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CRIAR O BØRN

Estou no campo, a olhar para uma árvore. A árvore contém várias maçãs com bolor, um balde partido e o meu filho mais novo. É uma terça-feira tempestuosa e gostaria muito de ir para casa. Mas o universo tem outros planos.

— Há quanto tempo é que ele está ali em cima?

— Ele esteve connosco ao almoço... — diz uma ajudante do børnehave, o jardim de infância do meu filho. São três da tarde, por isso não é grande ajuda. Pensei que algo tinha corrido mal, quando não o vi na caixa de areia com os seus pequenos vikings favoritos. Nem estava a desenhar nas paredes com giz. Nem a cozinhar um banquete na «cozinha de lama». Isto porque, segundo soube agora, ele conseguiu subir a uma árvore. Mas, tal como os gatos em todos os episódios d’O Bombeiro Sam (ou Brandmand Sam em dinamarquês), parece que não consegue descer.

— Kom nu! — grita a estagiária ajudante, que quer dizer: «Anda cá!»

Não se mexeu.

— Kom nu! — tentou ela novamente.

Continuou sem se mexer.

— Kom... — disse numa terceira ronda.

— Acho que — interrompo-a — se ele pudesse kom nu, já teria kom nu por esta altura... — Olho em volta à procura de ajuda, mas todos os outros adultos têm crianças penduradas neles como macacos humanos. Eles são pedagogos ou jovens educadores de infância — pessoal altamente treinado, com um bacharelato de três anos e meio em educação social, que estão habituados ter crianças penduradas neles como se fossem barras para macacos humanas. Estão menos habituados a crianças presas em árvores. Por isso, esta é por minha conta.

Tento ensinar o meu filho a descer («põe um pé ali, o outro aqui...»), mas sem sucesso. Vou ter de subir, estou mesmo a ver. Vou agarrar na minha saia e trepar a uma árvore. Pela primeira vez em trinta anos.

Os ramos mais baixos foram muito fáceis, embora fosse um espetáculo deselegante. Os seguintes foram mais complicados. Arranjaste-a bonita, pensei, impressionada com o facto de ele ter conseguido fazê-lo com 5 anos. Do meu ponto elevado, vi o sol a bater nas telhas brilhantes e vários pais a subir a rua para ir buscar os seus filhos.

— Oh, hej! — Aceno e quase perco o equilíbrio.

— Estás bem? — diz um deles. É aquele que o Homem-Lego jura sempre que é «o sósia do Peter Schmeichel». Depois de pesquisar no Google «Quem é o Peter Schmeichel?» e perceber que era um futebolista e famoso guarda-redes do Manchester United, nos tempos em que o clube ganhava coisas, refutei-o («Ele é apenas alto e louro — como todos aqui!»). Além disso: o meu marido usa óculos fundo de garrafa e tem um reconhecimento facial sofrível. Mas ele insistiu, e a alcunha pegou.

— Queres ajuda? — pergunta o sósia do Peter Schmeichel.

Na verdade, gostava de ajuda. Mas uma pequena rapariga vestida de Elsa do filme Frozen está a olhar para mim com olhos de Gato das Botas.

Não posso desiludir a Elsa... Só agora começámos a ter boas protagonistas femininas na Disney. O que faria a Mirabel? Ou a Moana? Elas NÃO ficariam, de forma nenhuma, à espera que um viking de corpo delgado aparecesse e as salvasse...

— Nej tak, estou bem — digo-lhe no meu caraterístico «danglish» (dinamarquês-inglês), e depois acrescentei: — Jeg kan gøre det selv — ou «Eu consigo sozinha», a frase que todos os bons vikings dinamarqueses aprendem a partir dos 2 anos.

— De certeza? — pergunta Peter Schmeichel.

— Uh-huh... — Vacilo na resposta. Maldito igualitarismo nórdico, que faz qualquer ação para com que as donzelas em perigo impossível! — Jeg er OK! — («Estou bem»), minto.

Seguem-se alguns palavrões e pequenas farpas, mas com um joelho arranhado depois, consigo descer com o meu filho. Meias esburacadas, orgulho intacto. Mais ou menos.

— Flot! — diz uma educadora com três crianças penduradas que significa «fixe!» E depois: — Tak for en rigtig god dag! — ou «Obrigada por um dia muito bom!»

Esta é uma creche ao estilo dinamarquês. Todas as crianças na Dinamarca frequentam infantários de alta qualidade, geridas pelo Estado, cinco dias por semana, desde os dez meses até completarem 6 anos, altura em que (finalmente) vão para a escola. E refiro-me a «todos». Até o príncipe Christian, o futuro rei, andou numa creche pública. Os pais podem optar por uma ama ou dagplejemor («mãe creche»), que pode tomar conta de até quatro crianças, embora a vuggestue (creche) e a børnehave ( jardim de infância) sejam as opções mais comuns.

O que quer que tenha acontecido nas horas anteriores, não importa quão maltratado, magoado ou coberto de lama o vosso filho esteja no momento da recolha, a resposta à pergunta «Ele/ela teve um bom dia?» tem a inevitável resposta: «Ja, rigtig god!» («Sim, muito bom!»)

