivos naquela instituição, entre utentes (25) e funcionárias (11), e a falta de trabalhadores tem sido um dos principais desafios a resolver.
O autarca Alberto Fernandes, que é também presidente da direção do lar, destacou o trabalho e o sacrifício das suas funcionárias e referiu que quatro elementos da brigada de intervenção estão a ajudar a tratar dos utentes.
Porque havia condições de segurança, optou-se por manter todos os idosos no lar, entre positivos e negativos à doença.
A Câmara de Montalegre acionou o Plano Municipal de Emergência e Proteção Civil.
Segundo o boletim epidemiológico divulgado pela Unidade de Saúde do Agrupamento de Centros de Saúde do Alto Tâmega, o concelho de Montalegre contabilizava 60 casos ativos na quinta-feira. Ao todo, havia 112 casos ativos no Alto Tâmega e Barroso.
Portugal contabiliza pelo menos 2.050 mortos associados à covid-19 em 82.534 casos confirmados de infeção, de acordo com o último boletim da Direção-Geral da Saúde (DGS).
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
*Por Paula Lima (texto) e Pedro Sarmento Costa (foto), da agência Lusa
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