“Podemos sempre dizer que falta mais e ter uma ambição infinita, isso é justo, mas não podemos dizer que não há reforço nestas áreas, isso nunca permitirei que seja feito e que as discussões sejam parciais. Temos muita tendência para o caso concreto e de não ver o enorme investimento deste Governo na ciência”, afirmou Mário Centeno, na comissão parlamentar de Trabalho e Segurança Social.
O governante respondia ao deputado centrista Anacoreta Correia que o questionou sobre o manifesto de mais de 2.000 investigadores sobre a política de Ciência, que também foi assinado pelo ministro da Ciência, Manuel Heitor.
Centeno destacou que, face ao momento em que o atual Governo socialista chegou ao poder, em final de 2015, há hoje “mais 2.000 trabalhadores na Ciência e Tecnologia”, considerando que foi recuperado o que se perdeu em quatro anos de governação PSD/CDS-PP (2011-2015).
Em final de 2011, disse Centeno, a Ciência e Tecnologia tinha 39.113 trabalhadores em Portugal e em dezembro de 2015 eram 37.352, valor que Centeno diz que o atual Governo aumentou para 39.301 trabalhadores (entre cientistas, investigadores, assistentes operacionais, professores universitários) em março deste ano.
O ministro das Finanças disse ainda que a “carreira dos investigadores compete exclusivamente às instituições” e que há processos que demoram devido ao rigor que tem de ser colocado nos concursos de contratação.
“Estamos a falar de concursos para contratos de trabalho com a administração pública, esses concursos têm de ser feitos num quadro de vigor, são dinheiros públicos e devem todos concorrer em igualdade de circunstâncias. São complexos, não correm à velocidade que nenhum dos interessados gostaria que acontecesse”, afirmou.
O ministro da Ciência, Manuel Heitor, afirmou na terça-feira à Lusa que assinou um manifesto pela ciência porque partilha os mesmos objetivos, assumindo que mais financiamento e menos burocracia estão longe de ser atingidos.
"Partilho aqueles objetivos (...). Esta é também a minha luta (...). Quero fazer um país com mais ciência, a luta contra a burocracia e o aumento do financiamento fazem parte da minha agenda", assinalou, enaltecendo o "ativismo dos cientistas" ao lançarem o "Manifesto Ciência Portugal 2018".
O documento, a circular na internet e subscrito por mais de dois mil cientistas, incluindo o ministro, que assinou na qualidade de investigador do Instituto Superior Técnico, pede "financiamento consistente e transparente", menos burocracia e contratação "regular e coordenada" de investigadores baseada no mérito.
A iniciativa partiu de mais de 30 investigadores, incluindo Elvira Fortunato, Maria Mota, Mónica Bettencourt-Dias, Marta Moita, Arlindo Oliveira e Helder Maiato, que solicitam ao Governo e ao parlamento que "reconheçam urgentemente a necessidade de traçar um rumo de médio e longo prazo para a ciência em Portugal".
O manifesto, que Manuel Heitor considera "pouco incisivo" e "mais conservador do que o Governo", por não responsabilizar mais as instituições pelo reforço do emprego científico, refere que há "obstáculos significativos" que impedem "os investigadores de planearem a sua atividade, levando uns a saírem de Portugal e castrando o potencial dos que ficam, diminuindo assim de forma irreversível a competitividade".
"Tenho encontrado muitos obstáculos, por exemplo ao emprego científico, nas próprias instituições", sentenciou o ministro, reconhecendo que é necessário "mais financiamento público" para a investigação, muito embora tal implique "responsabilizar as instituições pela procura e diversificação de fontes de financiamento".
No manifesto, é apontada a "ausência de calendarização plurianual" de concursos para projetos de investigação, a "imprevisibilidade de financiamento", a "crescente burocratização" e a "alteração sistemática de regulamentos e formulários".
Manuel Heitor responde que, "para a haver regularidade" nos concursos dos projetos de investigação, "é preciso o orçamento estar sempre a aumentar", sublinhando a "dependência excessiva" de Portugal de fundos comunitários, "que têm regras próprias".
O ministro da Ciência argumentou que a aplicação de um "regime de exceção" ao Código de Contratos Públicos (CCP) para a investigação, pedida no manifesto e com a qual disse concordar devido à especificidade da atividade, será "uma decisão coletiva" do Governo que pressupõe uma "negociação com a Comissão Europeia".
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