O vosso filho pode ter um olho negro e uma clavícula fraturada, mas a resposta será, provavelmente: «Rigtig god!»

«Tem a certeza?», pode então perguntar um pai mais preocupado. Haverá uma pausa, enquanto esperam por mais informações sobre como o dia foi «muito bom», embora a criança tenha agora cicatrizes de batalha viking. Mas, normalmente, não é dada qualquer explicação, a não ser que seja necessária uma visita ao hospital ou ao dentista de urgência. E digo isto por experiência própria.

Muito ocasionalmente, as coisas correm (mais) mal. «A minha filha encontrou um buraco na vedação e fugiu», diz-me um pai. «A minha ficou fechada na creche depois de esta ter fechado», diz outro. E uma educadora que se quis manter anónima contou-me em primeira mão que uma criança desapareceu durante a «hora da floresta».

Uma mãe ligou para a børnehave e perguntou: «O «Ursinho Thor» está convosco?» (Thorbjørn é um nome muito popular na Dinamarca, de Thor, Deus do trovão, e bjørn, que significa urso. Eu sei. É demais.

"É Desta Que Leio Isto"

"É Desta Que Leio Isto" é um grupo de leitura promovido pela MadreMedia. Lançado em maio de 2020, foi criado com o propósito de incentivar a leitura e a discussão à volta dos livros.

Já folheámos as páginas de livros de autores como Luís Sepúlveda, George Orwell, José Saramago, Dulce Maria Cardoso, Harper Lee, Valter Hugo Mãe, Gabriel García Marquez, Vladimir Nabokov, Afonso Reis Cabral, Philip Roth, Chimamanda Ngozi Adichie, Jonathan Franzen, Isabel Lucas, Milan Kundera, Joan Didion, Eça de Queiroz e Patricia Highsmith, sempre com a presença de convidados especiais que nos ajudam à discussão, interpretação, troca de ideias e, sobretudo, proporcionam boas conversas.

Ao longo da história do nosso clube, já tivemos o privilégio de contar nomes como Teolinda Gersão, Afonso Cruz, Tânia Ganho, Filipe Melo e Juan Cavia, Kalaf Epalanga, Maria do Rosário Pedreira, Inês Maria Meneses, José Luís Peixoto, João Tordo e Álvaro Laborinho Lúcio, que falaram sobre as suas ou outras obras.

Para além dos encontros mensais para discussão de obras literárias, o clube conta com um grupo no Facebook, com mais de 2500 membros, que visa fomentar a troca de ideias à volta dos livros, dos seus autores e da escrita e histórias que nos apaixonam.

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*Muda imediatamente de nome no registo assim que puder*) Então, a mãe do Thorbjørn estava ao telefone e o pessoal da creche olhou em volta, fez uma contagem rápida e tiveram de admitir: «Na verdade... não: não está connosco.» «Não, não está convosco», respondeu a mãe, «porque ele encontrou o caminho para casa e está à minha janela.» É admirável que na sexta-feira seguinte já todos viam «a coisa pelo lado positivo» e elogiavam o rapaz pela sua desenvoltura.

Vugguestue ou a «sala do berçário» para menores de 3 anos é um pouco menos perigosa embora, com mais de dez crianças entre os 10 meses e os 3 anos, possa ser uma bela mixórdia de crianças. Quando a pequena Ingrid ou o pequeno Svend foram deixados pela primeira vez com dez meses, tiveram de ter muita sorte para não serem espezinhados por um brutamontes de 3 anos. No mês do seu terceiro aniversário, os bebés passam para a børnehave, onde se espera que se desenrasquem com crianças até aos 6 anos.

— Mas está tudo bem — garantiu-me uma educadora encantadora chamada Pia, depois do primeiro olho negro do meu filho —, porque temos o programa «passo a passo» que os ensina a ler as emoções uns dos outros. Presumivelmente, para que se saibam desenrascar e sobrevivam aos confrontos elementares entre crianças.

Apesar do meu ceticismo, esta abordagem tem precedentes. A antropóloga Abigail Page estuda comunidades de caçadores-reco- letores e concluiu que os minialoparentais — indivíduos que não são os pais, mas que cuidam das crianças — prestam cerca de um quarto de todos os cuidados prestados às crianças pequenas em alguns locais. A psicóloga Sheina Lew-Levy concluiu que, na África Central, a aprendizagem entre crianças é muito mais comum após a infância do que a aprendizagem adulto-criança.45 Pensa-se que os jogos de grupos multidade são importantes para ajudar as crianças a alargarem os seus horizontes, a adquirirem competências sociais e emocionais e a aprender a funcionar em sociedade. As outras crianças tendem a ser melhores professores e companheiros de brincadeira do que os adultos, uma vez que as crianças integram naturalmente o jogo na aprendizagem e têm níveis de competências mais próximos uns dos outros. Portanto, tudo isto é ótimo — desde que consigam se desenrascar.

— Os professores tentam ser «ativamente passivos» — diz Lise Hansen, uma educadora loura e sorridente que trabalha na Valhalla Børnehave, em Vejle (o seu marido australiano chama-lhe «a viking de Valhalla»). — Ficamos de mãos atrás das costas — diz-me ela. Presumo que esteja a falar metaforicamente. Mas não é verdade.

