O apelo foi feito há dez dias, numa carta que seguiu não só para Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa, mas também para o presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, para a ministra da Saúde, Marta Temido, para a secretária de Estado para a Inclusão das Pessoas com Deficiência, Ana Sofia Antunes, para a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas e para o coordenador da ‘task force’ para o plano de vacinação em Portugal, vice-almirante Henrique Gouveia e Melo.
“Tivemos só resposta do gabinete do primeiro-ministro, que disse que encaminhou a carta para o Ministério do Trabalho e da Segurança Social, e do presidente da Assembleia da República, que comunicou que tinha distribuído aos deputados que fazem parte da comissão de Saúde e de Trabalho e Segurança Social”, adiantou Jorge Falcato, em representação da associação Centro de Vida Independente.
Na carta, as mais de 70 organizações alertam que as pessoas com deficiência correm maior risco de contrair covid-19, tendo em conta as condições de saúde e o contacto próximo com os seus cuidadores, e de desenvolver sintomas mais graves da doença, defendendo que estas pessoas “não podem ficar esquecidas”.
Defendem também que as pessoas com deficiência e os seus cuidadores tenham acesso prioritário à vacinação, incluindo assistentes pessoais, cuidadores familiares e pessoas que trabalhem em serviços relacionados com a deficiência.
Nesta primeira fase do plano de vacinação, querem que sejam incluídas todas as pessoas com deficiência, independentemente da idade, que tenham uma das patologias já definidas, pessoas com deficiência intelectual ou psicossocial, pessoas autistas (que estão dispensadas do uso de máscara), bem como os cuidadores destas pessoas.
“Não há razão nenhuma para que na primeira fase exista um limite de idade quando sabemos que há muitas pessoas com deficiência que sofrem das comorbilidades estabelecidas para quem tenha mais de 50 anos”, apontou Jorge Falcato, acrescentando que estas pessoas correm “um risco muito maior”.
Sublinhou, por outro lado, que quando as pessoas com deficiência estão dependentes de outras não podem respeitar o necessário distanciamento físico e que isso aumenta o risco de contágio.
À Lusa, o presidente e fundador da Associação Salvador contou que é disso exemplo, já que duas das pessoas que tinha como assistentes pessoais ficaram infetadas com covid-19, o que teve um forte impacto na sua vida.
“Eu deixei de ter a assistência deles e isso causou um enorme desequilíbrio na minha vida, no meu sistema de apoios”, adiantou, acrescentando que teve de recorrer a outras pessoas que não têm o mesmo nível de conhecimento e de preparação para lidar com uma pessoa tetraplégica como é o seu caso.
De acordo com Salvador Mendes de Almeida, estima-se que haja em Portugal cerca de um milhão de pessoas com deficiência, com diferentes graus, destacando que nos casos das pessoas mais dependentes, que se desloquem em cadeiras de rodas ou tenham problemas respiratórios “há um grande nível de risco”.
“Como a grande maioria das pessoas já vive com elevado grau de exclusão social, torna-se fundamental que estas pessoas, que têm grau de incapacidade mais elevado, sejam também considera no plano de vacinação como prioritárias”, defendeu.
Na carta enviada, é também defendido que a segunda fase de vacinação seja alargada às restantes pessoas com deficiência e que os locais de vacinação sejam facilmente acessíveis, além de pedirem programas específicos de transporte quando necessário ou orientações e assistência personalizada para quem precise.
Pedem também que a divulgação da vacinação seja acessível a todas as pessoas com deficiência, com recurso a língua gestual, legendagem, braille ou leitura fácil, bem como serviços online acessíveis.
Além das cartas, as associações têm uma petição a decorrer desde há dois dias, que conta com mais de 2.200 assinaturas.
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