Além da central de Almaraz (Cáceres, a 100 quilómetros de Portugal), também a central de Ascó (Tarragona, Catalunha) utiliza nos seus reatores peças produzidas numa forja da fábrica francesa Le Creussot, fornecedora da AREVA. As irregularidades foram detetadas, em abril, nos 'dossiers' de fabricação da forja usada para produzir os componentes mais tarde usados nos reatores destas duas centrais.
Na prática estas irregularidades consistem “em discrepâncias, modificações ou omissões nos parâmetros de fabricação ou nos resultados dos ensaios obtidos, e que não estavam refletidas nos ‘dossiers’ de fabricação dessas peças”, indicou o CSN num comunicado divulgado quinta-feira.
Em concreto, as pecas provenientes da forja com irregularidades foram usadas para fabricar os geradores de vapor 2 e 3 da unidade 1 e o gerador de vapor 3 da unidade 2 da central nuclear de Almaraz, bem como os geradores de vapor 1 e 2 da unidade 1 e o gerador de vapor 1 da unidade 2 da central nuclear de Ascó. Também está em causa o rebordo da tampa do reator da unidade 2 de Almaraz.
Estas peças têm uma composição química (em percentagem dos metais que as compõem) diferente dos vários registos realizados durante o processo de forja.
“Encontraram-se dados diferentes sobre o conteúdo, em percentagem, de elementos como o alumínio e o manganês, nem sempre dentro do intervalo definido na especificação de compra. Ainda assim, os valores registados em todos os casos estavam dentro dos limites especificados no código usado na fabricação (código ASME)”, indicou o CSN.
De acordo com a investigação da CSN, tanto a empresa espanhola Equipos Nucleares – que adquiriu os componentes à forja com irregularidades – como a AREVA – que forneceu os geradores de vapor – como a Westinghouse – que forneceu a tampa do reator nuclear de Almaraz - concluíram (através de testes de metalografia) que estas irregularidades no programa de controlo de qualidade “não têm impacto na integridade estrutural dos componentes mencionados”.
Assim, e “face à informação existente até à data”, a Direção Técnica de Segurança Nuclear “conclui que os componentes afetados são aceitáveis para que continuem a funcionar sem restrições”.
Já a organização ecologista Greenpeace considera que o comunicado do CSN “confirma que as centrais de Almaraz e Ascó operam com peças de qualidade defeituosa”, pelo que “manifesta a sua falta de confiança na Direção Geral de Segurança Nuclear” espanhola.
A Greenpeace reitera ainda o apelo para que as autoridades políticas de Espanha não “prolonguem a vida das centrais nucleares” e reforça que se devem manter os mais “apertados controlos de segurança”.
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