— Se uma criança se junta a um grupo onde todos estão sentados numa cadeira, mas não há uma para ela, e está quase a ficar chateada ou a fazer uma birra, ficamos de mãos atrás das costas. Literalmente. Para enviar um sinal. Poderia dizer-se algo como: «Oh, desculpa não teres uma cadeira. Que podemos fazer quanto a isso?» — O estímulo é fazer com que as outras crianças vão buscar uma cadeira. Em vez de «resolver o problema», os educadores esperam que as crianças o resolvam sozinhas.

— Também funciona com as crianças muito pequenas— diz Lise. — No infantário, se um bebé está a chorar, podemos dizer aos outros: «Oh, o Anton está triste! Lembras-te o que fazemos quando tu estás triste?» E um bebé de 2 anos pode dizer: «Vamos buscar uma sut?» — uma chucha em dinamarquês. — Então, eu digo: «Ótimo! Podes ir buscar uma sut para o Anton?» E, assim, também lhes ensinamos a empatia.

No entanto, no Reino Unido e na Austrália, onde Lise também trabalhou, «é menos sobre o seu desenvolvimento como pessoa e mais sobre leitura e matemática — logo a partir dos quatro anos.» Nadine, dinamarquesa, mãe de dois filhos na minha cidade, passou dez anos em Silicon Valley e lembra-se de infantários especializados em mandarim e atividades extracurriculares para preparar as crianças para Stanford — com 2 anos.

Mas e os vikings? «Damos prioridade à brincadeira e ao tempo na natureza», diz Kitta, uma educadora viking escultural que tomou conta de todos os meus três filhos. Kitta, 51 anos, começou a trabalhar num jardim de infância quando tinha 18 anos e, desde então, tem sempre trabalhado, «com exceção dos três anos que passei na prisão.»

Pergunto-me se terei ouvido mal: «Prisão?»

— Sim! Passei tantos anos no jardim de infância que achei que devia experimentar outra coisa. Por isso, tornei-me guarda prisional.

A prisão, diz-me ela, é, na verdade, muito parecida com o jardim de infância.

— Estamos a cuidar de pessoas, temos de ganhar o seu respeito e tens de encontrar uma forma de comunicar. — Isto faz sentido. Uma vez entrevistei um negociador de reféns do FBI que me disse que tudo o que ele aprendera no trabalho também podia ser aplicado a crianças pequenas.

— Então, porque não ficou na prisão, por assim dizer?

— Muito aborrecido! — respondeu. — Trabalhava das oito às quatro e não acontecia nada. Já no infantário... — Ela abre bem as mãos e sopra todo o ar para fora das bochechas: — Nunca é aborrecido com crianças. — No caso de uma dúzia de pequenos vikings não serem dose suficiente, os educadores dinamarqueses encorajam ativamente os seus alunos a fazerem loucuras de vez em quando. — É importante para eles correrem à solta e serem ramasjang [«espalhafatoso» em português] — diz Kitta —, por isso, deixamo-los correr colinas acima e abaixo e fazer barulho. A forma como se movem é como aprendem a falar. Se não usarem o corpo da forma correta, é mais difícil aprenderem a falar. — Os estudos mostram que, embora o desenvolvimento motor não provoque o aparecimento da linguagem, eles estão relacionados, e novas capacidades motoras podem contribuir para o desenvolvimento da linguagem.

O objetivo das creches na Dinamarca é promover o bem-estar das crianças, dar flexibilidade à família e evitar uma herança social negativa, de acordo com a Lei dos Serviços de Creche da Dinamarca. Na Suécia, os cuidados infantis baseiam-se igualmente no princípio de que nos primeiros anos, a educação é uma forma de prevenção da pobreza. A OCDE afirma atualmente que uma boa qualidade dos serviços para com as crianças contribui para um melhor começo de vida das suas vidas. E três décadas de investigação mostram que o que acontece entre o nascimento até aos 5 anos estabelece as bases para a nossa saúde e felicidade futuras. Esta janela de oportunidade é quando o nosso cérebro está no seu estado mais recetivo e adaptável. Se a perdermos, pagamos a fatura a longo prazo. Os investigadores da London School of Economics estimam que as medidas corretivas para resolver os problemas de saúde física e mental das crianças «que poderiam ter sido evitadas através de ações na primeira infância» custam 16 mil milhões de libras esterlinas. Por ano. Só em Inglaterra.

O que, todos concordamos, é um disparate. Os países nórdicos adotaram uma abordagem diferente. «Nota-se desde o início que os educadores não estão a «tomar conta», estão a educar as pessoas», diz a finlandesa Katja Pantzar, mãe de um filho, «eles ensinam as crianças a cozinhar, ajudar, voltar a pôr os pratos no tabuleiro depois das refeições — as crianças aprendem a participar.»

— A participação é fundamental — concorda a educadora Lise. — Há que garantir que todas as crianças participam em todas as atividades ao mesmo nível.

Não quero armar-me em Maggie Thatcher, mas será que isto não significa que ninguém pode ter sucesso? Algumas crianças não ficarão para trás quando todos são tratados da mesma forma?

