Esta foi a primeira vez na sua história que o Congresso dos Estados Unidos aprovou um voto destinado a limitar os poderes presidenciais em termos de envolvimento militar no estrangeiro.
“Hoje erguemo-nos claramente contra a guerra e a fome, e a favor dos poderes militares do Congresso, ao votar pelo fim da nossa cumplicidade na guerra do Iémen”, reagiu o senador independente Bernie Sanders, candidato às primárias Democratas e autor da resolução.
A Câmara dos Representantes, com maioria do Partido Democrata, aprovou o texto (247 votos contra 175), que já tinha sido legitimado pelo Senado, controlado pelos Republicanos.
Pelo menos 15 eleitos Republicanos da Câmara aprovaram a proposta de lei, num revés particularmente humilhante para o Presidente Donald Trump, que deverá impor o seu direito de veto presidencial para bloquear uma medida aprovada com o apoio de parte do seu próprio campo.
Pela primeira vez em 45 anos, o Congresso utilizou uma lei votada em 1973 (War Powers Resolution) para limitar os poderes militares de um Presidente do país.
Com a resolução sobre o Iémen, “o Congresso exige ao Presidente que retire as forças armadas americanas das hostilidades que atingem a República do Iémen”, à exceção das operações que visem a Al-Qaida e associados, 30 dias após a adoção do texto.
O texto prevê que o Presidente possa solicitar um adiamento desta data, que o Congresso deverá aprovar.
Em março, a Casa Branca manifestou “firme oposição” a esta resolução “imperfeita”, dando a entender que seria bloqueada por Trump.
Desde 2015 que o Pentágono fornece um “apoio não-combatente” à coligação conduzida pela Arábia Saudita no Iémen, incluindo a entrega de armamento e fornecimento de informações. No final de 2018 os EUA suspenderam as suas operações de abastecimento em voo da aviação saudita.
A rara união entre deputados Democratas e Republicanos nesta votação pode ser explicada em grande medida pela profunda cólera no Congresso pelo assassínio em Istambul do jornalista saudita Jamal Khashoggi em outubro de 2018, por um comando proveniente de Riade.
O Iémen regista um devastador conflito após a intervenção de uma coligação árabe sob comando saudita em março de 2015, em apoio às forças pró-governamentais contra os rebeldes Huthis.
As forças insurgentes são apoiadas pelo Irão, o grande rival xiita da Arábia Saudita sunita no Médio Oriente.
Segundo a ONU, este conflito provocou a maior catástrofe humanitária no mundo, e com um balanço de mais de 10.000 mortos. Diversas organizações não-governamentais consideram que o balanço das vítimas é muito superior.
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