— Não — diz-me Lise (com firmeza) — acontece o oposto de todos serem esmagados e tratados da mesma forma — todos são tratados de forma diferente para chegarem ao mesmo nível. Cada criança é tratada como um indivíduo com necessidades individuais.

Isto parece brilhante, mas o que acontece na prática?

— As crianças participam no planeamento do dia e seguimos os seus interesses, por isso, se gostam de quintas, podemos ler livros sobre uma quinta ou organizar uma visita. — Também são oferecidos às crianças quaisquer recursos extras ou ajuda de que possam precisar. — Basta estalar os dedos e podemos arranjar um psicólogo, um terapeuta da fala, um fisioterapeuta, quatro especialistas diferentes, até tradutores, para estarem connosco para uma reunião de uma hora num par de dias — diz Lise.

— Na Finlândia, se formos muito sensíveis, ou tivermos um problema de fala, ou medo de ruídos altos, ou alguma dificuldade em brincar com os outros, recebe-se ajuda prática para resolver o problema — diz Katja.

Como é que isto funciona com a ideia de espírito viking ou sisu, em finlandês, muitas vezes traduzido como «coragem» ou «resi- liência»? Não há aqui um conflito?

Katja escreveu um livro sobre sisu, duas vezes (Sisu: o segredo finlandês para encontrar a felicidade, em 2018 e Everyday Sisu, em 2022), por isso deve saber. «Mas, na verdade», diz ela, «não — não há conflito. Não esperamos até se ter uma situação em mãos; olhamos para os primeiros sinais e procura-se uma solução. Vale a pena fazer isso, para garantir que não haja problemas maiores depois. Isto faz parte da abordagem nórdica de ajudar cada criança a atingir o seu potencial, independentemente do seu rendimento ou circunstâncias de nas- cimento.» Como escreveu o antigo diretor-geral do Ministério da Educação finlandês, Pasi Sahlberg, em Finnish Lessons: «O jardim de infância na Finlândia não se concentra na preparação académica das crianças para a escola a nível académico. Em vez disso, o principal objetivo é garantir que todas as crianças sejam indivíduos felizes e responsáveis.»

Livro: "Como Educar um Viking"

Autor: Helen Russell

Editora: Alma dos Livros

Data de Lançamento: 13 de março de 2025

Preço: € 19,45

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Quanto é que tudo isto custa? Bem, na Dinamarca, o Estado paga 75% do custo dos cuidados infantis. Para os menores de 3 anos, os pais pagam cerca de 3588 coroas dinamarquesas (480 euros) por mês e para as idades de 3 a 6 anos, são 2036 coroas dinamarquesas (272 euros). Se o rendimento coletivo do agregado familiar for inferior a 576 799 coroas dinamarquesas (77 262 euros), os cuidados infantis serão mais baratos e se for inferior a 185 701 DKK (24 875 euros) a creche é gratuita.49 Há também um desconto por irmão, por isso, se tiverem mais do que um filho a utilizar a creche, pagam o preço total pela creche mais cara e metade do preço para o(s) outro(s) — um pouco como o acordo de livros Richard & Judy da WHSmith.

Na Islândia, a creche pode começar a funcionar a partir dos seis meses de idade do bebé, se for pai ou mãe solteiro(a), ou nove meses para casais que coabitam ou casados. Os custos mensais começam em cerca de 430 libras para uma inscrição a tempo inteiro.

Os noruegueses frequentam a creche desde o primeiro ano de idade e os pais pagam cerca de 265 libras por mês. A creche na Finlândia é gratuita para as famílias com baixos rendimentos, com custos limitados a 253 libras por mês. A medalha de ouro vai novamente para a Suécia, onde os pais pagam apenas 10% do custo efetivo da creche, cerca de 112 libras* por mês, sendo o resto financiado através de impostos.

Na altura em que escrevi este livro, as creches a tempo inteiro para crianças com menos de 2 anos no Reino Unido custavam quase dois terços do rendimento semanal dos pais em muitas zonas. A Grã-Bretanha tem o segundo custo de cuidados infantis mais elevado do mundo desenvolvido. «Basicamente, entrego o meu salário todas as semanas para que o meu filho possa trazer para casa um vírus novo», diz uma amiga minha com um filho Pétri. A situação está a mudar, lentamente, graças ao trabalho pioneiro da deputada Stella Creasy e da campanha de caridade Pregnant Then Screwed. No orçamento para 2023, o governo reconheceu a impossibilidade de fazer crescer a economia sem estruturas de acolhimento de crianças a preços acessíveis. Até ao final de 2024, as crianças com idades compreendidas entre os 9 meses e 2 anos terão direito a quinze horas semanais de acolhimento gratuito. A partir de setembro de 2025, todos os pais que trabalham, com menores de 5 anos, terão acesso a trinta horas gratuitas. E até setembro de 2026, o Chanceler comprometeu-se a financiar todas as escolas primárias para que prestem cuidados de apoio das 8h00 às 18h00. Mas, como dizem muitos amigos, «Só acredito quando vir.»

Nos EUA, não existe um programa nacional de cuidados infantis. O que é uma loucura, uma vez que os estudos mostram que por cada dólar investido na educação da primeira infância, a economia em geral recebe de volta entre 1,50 e 2,80 dólares. Nos países nórdicos, a elevada proporção de mães trabalhadoras (82% na Dinamarca52) significa mais receitas fiscais para financiar a previdência — incluindo serviços de acolhimento de crianças de elevada qualidade, subsidiados por impostos. Os cuidados infantis pagam-se a si próprios. Melhor ainda, na terra dos vikings é automático, e não é preciso ser um membro da Mensa para se beneficiar.

— No Reino Unido, o processo de arranjar um infantário é administrativamente laborioso — conta a mãe britânica de um filho, Lydia Wright, licenciada em estudos da primeira infância, que dirige a Horizon Childcare, em Exeter e que, por acaso, também é minha prima. Atualmente, existem sete categorias de elegibilidade para cuidados infantis que nem mesmo no site do Governo parecem ser muito claros. — Alguns pais não compreendem a que têm direito ou qual a melhor forma de o requerer — diz Lydia — e por isso, espera-se que os profissionais de cuidados infantis sejam também contabilistas e treinadores para ajudar os pais durante o processo.

Para os novos pais que fazem malabarismos entre o mundo do trabalho e a criação de um novo ser humano, é uma tarefa difícil. Nos países nórdicos, subsidiados pelo Estado, os procedimentos são acessíveis, fáceis e organizados pelos municípios. As instituições de acolhimento de crianças só fecham durante o verão, pelo que os pais podem gerir as suas férias anuais — geralmente cinco semanas de férias pagas por ano.

As instituições estatais de alta qualidade, fortemente subsidiadas pelos impostos, são agora a norma, e para a ética dinamarquesa é quase uma crueldade infantil não deixar a criança socializar a partir dos dez meses. O mesmo acontece em muitas sociedades de caçadores-recoletores. Para o povo Maia da Península de Yucatán, no sudeste do México, não deixar que os outros amem os seus filhos é considerado uma atitude mesquinha. O povo indígena de Kugaaruk, no Canadá, acredita que, tal como os pais precisam de se afastar dos filhos, os bebés também se fartam dos pais e devem socializar regularmente. Kitta concorda: «É preciso aprender a ser social — quando as crianças estão em casa durante muito tempo, é-lhes muito difícil brincar com os outros. Por isso, é importante começar cedo.» Este não é um sentimento que se ouça no Reino Unido ou nos EUA. Pelo menos, não atualmente.

Durante a Segunda Guerra Mundial, era considerado um dever patriótico que tanto os homens como as mulheres trabalhassem no Reino Unido e nos Estados Unidos, pelo que o ensino pré-primário era apresentado como sendo benéfico para as crianças. Em 1943, 80% das mulheres casadas estavam a trabalhar e tanto a Grã-Bretanha como os Estados Unidos ofereciam lugares em creches a todas as crianças. Mas depois de 1945, os homens que regressavam da guerra precisavam de empregos — e as mulheres perderam os seus. As creches foram vistas como um legado dispendioso do tempo de guerra, pelo que foram encerradas. Em 1950, a Organização Mundial de Saúde encomendou um relatório ao psicólogo britânico John Bowlby sobre as crianças separadas dos pais em consequência da guerra. Nesse relatório, Bowlby condenava os cuidados institucionais em França, nos Países Baixos, na Suécia e na Suíça, descrevendo os grandes orfanatos como incapazes de satisfazer as necessidades das crianças. Extrapolou a partir deste argumento, afirmando que qualquer separação materna afetaria negativamente uma criança até certo ponto (Bowlby não se preocupou com os pais — deixou os cuidados dos seus quatro filhos inteiramente a cargo da sua mulher, Ursula). Em resposta às «descobertas» de Bowlby, a Organização Mundial de Saúde afirmou que as creches e os infantários causavam danos permanentes à saúde emocional das crianças. Só que os seus «resultados» não demonstravam nada disso. Além do facto de os seus métodos de investigação terem sido largamente desacreditados, Bowlby estava a analisar os resultados de enormes orfanatos, cheios de crianças profundamente infelizes que tinham sofrido conflitos, perdas ou abusos. Não eram creches.

A antropóloga norte-americana Margaret Mead e o psiquiatra britânico Michael Rutter foram alguns dos que rejeitaram as ideias de Bowlby nos anos seguintes, só que, nessa altura, a «teoria da vinculação» já se tinha afirmado no Reino Unido e nos EUA.

Mas não nos países nórdicos. Aqui, os governos queriam que as mulheres contribuíssem para os impostos, pelo que precisavam de bons cuidados infantis. A psicóloga Henriette Cranil não acha que isto tenha feito mal aos dinamarqueses. «Nas creches dinamarquesas, dá-se muita atenção à vinculação», explica, «e a tónica deveria ser posta na qualidade dos cuidados que as crianças recebem. Pode estar-se com o filho todo o dia, todos os dias, mas pode não ser um tempo de qualidade, se ele estiver sempre à frente de uma televisão, por exemplo. A creche é boa para ajudar as crianças a aprenderem a autorregulação com o apoio de educadores altamente qualificados.»

As manchetes alarmistas afirmam regularmente que as mães que trabalham correm o risco de prejudicar os seus filhos, mas estudos efetuados em Harvard desde 2015 desmentem categoricamente esta afirmação. Investigadores que analisaram dados de vinte e quatro países diferentes concluíram que as filhas de mães que trabalham têm melhores carreiras, melhores salários e relações mais igualitárias do que as filhas de mães que ficam em casa. E são tão felizes na idade adulta como os filhos de mães que ficaram em casa. Um estudo da Universidade da Carolina do Norte concluiu que as crianças se desenvolvem melhor com uma mãe feliz no seu trabalho do que com uma mãe frustrada por ficar em casa. Se quiserem, fiquem em casa com os vossos filhos. Mas se não for essa a vossa escolha, não se devem sentir obrigadas a fazê-lo. Porque um pai/mãe permanentemente a fervilhar de ressentimento não é muito divertido para ninguém. Como escreveu a economista Emily Oster em Cribsheet (2019): «O peso das provas sugere que os efeitos líquidos do trabalho no desenvolvimento infantil são pequenos ou nulos.»

A minha mãe trabalhou quando eu era pequena por necessidade. Mas a maioria das mães não trabalhava. Todos nós somos produtos da nossa educação, por isso, no início do meu percurso como mãe, eu tinha todo o tipo de «regras» para mim própria, para que não houvesse problema em pôr o pequeno ruivo na creche. Primeiro, decidi que ele tinha de passar mais horas do dia comigo do que na vuggestue. Quando me apercebi que a luz do dia era mínima na Dinamarca entre outubro e março (estamos a falar de Mordor), alterei a regra para: mais horas acordado comigo por dia do que na creche. É uma luta constante, mas já sei que sou um membro mais simpático e mais realizado da raça humana quando tenho uma vida profissional e uma vida doméstica.

— Na Dinamarca, acreditamos que os outros podem cuidar dos nossos filhos — não temos de estar sempre de guarda — diz a encantadora Pia, da creche dos meus filhos. — É bom deixar que os avós, os amigos ou os educadores assumam o controlo por vezes. — E também: os homens.

— O meu filho anda numa creche onde só há educadores do sexo masculino — diz Lise, a viking de Valhalla. — Isto seria considerado estranho no Reino Unido, mas o meu filho adora. Tem muito ar livre, é muito físico. — Os pequenos vikings passam as manhãs a correr pela floresta mais próxima, a jogar à apanhada, a construir fortalezas, a fazer «arte» com folhas e paus, a apanhar insetos e a rebolar na lama. Fazem uma pausa para o almoço e, à tarde, os mais velhos podem voltar a fazer tudo de novo. — Estou muito grata pelo facto de o meu filho ter esta experiência — diz Lise. — O estigma em torno dos homens que trabalham em creches não ajuda ninguém. — Apoiado. Os meus gémeos estão atualmente deslumbrados com um homem da creche chamado Simon, que consegue fazer uma trança rabo de peixe e desenhar um unicórnio de arrasar (quando solicitado). Não é um pedagogo formado; é antes, um estagiário auxiliar, que está a ver se quer trabalhar na área.

— Cada jardim de infância tem um ou dois estagiários auxiliares — explica Kitta. — Podem não ter a experiência ou a mesma for- mação, mas trazem energia e novas ideias. — Para trabalhar com crianças, todos os dinamarqueses veem o seu registo criminal verificado, mas acredita-se muito que as pessoas são essencialmente «boas».

Enquanto os amigos britânicos e americanos contam histórias de códigos biométricos para entrar nos infantários e até de CCTV, quando o meu filho entrou para a creche utilizámos um «sistema de ímanes». E a palavra «sistema» está aqui extrapolada. Cada criança tinha um íman que os pais podiam mover ao longo de um quadro branco para indicar quando planeavam passar por lá mais tarde. Se um avô ou uma ama fosse buscar a criança, os pais podiam avisá-los com uma Biro [semelhante às Bic] pendurada num fio. Nos últimos dois anos, a tecnologia tornou-se mais sofisticada, com um sistema eletrónico que permite fazer o check-in e o check-out da criança diariamente. Mas todos sentimos falta dos ímanes. «Acho que é espantoso a confiança que isto dá às crianças», diz Lise. «Nem sempre temos portões nas creches, por isso confiamos que uma criança de 3 anos não atravesse uma linha imaginária.»

No entanto, durante uma boa parte do dia, os mais pequenos não podem escapar. Os menores de 3 anos dormem a sesta no exterior, nos seus carros ao estilo Mary Poppins, debaixo de um abrigo ou numa «cabana de dormir». A visão de filas e filas de carrinhos de bebé foi surpreendente quando visitei pela primeira vez uma creche dinamarquesa, antes de ter os meus próprios filhos.

Então, conheci uma americana. Mãe de três filhos, com o cabelo sempre lustroso e uma odontologia nitidamente norte-americana, que também se encontrava a viver na Dinamarca. Uma tarde, juntei-me a ela na recolha à creche. Primeira paragem? Passar pelos carrinhos de bebé para ver se os seus pequenos ainda estavam a dormir.

— Estão presos para não poderem «fugir» — explicou uma amiga da mãe americana, apontando para os arneses em forma de rédea enrolados à volta dos bebés que ainda dormiam. — E alguns carrinhos de bebé até têm barras de madeira com dobradiças na abertura, para que fiquem quietos até que um educador os venha buscar! — Demonstrou, levantando e baixando um pequeno quadrado. — Como gaiolas para bebés!

Os meus olhos arregalaram-se. «Que é isto das escadas?»

— Ah! Bem, alguns bebés vikings são... tu sabes... Vikings — explicou ela. As escadas de três degraus encostadas a alguns carrinhos de bebé ajudam as crianças mais robustas a subir para dormir, poupando assim aos educadores uma ida ao quiroprata. Tudo isto parecia arcaico, mas, como disse a mãe americana, com um sorriso de Whitestrips: — Dormem a sesta que é um encanto!

Os bebés são frequentemente observados por educadores e há um monitor na cabana de dormir, para que os adultos possam ouvir o que se passa. Os menores de 3 anos aconchegam-se debaixo de um edredão e, eventualmente, de cobertores extra antes de serem cobertos com uma rede mosquiteira.

— No inverno? — perguntei eu, surpreendida: — Será que aqui há algum tipo de moscas vikings terríveis?

— Bem, não — disse-me a mãe americana —, mas eles têm gatos... — História verídica: uma criança acordou com um gato na cara antes de ser implementada a política de redes mosquiteiras durante todo o ano.

A maior parte das crianças são deixadas antes das oito da manhã e recolhidas entre as quinze e as dezasseis. O dia de trabalho na maior parte dos escritórios dinamarqueses é das oito às dezasseis, mas é frequente as famílias com dois pais trabalharem em equipa, de modo que um saia mais tarde enquanto o outro vai buscar as crianças. À sexta-feira, todos acabam o expediente ainda mais cedo. Uma vez tive de ir buscar o ruivo às 16 horas de uma sexta-feira e ele era a única criança que restava. A Pia estava pronta para o fim de semana e eu consumida pela culpa. Nunca mais o fiz. Mas, de um modo geral, há muito amor nos dois sentidos entre pais e educadores. O pessoal dos jardins de infância no centro da Dinamarca chegou a oferecer aos pais duas horas de acolhimento gratuito numa quinta-feira à noite, para que os pais pudessem ter um «tempo especial para adultos».

É muito bom. Mas há desafios. «Costumava haver um educador para cada quatro crianças em børnehave», diz Kitta, «agora é um para cada sete ou oito.» Esta questão foi trazida à atenção de todo o país num documentário televisivo de 2019 da emissora pública dinamarquesa DR. Hvem passer vores børn? ou «Quem está a tomar conta dos nossos filhos?» mostrou uma instituição onde três membros do pessoal foram deixados a tomar conta de trinta e uma crianças. Depois de o programa ter ido para o ar, houve protestos e foi criado um movimento de pais a nível nacional chamado «Hvor er der en voksen?» ou «Onde está o adulto?». Os ativistas começaram a lutar por um adulto para cada três crianças em vuggestue e um para cada seis em børnehave. Em 2020, o governo concordou em satisfazer as exigências... em teoria. Mas quando uma educadora está doente e entra uma substituta, o Statistics Denmark regista esta situação como dois funcionários distintos. O diretor da creche e o pessoal da cozinha também são contabilizados. «Precisamos de mais ajuda», concorda Pia. «Há que atrair mais pessoas para a profissão e manter os atuais pedagogos a trabalhar.» Mas a verdadeira ameaça ao sistema de creches dinamarquês é o trabalho administrativo.

— A coisa mais difícil que aconteceu no meu setor desde que comecei é que agora temos de documentar tudo — conta Pia —, desde a acumulação de linguagem até às capacidades motoras e à capacidade de partilhar e comunicar novas ideias. — Ela explica que o governo dinamarquês gosta de saber como se estão a sair os seus pequenos vikings —, mas esse tempo é retirado às crianças. — Kitta concorda que é um problema: — Quase metade quer deixar a profissão, porque agora há demasiada burocracia.

— Há também uma inclinação para a abordagem de «objetivos» da Europa Central e dos EUA — diz Pia. — Em torno de tudo, desde as competências sociais à linguagem e mais trabalho administrativo — o que significa menos tempo com as crianças.

— E de quem foi a ideia?

— Do governo, em parte. E, na verdade... — Pia hesita.

— Continua.

— Dos pais.

Oh.

— As expectativas dos pais são mais elevadas do que antigamente — concorda Lise, a viking de Valhalla. — Na Dinamarca, estamos a tornar-nos lentamente consumidores — tal como em todo o lado. Penso que a influência da televisão e da cultura americanas também se faz sentir aqui.

Então, como voltamos a um modo mais equilibrado?

— Bem, o que nos distingue é o facto de termos igualdade de oportunidades — diz Lise. — Temos de nos agarrar a isso.

— E limites — acrescenta Pia, ameaçadoramente. — Eu diria que os pais com menos de 40 anos são muito maus a estabelecer limites. — Ui. — Mas, como adultos, às vezes temos de ser firmes, como quando se trata de usar o fato de neve no inverno. — Ela refere-se ao macacão acolchoado com fecho, ao estilo Maggie de Os Simpsons, que todas as crianças dinamarquesas usam, em tamanhos diferentes, desde o nascimento até aos 10 anos. — Tens de usar o fato de neve, porque está frio. — Aqui não há discussão: é o Báltico.

Os limites também são cruciais para Kitta. Ela é famosa pela sua abordagem sem rodeios, firme mas justa, inspirando admiração e inveja em todos. (Porque é que, quando a Kitta lhes pede para calçarem os sapatos, eles calçam mesmo os sapatos? Porque é que quando a Kitta diz «lava as mãos», eles lavam mesmo as mãos? Quando a Kitta diz «não atirem pedras», eles param mesmo de atirar pedras!) Peço à Kitta que me conte os seus segredos. («É magia? É magia! Não é?»)

— Se calhar é por eu ser maior? Se calhar porque sou mais velha? — sugere ela.

Não é isso.

— Está bem, então: eu sei o que defendo e quando digo algo, é a sério. Não passo de A para B; sou coerente.

É isso.

— E também — acrescenta — gosto muito dos miúdos. É muito importante dizer quanto gostamos deles. Há dias em que pode parecer demasiado, mas depois um dos miúdos dá-nos um abraço e diz «obrigado» e tudo valeu a pena. Recebemos tantos abraços. Senti falta disso na prisão. Não havia tantos abraços.

Pois.

— E com os miúdos maiores, é possível dialogar. Eles são tão simpáticos e divertidos. — Presto atenção a isso. O meu filho mais novo (por dois minutos) está indignado, porque «todas as Páscoas, os maus prendem um homem chamado Jesus a um armário!», enquanto a minha filha, depois de ter aprendido que «todos nós viemos dos macacos», diz às pessoas que o seu irmão mais velho tem cabelo cor de laranja: «Porque ele veio de um orangotango.»

— É uma idade muito boa — sorri Kitta.

Fico feliz por ouvi-la dizer isto, uma vez que os gémeos têm o aniversário à porta e estou prestes a perguntar-lhe se não se importa de liderar uma visita de estudo para uma hora de bolo e caos. Esta é a tradição dinamarquesa em que o educador chega com a turma a casa do aniversariante (ou, no meu caso, de ambos) para enlouquecerem durante uma hora antes de o professor os levar de novo. Não há visitas, nem conversa fiada, nem convívio social, nem infração de noites ou fins de semana. E tudo isto não custa mais do que o preço de alguns petiscos. É uma equipa de aniversário ninja económica e eficiente: entra e sai.

— Não é como nos EUA — diz a mãe americana. — Lá, estamos a falar de bolos profissionais, animadores, marionetistas, princesas da Disney, um tipo com uma cobra assustadora...

— Quê?

— Oh, é só um tipo que fazia as festas nos Estados Unidos — acena com a mão em sinal de despedida —, mas a questão é que na Dinamarca é fácil! Os valores de produção das festas de crianças aqui são muito baixos. Como vais perceber...

Mal posso esperar.

Na semana seguinte, Kitta, dois colegas e dezoito pequenos vikings com idades compreendidas entre os 3 e os 5 anos, subiram a estrada com coletes de proteção para um jogo de uma hora de du kan ikke fange mig! (não me apanhas!) antes de demolirem 1 kg de bastões de cenoura, vinte e cinco pølsehorn (rolos de salsicha dinamarqueses), vinte palitos de queijo, três pimentos vermelhos, quatro pepinos e duas caçarolas de pipocas. Depois daquela que pareceu ter sido a hora mais longa e barulhenta da minha vida, a Kitta bateu palmas. As crianças alinharam-se aos pares, vestiram os seus coletes amarelo-fluorescente (que a minha filha já considera uma afronta ao seu estilo pessoal) e partiram. E eu também: para me deitar numa sala escura.

Deem uma medalha aos educadores de infância. Deem-lhes tudo o que quiserem. Eles merecem.

O que aprendi sobre como educar um viking... na creche

1. Abraçar o caos. Sim, é barulhento, mas está a fazer-lhes bem (provavelmente). A mistura de idades acontece entre família, com as crianças maiores a tomar conta das mais pequenas (ou, melhor, espero que seja isso que acontece).

2. As crianças precisam de limites. A Dinamarca é uma sociedade baseada em regras e os dinamarqueses tendem a segui-las em nome da «comunidade». Ninguém atravessa a estrada sem que o homem/mulher/viking verde se acenda (as passadeiras dinamarquesas são mais inclusivas). E a «liberdade dentro de limites» é algo que passei a apreciar. Dentro de uma estrutura, sinto-me livre e segura (oh sim, e os meus filhos também).

3. As festas infantis ao estilo dinamarquês são o caminho a seguir. Pergunto-me se poderei baixar ainda mais a fasquia no próximo ano. Talvez apenas um: «Juntem-se a nós no parque para brincar no sábado de manhã! Nada de prendas, por favor, mas tragam lanche.»

4. As pessoas mais pequenas e os seus cuidadores brincam ao ar livre durante todo o ano na Dinamarca. Independentemente da chuva, do nevoeiro gelado e o geral tempo de fim do dia. O quê? Como? Porquê? Espera e verás...